O jornalGGN (Nassif) e o DCM estão prestando um serviço público inestimável com a sua série de reportagens sobre a “indústria da delação premiada”, apresentando sequencialmente um conjunto de fatos que demonstram que as negociações com os delatores e as narrativas a serem por estes apresentadas não têm nada a ver com a busca da verdade, mas com a confirmação de uma narrativa previamente estabelecida pelos supostos investigadores (delegados, procuradores e juízes).
Nas salas dos procuradores, onde a costura se tece, há uma clareza meridiana: eles já sabem a verdade, já que messiânicos, e como eles têm que dar um colorido de legalidade para a cruzada da fé que os move, precisam de testemunhas (porque havendo testemunha, isto é, delator, não precisa mais nada, porque se pode condenar com base em “atos inespecíficos” em “tempos indeterminados” como mostra a sentença condenatória de Lula assinada pelo angélico Dr. Moro).
Precisa testemunhas? Vamos atrás delas… e pedem prisões preventivas para fortalecer psicologicamente as testemunhas desejadas. Se este reforço não for suficiente, ameaçam-se os familiares. Se ainda assim não surtir efeito, deixa-se o futuro delator apodrecer na prisão preventiva até que “ganhe juízo”.
Quando uma destas testemunhas resolveu se arrancar, indo para a Espanha, começou a aparecer a ponta da “indústria” desenvolvida nas salas e salões da República de Curitiba. Tacla Duran acusou explicitamente que rolava dinheiro na indústria (afinal, em que indústria não rola dinheiro?): o amigo e padrinho de casamento de Moro, o advogado Carlos Zucolotto Jr se prontificou a negociar mais vantagens pela delação de Tacla Duran, mas precisaria de um pouco de incentivo: a multa antes fixada em US$ 15 milhões seria reduzida para US$ 5 milhões, e mais um terço disto como honorários, “Mas por fora que tenho que resolver o pessoal que vai ajudar nisso”. Foi-se a primeira merda para o ventilador…
Na última reportagem GGN/DCM, focam-se as mudanças de narrativa da testemunha Glaucos da Costa Marques. Acontece que os procuradores já haviam decidido: o apartamento em São Bernardo, em frente àquele em que reside Lula, é de propriedade de Lula! Ponto. A verdade já estava estabelecida e a narrativa tinha que seguir esta verdade. Este apartamento foi alugado pela União no período em que Lula era presidente e se deslocava com frequência para São Bernardo. Era usado pelos seguranças do presidente e para reuniões. Depois que Lula deixou de ser presidente, o apartamento acabou sendo comprado por Glaucos da Costa Marques, que o alugou para a família de Lula (contrato em nome de Dona Marisa Letícia). Então lá foi Glaucos declarar: o apartamento não é meu, é de Lula conforme o script elaborado previamente, a verdade estabelecida por decreto divino. Pois não é que Lula apresentou os recibos de aluguel, mostrou que o Sr. Glaucos declarava para a Receita Federal o recebimento dos alugueis, tudo dentro da lei… Então foi preciso dizer que “os recibos eram falsos” e que teriam sido todos assinados quando Glaucos estava hospitalizado no Sírio-Libanês em São Paulo. O advogado de Lula forçara os recibos… Mas aí o Hospital declarou que o advogado jamais tinha visitado o paciente!!! Caiu a nova narrativa!!! Então exigiu o Sr. Moro os recibos originais: pois não é que eles existem e foram entregues e apensados ao processo!!! Porra, assim não dá. A verdade não pode ser descartada uma vez tenha sido afirmada pelos profetas da cruzada! De alguma forma seria necessário alterar a narrativa. Então veio o angélico determinar não uma perícia técnica nos recibos originais, mas que Glaucos fosse ouvido novamente… quer dizer, há outro script sendo preparado para, de alguma forma, salvar a “verdade” de que Lula é dono do apartamento, mas que pagava aluguel por bondade!!! Acontece que há movimentações financeiras inexplicáveis nas contas de Glaucos, pai de diretores do famoso departamento de propinas de uma das empreiteiras!!! E os depósitos eram “empréstimos” milionários que lhe faziam estes bons filhos, estes ex-diretores!!! Então Glaucos está sendo convidado a optar na nova narrativa: ou diz a verdade e implica seus filhos em “maus feitos”, ou diz que estes dinheiros todos eram de Lula. Alguém duvida de qual será a versão???
E tudo vai correndo bem na indústria, incluindo as gravações de Temer e Aécio, gerenciadas pelo MPF! Uma indústria rendosa em holofotes e mais penduricalhos…
Mas aí, finalmente, apareceu um ministro do STF, Ricardo Lewandowski, para afirmar que não cabia aos procuradores em seus gabinetes decidirem o que é da ordem e do poder judicante dos senhores juízes: somente eles podem definir penas e multas em suas sentenças…
E agora, será que o STF pretende mesmo uma pálida retomada do estado de direito? Vai sustentar a posição, ou o angélico Dr. Moro determinará que os ministros do STF se recolham a sua insignificância?
Comentários