Bem que o Walter Pomar me disse: “os caras não vão soltar o Lula”. E me chamou de ficcionista em função da crônica aqui publicada “Lula livre, mas inelegível”. O bem informado e ilustrado Pomar sabia que a coragem dos ministros do STF não chega a tanto… e que depois desta perseguição toda, o caráter conciliador do Lula teria perdido terreno sob outras virtudes suas.
Pois eu fui levado à análise de que os ministros da 2ª. turma, composta por quatro dos ministros que se manifestaram em plenário contra a prisão sem trânsito em julgado, manteriam a coluna vertebral e não se submeteriam, como fez Rosa Weber, à tal colegialidade, já que se espera de juízes que julguem segundo sua fundamentada interpretação do direito positivo.
Não foi o que aconteceu: todos os quatro eminentes senhores, empertigados mas vergastados pela “colegialidade”, tornaram-se outros tantos Rosa Weber: sou contra, a lei diz que não, mas me inclino subservientemente ao que ditou a escassa maioria, por voto de minerva da Abadessa do STF.
E o recurso apresentava uma razão sólida: o decreto de prisão do apressado Dr. Angélico Sérgio Moro veio antes mesmo do julgamento de recursos em tramitação no TRF-4. Não adiantou! A colegialidade está assim do direito positivo.
Assim, perde o golpe de dar um “golpe de mestre”: acabar com a movimentação em torno da liberdade de Lula. E perde a nação a possibilidade de qualquer conciliação possível. Conciliação que não pode ser capitulação, ao modelo dos quatro ministros da 2ª. Turma do STF, mas produto de projeto para o país sair do atoleiro em que está e do qual poderá não sair mais com o aprofundamento da execução da proposta de governo defendida por Aécio Neves na última campanha eleitoral.
Neste sentido, os batedores de panela mostram também eles que são como os quatro cavaleiros da desesperança: votaram no Aécio Neves, bateram panelas para tirar Dilma e agora estão insatisfeitos com o programa que o verme Michel Temer, acolitado pelo ex-PSDB, agora no PMDB, o fantasma Henrique Meirelles, vem tirando do papel e tornando realidade.
Assim, tenho que reconhecer: errei na análise porque confiei na consistência e na coluna vertebral de ministros do STF. Aprendo a lição: estas coisas não existem nas cortes.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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