Para Olívio Dutra, Flávio e Maria Bettanin e Jane Batista
Às tertúlias da juventude
Queria a palavra sem alamares, sem
chatilenas, sem suspensórios, sem
talabartes, sem paramentos, sem diademas,
sem ademanes, sem colarinho.
Eu queria a palavra limpa de solene.
Limpa de soberba, limpa de melenas.
(Manoel de Barros)
Haveria uma palavra assim despida, com que inaugurar uma mensagem sem com ela carregar o peso do vivido? Vivemos este paradoxo: ainda querer o inédito, inaugurar o novo, mas o desenho não pode ser traçado se não com as tristes palavras nossas que nos ocupam e com que nos ocupamos.
Retornando ao afazeres diários da vida que se leva, leio um título e um resumo escrito às pressas antes da viagem.
O título: Mensagem aos leitores que vão nascer
O resumo: Tomando Brecht por interlocutor privilegiado, tal como ele soou em português na tradução de Geir Campos, aproximo os poemas “Aos que vão nascer”, “Rosa de Hiroshima” e “Mensagem à poesia”, estes de Vinícius de Moraes, para refletir sobre algumas âncoras metafóricas ou alegóricas com as quais construímos sobrevivências nos entreatos de estados prosaicos e poéticos, sabendo que só nos resta tecer um “Teologia do traste” (Manoel de Barros) para reencontrar grandeza nos desperdícios dos pequenos nós cotidianos.
Interrogo-me: o que estava se passando quando escrevi este resumo, acossado pela pressa da organização do COLE e pela história de sempre nele estar, uma história a que não consigo dar um ponto final correto?
Reescrevo o título, e a tela permanece em branco por vários dias. As máquinas, ainda que sofisticadas, demandam mãos com dedos que dancem sobre um teclado: as letras se deixam enfileirar, mas não se enfileiram sozinhas, obrigam-nos a arranjá-las e rearranjá-las segundo uma lógica que as ultrapassa e que, liberando as letras de dizerem a si mesmas, aprisiona nossos dedos em frente do teclado.
Que mensagem escrever? Que leitores vão nascer? Com que palavras rasgar o que nos fez? Se não é possível esvaziar as palavras de seu presente, melhor mergulhar sob o peso de seus sentidos para que conosco permaneçam afogadas no fundo do leito do rio para abrir espaço a novos sentidos com que os que vão nascer as engravidarão por seu turno. História que se tece. Como história, só temos a deixar nossos fios do presente, úteis ou inúteis que sejam. Seria sobre estes fios que pensava quando encaminhei o resumo de uma fala possível?
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
(Carlos Drummond de Andrade. Mãos Dadas)
E eis as primeiras ancoragens de uma geração que se fez sob os signos da REALIDADE, do PRESENTE, funestos e taciturnos; da ESPERANÇA e das MÃOS DADAS, sonhos e utopias. Empreendemos nossa viagem por entre as análises de conjuntura, mistura de sonho e realidade, afinal esta somente se desvenda com os instrumentos que aquele pode fornecer. E não se podia esmorecer: havia que crer e fazer. O porto distante era o encontro entre sonho e realidade; a possibilidade enfim de gozer no mundo real o encanto do mundo sonhado. Sonho antigo…
Seria sonho ou não? … Depois vós me direis…
Um homem… era um grego, era um persa, um chinês,
Ou judeu? … Eu não sei … tão somente me lembro
Que era um ente verídico e grave, que era membro
Do partido da ordem…
E ele diz então:
“Esta morte jurídica imposta a um charlatão,
Ferindo este anarquista é soberana e justa…
Faz-se mister que a ordem e a autoridade augusta
Defendam-se… Tais cousas hoje ninguém discute.
Depois, se a lei existe é para que se execute…
Verdades santas há de origem tão divina
Que devem sustentar-se até na guilhotina.
Este inovador pregava a filosofia
Do amor e do progressos… histórias… utopia!
Ria do nosso culto antigo e namorado.
Era um destes p’ra quem nada existe sagrado,
Nem respeitam jamais o que o mundo respeita…
P’ra lhes inocular doutrina assaz suspeita
Ele ia procurar nos bordeis crapulosos,
Boieiro e pescador, patifes biliosos,
Imundo povilhéu não tendo eira nem beira…
E entre canalha tal pregava de cadeira.
Jamais se dirigia aos homens de dinheiro,
Aos sábios, aos honrados, ao honesto banqueiro.
Anarquizava as massas… e com dedos p’ra o ar
Enfermos e feridos entendia curar
Contra a letra da lei.
Não para aí o horro…
Ressuscita os mortos… este vil impostor
Tomava nomes falsos e falsas qualidades
E errando ora nos campos, ora pelas cidades,
Ouviam-no dizer: “Podeis em acompanhara!”
Ora, falai, senhor! Não é mesmo excitar
Uma guerra civil entre os concidadãos?
Via-se ir ter com ele horrorosos pagãos,
Que dormiam nos fossos a acompanhar-lhe o rastro:
Um coxo, outro com o olho escondido no emplastro
Outro surdo, outro envolto em pústulas tenazes.
Vendo este feiticeiro andar com tais sequazes
O homem de bem entrava em casa envergonhado…
Um dia… eu já nem sei quando isto foi passado,
Numa festa… pegou de um chicote, imprudente!
E se pôs a expelir, mas muito brutalmente,
Gritando e declamando, honestos mercadores,
Que vendiam ali pássaros, aves, flores,
E outras coisas, que mesmo o clero permitia
E de cujo produto uma parte auferia.
Uma mulher sem brio seguia-lhe na trilha.
Ele ia perorando, abalando a família,
A santa religião e a sociedade,
Decepando a moral e a propriedade.
O povo o acompanhava, e o campo estava inculto.
Era ousado demais… Chegava seu insulto
Até ferir o rico!…
E revoltava o pobre
Sempre, sempre a dizer que todos que o céu cobre,
São irmãos, são iguais… que não há superiores,
Nem grandes, nem pequenos, ou servos, ou senhores,
E que o fruto é comum…
Té ao clero insultava!…
Bem vê, bem vê, senhor, que este homem blasfemava.
E tudo isto era dito assim em meio à rua,
A uma canalha vil, grosseira, imunda e nua.
Preciso era acabar, as leis eram formais…
Foi, pois, crucificado…”
Ouvindo frases tais
Ditas com são singela e adocicada voz…
Eu surpreso exclamei: Senhor, mas quem sois vós?”
Ele me respondeu: “Preciso era um exemplo;
Eu me chamo Elisab, sou escriba do templo…”
“Porém de quem falais… Dizei-me… de quem é?”
“Meu Deus! Deste vadio… Jesus de Nazaré”.
(Palavras de um conservador a propósito de um revolucionário. Victor Hugo. Tradução de Castro Alves, 01.08.1868)
Mais ancoragens: uma leitura outra do evangelho, outra tão antiga e tão desconhecida. Parecia que até a vetusta Igreja se inclinava: e o fruto é comum. Um século antes de maio de 1968, Castro Alves traduziu Victor Hugo. Quem retomará o canto que se costurará a outros tantos cantos para fabricar um amanhã?
Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não
Posso ir esta noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares
E é preciso reconquistar a vida.
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há uma poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh, procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira, e um pranto de criança sozinha, numa estrada
Junto a um cadáver de mãe; digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber; contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão; peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.
Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo de paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-la mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças da tragédia abatem-se sobre mim, e me impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso…
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha vestida de vermelh
A quem foi dado se perder de amor pelo direto
De todos terem uma pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha vestida de vermelho, e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se…
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.
(Mensagem à poesia. Vinícius de Moraes)
Renúncias, adiamentos, amores sublimados. Outras ancoragens. Quiséramos ser heróis das vidas dos outros, e esquecemos que o herói se serve morto, a vida já passada, acabada. E sequer heróis de nossas próprias vidas nós conseguimos ser. Mas escrevemos a vida a traços de lápis vermelho. Taciturnos, abandonamos o miúdo viver pela grandeza da tarefa, pela urgência da mudança. Seria mesmo possível construir a alegria com base nos sentimentos tristes?
1.
De que serve a bondade
se num instante os bondosos são mortos ou são mortos aqueles
a quem tratavam bondosamente?
De que ser a liberdade,
se os livres há de viver entre os que livres não são?
De que serve o bom senso
se só a insensatez proporciona
o alimento de que todos carecem?
2.
Em vez ser bondoso, só, fazei por onde
instituir-se uma situação que propicie a bondade
e, mais, que a torne supérflua.
Em vez de ser livres, só, fazei por onde
instituir-se uma situação que a todos dê liberdade
e que, também, o amor à liberdade
se torne supérfluo.
Em vez de ser sensatos, só, fazei por onde
instituir-se uma situação em que seja mau negócio
a insensatez de um só.
(De que serve a bondade? Bertold Brecht. Tradução de Geir Campos)
E, no entanto, ainda é preciso ser bondoso. O amor à liberdade ainda nos leva à rua. A insensatez nunca foi de um só. Acordamos nas manchetes de jornais abismados e enxovalhados: tanto queríamos outra coisa. Foram inadequados os fios que usamos ao tecer esta história? Forma adequadas as cores dos dizeres que dirigiram nosso bordar?
1.
Realmente, eu vivo num tempo sombrio.
A inocente palavra é um despropósito. Uma fronte sem ruga
denota insensibilidade. Quem está rindo
é só porque não recebeu ainda
a notícia terrível.
Que tempo é esse em que
uma conversa sobre árvores chega a ser uma falta,
pois implica em silenciar sobre tantos crimes?
Esse que vai cruzando a rua, calmamente,
então já não está ao alcance dos amigos
necessitados?
[…]
Eu gostaria de ser um sábio.
Nos velhos livros consta o que é sabedoria:
Manter-se longe das lidas do mundo e o tempo breve
deixar correr sem medo.
Também saber passar sem violência,
pagar o mal com o bem,
os próprios desejos não realizar e sim esquecer,
conta-se como sabedoria.
Não posso nada disso:
Realmente, eu vivo num tempo sombrio!
2.
Às cidades cheguei em tempo de desordem,
com a fome imperando.
Junto aos homens cheguei em tempo de tumulto
e me rebelei com eles.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.
Minha comida mastiguei entre refregas.
Para dormir deitei-me entre assassinos.
O amor eu exercia sem cuidado
e olhava sem paciência a natureza.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.
As ruas do meu tempo iam dar no atoleiro.
A fala denunciava-me ao carrasco.
Bem pouco podia eu, mas os mandões
sem mim sentiam-se mais garantidos, eu esperava.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.
Minguadas eram as forças. E a meta
ficava à grande distância;
claramente visível, conquanto para mim
difícil de alcançar.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.
3.
Vós, que vireis na crista da maré
em que nos afogamos,
pensai,
quando falardes em nossas fraquezas,
também no tempo sombrio
a que escapastes.
[…]
E entretanto sabíamos:
também o ódio à baixeza
endurece as feições,
também a raiva contra a injustiça
torna mais rouca a voz. Ah, e nós
que pretendíamos preparar o terreno para a amizade,
nem bons amigos nós mesmos pudemos ser.
Mas vós, quando chegar a ocasião
de ser o homem um parceiro para o homem,
pensai em nós
com simpatia.
(Aos que vão nascer. Bertold Brecht. Tradução de Geis Campos)
Esta geração que se despede muito aprendeu. E, sobretudo, se deixou iluminar por grandes metanarrativas. Sonhou e trabalhou. Muitos de nós esqueceram-se de ser felizes. Muitos outros de nós construímos nossa felicidade na luta e, mesmo sem paciência para olhar a natureza, denunciamos a insensatez de sua destruição. Podemo deixar mensagens aos que vão nascer, além do pedido de simpatia? Talvez tenhamos que reconhecer que nossos tratados foram sempre sobre a grandeza, e esquecemos ‘as grandezas do ínfimo’. Se uma mensagem há, ela poderia ser composta pela costura de duas vozes:
As coisas jogadas fora por motivo de traste
são alvo de minha estima.
Prediletamente latas.
Latas são pessoas léxicas pobres porém concretas.
Se você jogar na terra uma lata por motivo de
traste: mendigos, cozinheiras ou poetas podem pegar.
Por isso eu acho as latas mais suficientes, por
exemplo, do que as ideias.
Porque as ideias, sendo objetos concebidos pelo
espírito, elas são abstratas.
E se você jogar um objeto abstrato na terra por
motivo de traste, ninguém quer pegar.
Por isso eu acho as latas mais suficientes.
A gente pega uma lata, enche de areia e sai
puxando pelas ruas moda um caminhão de areia.
E as ideias, por ser um objeto abstrato concebido
pelo espírito, não dá para encher de areia.
Por isso eu acho a lata mais suficiente.
Ideias são a luz do espírito – a gente sabe.
Há ideias luminosas – a gente sabe.
Mas elas inventaram a bomba atômica, a bomba
Atômica, a bomba atôm……..
………………………………………………….Agora
eu queria que os vermes iluminassem.
Que os trastes iluminassem.
(Teologia do Traste. Manoel de Barros)
…
É inútil querer parar o Homem:
em tudo que de amor cantar
o seu sonho caminhará.
É inútil querer parar o Homem,
o que transforma a pedra em piso,
o piso em casa e a casa em fonte
de novas músicas da carne:
a andar em forma de palavras
sob os arvoredos da vida
o seu sonho caminhará
do pensamento para as mãos
e das mãos para o pensamento,
noite e dia caminhará.
Até tornar as mãos em pássaros
libertos
para amar o azul.
(Canto para as transformações do homem. Moacyr Félix).
______
1. Este texto foi escrito para minha participação no Congresso de Leitura do Brasil – COLE – de 2005. Posteriormente ele foi publicado na Revista Freinet (Publicação da ABDEPP), vol. 2, 2007, p. 52-56. Eu o inclui em meu livro Ancoragens – Estudos bakhtinianos, publicado em 2010 pela Pedro & João Editores. Lembro de algo que me espantou no comentário da apresentação do texto no COLE: a professora que coordenava a mesa disse que quando já não há o que dizer [ou não se tem o que dizer], dá-se à palavra aos poetas… Eu sempre pensei o contrário, os poetas nos falam para que tenhamos o que dizer. Um mundo em que somente o ”homo sapiens”, em que somente a razão fala, é um mundo insonso, de esqueletos sem carnes, sem vida, sem emoção. Este é um de meus textos em que recupero leituras antigas, associo-as a novas leituras e faço dialogar diferentes vozes, aquelas que me calaram fundo no coração. O título é junção de títulos de dois poemas, um de Brecht (Aos que vão nascer), outro de Vinícius de Moraes (Mensagem à poesia). As pessoas a quem o texto foi dedicado – Olívio Dutra, Flávio e Maria Bettanin e Jane Batista são aquelas que me fizeram ver, que me fizeram ler, que me fizeram ouvir alguns dos poemas que estão aqui. Uma amizade dos anos 1960 que perdera e perdurará sempre.
Referências
Andrade, Caros Drummond de. “Mãos dadas” in. Manoel Sarmento Barata. Canto Melhor. Uma perspectiva da poesia brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.
Barros, Manuel. Poemas ruprestes. Rio de Janeiro/S. Paulo: Record, 2004.
Brecht, Bertold. Poemas e canções. Tradução e seleção de Geir Campos. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1966.
Felix, Moacyr. “Canto para as transformações do homem” in. Manoel Sarmento, op. cit. (o poema está datado: maio de 1964).
Hugo, Victor. “Palavras de um conservador a propósito de um revolucionário”. Tradução/paráfrase de Castro Alves. In. Castro Alves. Poemas revolucionários. Prefácio e seleção de Fernando Góes. São Paulo : Editora Universitária, s/data (o prefácio é de março de 1945).
Moraes, Vinícius de. “Mensagem à poesia” in. Vinícius de Moraes. Antologia poética. Rio de Janeiro : Editora Sabiá, 8ª. ed., s/data (a Advertência que abre esta edição, assinada por V. M., é de agosto de 1967).
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Fiquei emocionada.. Obrigada por lembrar de nós naquele tempo..
Não esquecerei jamais. Vocês três foram meus mestres em poesia.