Vivemos e constituímos uma sociedade capitalista neoliberal contemporânea de assustadora inquietação social e instabilidade política. Uma sociedade onde e tudo – absolutamente tudo – inclusive os crimes e as doenças, é mercantilizado e monetizado. Isto é, produz lucros e capital nas mais desiguais relações sociais de produção e de consumo. Quanto maior o poder de consumo, maior necessidade de produção. Maiores lucros para o capital.
Nesta sociedade ultraneoliberal, o capital atua e age livremente, sempre sob a graça das bençãos e sob a proteção suprema dos três poderes, estes sempre em plena e permanente harmonia e amorosa fidelidade matrimonial – para o bem dos políticos, dos juízes, ministros, promotores e para o bem do capital. Esta sociedade não nasceu espontânea e naturalmente, por força das leis da genética darwiniana da história dos homens. Ela é inventada e reinventada às custas de cada crise.
Os intelectuais do neoliberalismo inventaram e instituíram uma sociedade do “Estado mínimo”. A lei suprema é a minimização do Estado. Para garantir a produção e reprodução do capital mediante o lucro, o neoliberalismo vale-se da estratégia da privatização. Privatiza tudo o que dá lucro.
No Brasil de hoje – 2019 – o Estado sob o comando do presidente Bolsonaro, privatiza, sem limites, sem princípios éticos, morais de respeito à vida, os bens naturais – terra, minérios, petróleo, madeira de matas nativas; privatiza reservas e fornecimento de água, produção e distribuição de energia, habitação social; privatiza a educação, a saúde, a produção da ciência, das artes, da pesquisa, da produção intelectual… Estas são as estratégias praticadas para reinventar e manter o crescimento sem limites da produção do capital e dos lucros das elites no poder, frente a cada nova e catastrófica crise que abala o Brasil.
Para repassar o dinheiro público, dinheiro do Estado, portanto de todos, Bolsonaro repassa, na forma de emendas do orçamento, aos deputados e senadores mais de quatro bilhões de reais e em troca tem a aprovação da reforma da Previdência e de outras medidas antipopulares.
Aos juízes, desembargadores, promotores e ministros do Supremo aumenta os salários e concede outras regalias para que arquivem os milhares de processos de crimes de políticos, inclusive dele e dos seus filhos, apadrinhados… Para tais falcatruas usa dinheiro da educação – bolsas de estudo, projetos de pesquisa – da saúde, dos programas de controle e de proteção ambiental. Nestes dias, o MEC subtraiu três bilhões das universidades federais e dos institutos de pesquisa. Vai continuar desqualificando a educação e sucateando as escolas públicas rurais e das periferias.
Aí, em pose de valente, Bolsonaro proclama indecências para cativar e acalmar as massas de telespectadores, sempre em situação de ataque para causar medo, temor, apavoramento. É de estarrecer as mentes e os corações até dos mais calmos e alienados com a espetacularização das falas.
“O Brasil inteiro está sem dinheiro”. Aí vem a pergunta: culpa de quem? De quem sabe governar? E a fala continua: “Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Os ministros estão apavorados”. Só os ministros estão apavorados? E nós, não? Por acaso, estamos rindo, nos divertindo felizes por conta das mentiras e das trapaças dos ministros? E por falta de dinheiro, “o Exército vai entrar em meio expediente. Não tem comida para o recruta, que é filho de pobre”. É filho de pobre, logo pode ficar sem comida. Esta é a lógica do neoliberalismo por conta e força de um cérebro atrofiado.
Agora, acusado de nepotismo, elevou a fala para o topo da gozação. “A campanha acabou para a imprensa. Eu ganhei. A imprensa tem que entender que eu, Johnny Bravo, Jair Bolsonaro, ganhou, porra. Ganhou, porra!”.
Perfeito! Faz jus à comparação, Johnny Bravo com músculos em excesso e cérebro em miniatura.
Até quando vamos ter que ouvir e ver esta espetacularização – governo da sociedade do espetáculo? Até quando vamos lutando e resistindo?
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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