É sabido que, depois da Constituição de 1988, não temos apenas uma política de aposentadorias, mas um sistema geral de seguridade social que incluíu, com direitos à aposentadoria, trabalhadores rurais e pessoas com necessidades especiais que jamais contribuíram com o INSS. E o custo desta seguridade social foi previsto constitucionalmente com várias arrecadações que não incluem somente a contribuição sobre a folha de pagamentos ou as contribuições de trabalhadores autônomos.
No entanto, as arrecadações foram desviadas para outros fins, como desviados são os recursos que foram obtidos pelas inúmeras privatarias cujos recursos ninguém viu, ninguém sabe onde está e continuamos agora, neste governo ilegítimo, a não aparecer!
Mas não faltam as “informações técnicas” do atual Ministério da Fazenda assustando os brasileiros, para justificarem o que a população não quer engolir. A mais recente: o aviso de que se não houver modificação no sistema previdenciário, cada brasileiro terá em poucos anos uma dívida de R$ 110 mil.
Por que será que os técnicos do ministério não começam a pensar a sério sobre a notícia de ontem de que a renda média de quase 50% dos brasileiros é inferior ao salário mínimo? Por que não começam, de uma vez e somente uma vez na vida, a pensar no Brasil e se imaginarem brasileiros e não lacaios do sistema financeiro?
Certamente não podem fazer isso: sua função específica, enquanto intelectuais do sistema, é construir legitimações para a manutenção da mais vergonhosa e explícita corrupção brasileira: a espoliação de tudo o que é nosso (recursos naturais como minérios, petróleo e água, incluindo a propriedade da terra), e sorvendo para si o produto do esforço de cada brasileiro na forma de “rendas” sobre uma dívida mil vezes já paga.
Acontece que estes “técnicos”, como de resto muitos outros intelectuais (particularmente economistas) associados ao sistema midiático, que espalha suas “tecnicidades” como verdades, fizeram votos de proferir sempre o “discurso da servidão voluntária” legitimando toda exploração, desde que a elite permaneça a mesma e eles ganhem algumas migalhas do que lhe sobra, porque seus salários são migalhas perto do que açambarca, sem ninguém lembrar que é crime, a elite do verdadeiro poder!
Estes mesmos técnicos foram os que elaboraram, no mesmo setor, a vergonhosa medida provisória de renúncia fiscal a favor das grandes petroleiras do mundo: uma recusa de apenas um trilhão de reais!!! A renúncia é de tal monta, que somente no primeiro ano as petroleiras receberão de volta todo o valor que dispenderam para comprar, a preços de banana, os campos leiloados do nosso pré-sal!
Foram eles também que alertaram os novos trabalhadores intermitentes: terão que complementar seus pagamentos ao INSS se receberem menos do que o salário mínimo! Se isso tudo não fosse trágico, era de dar boas risadas pela absoluta cegueira dos “especialistas”.
Dão sorridentes tudo, legitimam com seus estudos supostamente “científicos” toda a exploração, e depois cobram dos brasileiros de baixa renda o custo a esbórnia fiscal que provém efetivamente das “renúncias”. Se há renúncia de arrecadação em benefício dos ricos, por que sanha de arrecadar dos mais pobres o que lhes falta para viverem? Que país, além do Brasil, destrói a si mesmo para se vangloriar que estão no mercado internacional, esta palavra que esconde a pilhagem do capitalismo financeiro no mundo inteiro? Vai ver se a Alemanha faz isso! Vai ver se a Noruega, que tem petróleo, dá de presente às petroleiras internacionais suas reservas e ainda financia a juros subsidiados suas atividades e acrescenta um presentinho de um trilhão de reais na forma de renúncia fiscal. Os “técnicos” e “especialistas” noruegueses não têm complexo de inferioridade por serem noruegueses. Os nossos gostam de ser vira-latas a serviço do capital, preferencialmente externo. Desde que sobre bastante para a manutenção da mesma elite composta pelas mesmas famílias desde que o Brasil é brasil.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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