Quando estou diante da televisão nos horários de notícias deparo cenas nos palcos exuberantes e nos salões nobres, de arquitetura espacial gigantesca, dos plenários do Senado e da Câmara e nos salões luxuosos das reuniões de ministros no Palácio do Planalto e vejo rostos e penteados de homens – poucos cabelos e via de regra brancos – rigorosamente engravatados e de ternos (fatiotas para os gaúchos) de corte e costura no estilo clássico, discursando, gesticulando, encenando atos de uma postura política quase exclusivamente de homens. Rarissimamente vejo rostos maquiados, embelezados, com cabelos bem penteados, com brincos exóticos nas orelhas, colares brilhantes nos pescoços, vestidos finos nos corpos elegantes de mulheres.
A ausência das mulheres na política e principalmente a não militância nos partidos políticos é um fato histórico tão antigo quanto o Estado. Desde o princípio da história, a política era papel e direito exclusivo dos homens até outro dia. Na realidade material de hoje, continua quase na totalidade somente de homens. Mudou na teoria por força da lei de direitos iguais de homens e mulheres. O poder de governar os destinos da humanidade e a política – inclusive perante Deus e em assuntos da Igreja – foram inventados pelos homens, só para os homens. Muito recentemente na história política, com os movimentos pela emancipação das mulheres após a Segunda Guerra Mundial, com a invenção e instalação de governos democráticos, algumas mulheres mais rebeldes e corajosas passam militar em partidos e participar da política, inclusive como candidatas a cargos eletivos. Além de discriminadas pelos homens, as mulheres tinham vergonha de serem políticas. Segundo um dístico, política é coisa suja, desonesta. Partidos políticos, nem pensar, são todos iguais: vales de esgoto. É o pensamento predominante, principalmente frente às maracutaias políticas que se articulam pelo alto na composição do poder. Porém, existem mulheres que não tem mais vergonha de serem políticas. Embora, ainda muito ausentes na militância de partidos políticos. Estes, os partidos políticos em quantidade absurda (mais de 30, isso só no Brasil), mais interessados nos benefícios políticos, nos privilégios e regalos financeiros dos seus “donos” poderosos, não são espaços e agentes de formação política e nem uma oportunidade para a renovação de políticos de novo tipo. Os partidos políticos que temos não cativam os jovens para a militância, até por ausência de compromissos ideológicos.
Neste tempo, no cenário mundial, um pouco mais de meio século da história contemporânea, houve avanços de participação de mulheres na política. Basta ver as primeiras ministras da Inglaterra e Alemanha e as presidentas do Chile, Argentina e do Brasil. É claro, a rainha Isabel da Inglaterra, rainha sem reino, não manda, não governa. Na escala local constatamos uma ausência quase total das mulheres na política. Nas Câmaras, poucas vereadoras. Nas prefeituras, quase nenhuma prefeita, nem vice. Poucas mulheres candidatas à prefeita. Poucas deputadas estaduais, federais e senadoras. E o quadro para as eleições de 2018, uma única pré-candidata. Já para a Assembleia, a Câmara e o Senado, a sensação é de total ausência das mulheres. Quantas senadoras temos? Quantas deputadas federais? E quantas deputadas nos estados? Quantas vereadoras? Assim, o cenário de candidatas é desolador.
Há caminhos para mudar este quadro? Ou, como as mulheres podem militar nos partidos políticos e participar como candidatas nas próximas eleições? Pelo engajamento político. Precisam participar e militar no partido político de sua preferência ideológica. A consciência política se forma pela participação no partido político. O partido político na democracia é o “Moderno Príncipe” na acepção de Gramsci. A consciência não cai do céu, e nem virá de presente dos homens. Há um desejo nacional muito forte e vivo de construção de uma nova ética social e uma nova ética política. Este é um novo espaço para a inteligência e a sensibilidade política das mulheres.
Esta é a nova percepção que pode ser comandada por uma ética também nova da participação das mulheres na política. Quem sabe, pensar num Instituto de Formação Política de jovens, mulheres, trabalhadores, professores…
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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