O juiz de Curitiba, cuja pose o faz membro daquela categoria de juízes que não pensam que são deuses, mas que sabem que são deuses, razão suficiente para trata-lo de Altíssimo e cair na idolatria, vem dando provas sobejas – provas é sempre o que lhe falta – de que não é mais juiz, mas o deus do Antigo Testamento, um deus vingativo e carrancudo… Obviamente enviará o filho para nos salvar!!!
O Santo Juiz, com altares garantidos na Rede Globo, é contumaz no sequestro da liberdade, decretando prisões preventivas cuja duração varia segundo a capacidade de cada qual em resistir à tortura, aceitando rapidamente a proposta de ser delator, ou dando um tempo até o esgotamento psicológico, como aconteceu com Leo Pinheiro, que assinou tudo e disse tudo o que juiz e procuradores queriam ouvir, sem qualquer prova, porque na justiça em que reina Sérgio Moro, o que diz um delator é a Santa Verdade da Santa Inquisição Curitibana.
Pois não contente com ser sequestrador da liberdade, torna-se o juiz também um sequestrador de salários, no caso, de proventos de aposentadoria!!! E arresta inclusive a moradia de sua vítima preferida, o ex-presidente Lula. É estarrecedor! É sem compostura! É a maldade encarnada! É o Altíssimo do Inferno!
E por fim se mostra também sequestrador suposto de nossa capacidade de pensar! Sua comparação de “usufrutuário” entre Eduardo Cunha e suas contas no exterior e o apartamento tríplex de Guarujá atribuído a Lula pela sentença é simplesmente espantosa. Das contas no exterior, Eduardo Cunha usufruía sem ser o titular – com os grandes gastos da inocentada esposa numa sentença em que o juiz se mostrou um machista de baixo calibre, porque defendeu que mulher não tem inteligência suficiente nem para desconfiar de onde tira o marido sua dinheirama que ela gasta a torto e a direito. Ora se ele usufruía e não era o titular, então Lula “usufruindo” do apartamento do Guarujá, é seu “proprietário de fato”.
Com um raciocínio assim tão lógico, tão claro, tão sofístico, não é preciso sequer provar que haja “usufruto” do apartamento! Afinal, o Lula foi até lá como um candidato a comprador uma vez, logo usufruiu do apartamento. E D. Marisa foi duas vezes, imagine só: nem é usufruto, ela se locupletou com o apartamento…
Pensemos um pouco:
- Eduardo Cunha não é titular de contas no exterior
- Eduardo Cunha usufruiu dos recursos depositados em contas no exterior
- Logo: Eduardo Cunha não sendo titular, é o “proprietário de fato” das contas de que usufrui.
Agora consideremos o raciocínio fantástico e de efeitos mediáticos:
- Lula não é o titular do imóvel, o famoso tríplex do Guarujá
- Lula usufrui do imóvel: todos o viram no prédio uma vez, filmaram (afinal ele é figura pública) e isto é usufruto do usufruto da propina da Petrobrás, obtida por ações não especificadas em benefício da OAS praticadas em tempo indeterminado
- Logo: Lula não sendo o titular com escritura e registro, é o “proprietário de fato” do apartamento.
Um luxo de raciocínio. Casos tão semelhantes, que chegam à beira da identidade. Uma comparação digna de figurar nos manuais de instrução: como fazer para se fazer passar por sábio e ganhar manchetes da Rede Globo!!! Porque não se trata de Retórica, coisa séria, mas de traquinagem verbal do Altíssimo dos Infernos.
Ah! Como precisávamos de um verdadeiro combate à corrupção, e não de uma corruptela que usa este combate necessário como capa para encobrir perseguição política descabida. Na verdade, no fundo mesmo, queria é que Sérgio Moro e seus idólatras fossem todos a puta que os pariu! Ops, a mãe não tem nada a ver, ou tem?
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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