Lula viaja ao sul carregando sua indestrutível esperança, seu jeito conciliador, jeito que é próprio dos brasileiros menos atingidos pela semeadura do ódio que realizando com eficácia a mídia hegemônica, o judiciário, as polícias federais e estaduais e grande parte da classe política brasileira inconformada com a manifestação da vontade popular nas urnas não lhes dando a vitória tão almejada por Serra, por Alckmin e por Aécio.
Quando vejo imagens do que aconteceu no sul do país, tenho vergonha de minhas origens gaúchas. Não vergonha do povo gaúcho, mas vergonha por haver entre gaúchos graúdos que se prestam a pagar agressões, a financiar a violência. Covardes que são eles próprios, pagam para que outros carreguem suas bandeiras.
Vergonha por ver a polícia, tanto gaúcha quanto catarinense, estarem atentas para defenderem os agressores! Há um vídeo que chega a ser escandaloso: um provocador agride, pula de um lado para outro, como se fora um macaco, e quando alguém do outro lado se aproxima em paz, ele corre para trás do batalhão da polícia, bem protegido como encomendado e pago. Neste vídeo um dos manifestantes chega a gritar para a polícia dizendo que ela deveria estar protegendo aqueles que estavam se manifestando em paz e não aos agressores. E dirige um bom “caralho!” aos policiais impávidos garantidos por suas armas e escudos… Quando juízes do auxílio moradia vão à TV defender que o Brasil quer um governo de leis, consideram que a polícia, agindo como agiu no sul, está dentro das suas funções legais, isto é, garantir a agressão, ainda que por interpostas pessoas, porque os ricos têm direito à agressão e são abençoados e apadrinhados pelo mesmo sistema que lhes dá auxílios vergonhosos.
Vergonha por saber que a mídia ignora a maioria, aqueles que acolheram Lula e sua caravana, para dar destaque ao que chama de “manifestação” contrária a Lula!!! Esconde a agressão, mostra-os pacíficos e transforma em milhares uns gatos pingados que afinal não há dinheiro suficiente para financiar milhares… Mente descaradamente para continuar a fazer o que vem fazendo nos últimos 8 anos: semeando o ódio e a cizânia entre os brasileiros.
Vergonha por ter perdido as esperanças que Lula tem para, como se diz, “dar e vender” ao povo brasileiro. Esperanças sem horizontes de concretude num mundo cada vez mais conturbado pela roubalheira do rentismo financeiro que vem produzindo miséria pelo planeta numa concentração de renda escandalosa. Até no Brasil da crise isso se mostra: segundo a revista Forbes, mais 34 brasileiros entraram para a lista dos ricos do mundo… enquanto, como disse Lula, muitos brasileiros não têm ovos para comer enquanto os ruralistas os jogam fora sobre os ônibus da caravana e sobre as pessoas, incluindo mulheres.
Vergonha por ver um relho batendo num homem, como se a escravidão tivesse voltado; vergonha por ver mulheres agredidas fisicamente; vergonha por ver a ignorância exposta; vergonha por ver gaúchos sacando revólveres e apontando para as pessoas (sob o olhar complacente e cúmplice da polícia!). Da agressão verbal para a agressão física – esta é a realidade mais crua que nos mostra esta passagem da esperança pelo sul do país.
Nada mais poderá ser como dantes: o chicote vai estrilar, o cassetete vai descer, as balas continuarão a matar inocentes e a Rede Globo, a polícia, o judiciário e os ricos que os financiam continuarão a aplaudir e a justificar tudo em nome da “pax romana” que querem impor e estão impondo: miséria e impostos!
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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