MELANCOLIA DE UM PRESIDENTE – TAL PAI, TAL FILHO

Vamos às últimas manifestações instantâneas e às medidas e aos atos, espertamente programados do presidente do Brasil, nos seis meses e meio de governo.

  1. Hambúrgueres para os pobres e petróleo e minerais, madeira, bancos … para os ricos colonizadores de sempre.

– Filho, vem cá.

– Pois não, pai.

– Vá ser embaixador do Brasil em Washington.

– Mas… papai…

– Filho, seja igual ao pai. Você tem qualificação diplomática para assumir o mais importante posto na escala brasileira. Você é um doutor em diplomacia. Não esqueça isso.

– É verdade, papai. Você me fez lembrar uma coisa que eu já tinha esquecido. Tenho uma vivência do mundo extraordinária, genial! Você se lembra, papai, já fiz intercâmbio. Já fritei hambúrguer lá nos EUA, no frio do Maine. No frio do Colorado, numa montanha lá, aprimorei o meu inglês. Assim, sou um doutor, um PHD em fritar hambúrguer e falar a língua do Trump.

– É isso aí, meu filho. Tal pai, tal filho!

Diante deste espetáculo trágico, aterrorizante, todos os brasileiros e todas as brasileiras – honestos e honestas – sentimos vergonha jamais vivenciada em nossa história de brasileiros e brasileiras. Podemos imaginar uma cena de um embaixador brasileiro fritando hambúrguer em Washington. Um carrinho, com fumaça esbranquiçada,  empurrado pelo embaixador brasileiro, na frente da emblemática Casa Branca, Bolsonaro fritando hambúrgueres e servindo ao presidente Trump! É claro, hambúrgueres feitos rigorosamente de acordo com a receita determinada pelo Trump. Hambúrgueres feitos de petróleo da Petrobras, minérios em quantidades e variedades sem restrições, madeiras nativas da Amazônia sem regras e medidas de demarcações e proibições, tudo temperado com os altos e sem fim lucros rentistas financeiros. As refeições de hambúrgueres serão feitas em família – Trumps e Bolsonaros – sempre sob a guarda e proteção da justiça brasileira. Este é o novo modelo – modus operandi – do neocolonialismo: os colonizadores inventam e oferecem novas tecnologias aos colonizados, com esta generosidade bondosa impõem novas regras para se apropriar dos bens naturais e da força de trabalho mais barata para garantir a acumulação de  altos lucros e rendimentos  sem fim aos cartéis dos colonizadores, usurpadores de alto capital estatal e das riquezas e bens comuns – de todos. É bastante complexo e de difícil entendimento e de constrangedora explicação ao público esse novo-velho colonialismo mundial e nacional em alta, aqui e lá fora. Desse jeito, o Brasil irá continuar uma neo-colônia dos Estados Unidos da América. Fica a pergunta: o que está por trás – nos bastidores invisíveis do palco nacional – da indicação do Bolsonaro filho pelo Bolsonaro pai para a embaixada nos EUA?

  1. A difícil, ardilosa, trapaceira reforma da Previdência do Brasil. Uma garantia legal – embora não legítima – para os poucos mais ricos ficarem cada vez mais ricos e as multidões de pobres trabalhadores – mais de 80% dos brasileiros – ficarem mais pobres, em quantidade e qualidade. Assim, serão mais pobres em número e mais pobres em condições materiais e sociais de vida. Com essa previdência vai se garantir os privilégios dos detentores de altos saláios, dos políticos e dos juízes, ministros, militares, funcionários de alta escala, a reprodução dos lucros dos poucos ricos às custas da pobreza e dos sofrimentos dos já pobres – trabalhadores empregados-desempregados, miniprodutores autônomos ocasionais, etc. etc…. As articulações, as trapaças, as negociações, as maquinações do jogo de benefícios às custas do dinheiro público no Congresso para garantir os votos necessários para aprovação da reforma da Previdência foram de humilhar todos os brasileiros e todas as brasileiras defensores e praticantes dos princípios e atos humanos éticos. Dois bilhões e quatrocentos milhões de reais foram subtraídos do Programa Mais Médicos para passar aos deputados na forma de emendas parlamentares. Estes mesmos deputados aplicaram o impeachment da Dilma, por praticar as “pedaladas”. Assim, milhões de brasileiros e brasileiras sofrem de doenças terminais por falta de médicos. É um crime doloso utilizar dinheiro do orçamento da União para comprar votos de deputados para aprovação da Reforma da Previdência. E o que dizem e fazem os meritíssimos juízes do Supremo? Isso não vem ao caso?
  2. As pretensiosas lições do pretensioso professor Bolsonaro. Segundo declarações de Bolsonaro, críticos intromissores governantes da Europa e de países do 1º mundo tem muitas lições a aprender com ele, aqui no Brasil – “temos muito a ensinar à Alemanha”. Precisam visitar a Amazônia para ouvir as lições que ele tem para dar para eles sobre o meio ambiente e a devastação das florestas nativas. Bolsonaro vai dar aulas para Merkel e Macron no curso de Como usar duzentos agrotóxicos – venenos – no cultivo de seriais, frutas, legumes, verduras… Lições de como usar a tecnologia mais avançada para derrubar árvores na Amazônia.

Assim, enquanto a rainha Elizabeth II, aos 93 anos de idade, planta árvores lá no Reino Unido, aqui Bolsonaro autoriza cortar e derrubar florestas sem limites para continuar a entregar madeira aos colonizadores.

No último dia 9 de julho, a rainha, muito elegante e toda vestida de cor-de-rosa e de mais alta nobreza imperial, empurrava terra para a cova do pé de carpino, com mãos e braços firmes, com muito carinho e amor pela natureza, pela vida saudável do planeta. Uma lição de aula prática para o mundo todo aprender e praticar.

Pena, é uma lástima, que Bolsonaro, seus aliados políticos e seus apoiadores do agronegócio não conseguem, não tem sentimentos humanos de amor e respeito pela vida saudável de tudo o que há na terra.

Dinheiro para alguns poucos, acima e às custas de todos. Eis a questão.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.