– Nada es mejor que
Una copa de vino.
– Bueno…mejor dos!
A ideia e a imagem de beber vinho é sempre uma atmosfera de prazer, de uma atitude elegante e de uma postura de elevada verdade cristalina. O vinho abre cancelas aos crentes e praticantes do prazer da vida. Antes e acima de tudo, o vinho espanta a tristeza e afugenta a solidão. Quem não acredita nesta verdade e pensa ao contrário destes pressupostos é aquele que nunca bebeu vinho de boa qualidade e de maneira certa.
Ao longo da história dos seres humanos, conhecemos e aprendemos belas e deslumbrantes lições de vida por força dos poderes e dos efeitos prazerosos do vinho.
Os imperadores mais antigos, quando aprisionavam seus inimigos e conspiradores e não conseguiam que eles falassem e confessassem seus planos ocultos e seus segredos políticos, mesmo sob a dor das torturas e ameaças de morte, aprenderam que era mais fácil e seguro obter a verdade – a delação – oferecendo a eles banquetes regados a vinho. Depois de comer comida da nobreza e beber muito vinho bom, os conspiradores falavam a verdade por livre e espontânea vontade. Confessavam seus planos políticos e delatavam as tramas sigilosas dos inimigos do imperador. Aí foi inventada a expressão que virou dístico popular: “in vino veritas” – no vinho está a verdade. Ou seja, dê vinho a ponto de embebedar o cidadão e ele dirá a verdade em estado de alegria e sinceridade. Essa estratégia é usada ainda hoje em inúmeras e infinitas circunstâncias de controle político e ideológico. Embora as estratégicas e as práticas contrárias – a tortura em múltiplas modalidades, a delação premiada, as condenações judiciais injustas – continuam sendo os mecanismos de manutenção das elites sociais no poder.
Já no mundo sagrado, de acordo com os escritos do Novo Testamento, Jesus Cristo consagrou e recomendou o vinho nos seus dois momentos mais marcantes de sua vida: as Bodas de Canã e a Santa Ceia. Primeiro, lá pelas tantas da festa de casamento faltou vinho. O vinho acabou e a alegria sumiu. A Mãe de Jesus, Maria, falou: “eles não tem mais vinho”. Jesus, então, mandou encher de água seis talhas de pedra. E a água se fez vinho. A festa continuou com muita alegria. No segundo momento da vida, quando Jesus já sabia que seria condenado à morte por Pilatos, convidou seus melhores amigos para a ceia de homenagem e despedida. A celebração principal da ceia – o brinde – tornou-se sagrado e é consagrado no mundo inteiro pelos seus seguidores cristãos. Primeiro, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, e disse: “tomai e comei, este é o meu corpo”. Em seguida, tomou o cálice e deu aos discípulos, dizendo: “bebei dele todos, porque este é o meu sangue do novo testamento, que será derramado por muitos para remissão de pecados”. Este brinde de Jesus virou sagrado e é consagrado pelos padres sacerdotes até hoje em todas as missas em todo mundo.
O fato estranho é que muitos pastores de igrejas que seguem a doutrina de Cristo proíbem os seus fiéis a beber vinho.
As homenagens e as reverências ao vinho estão em todas as artes – pinturas, esculturas, literatura, poesia, arquitetura, música, ferramentas – barris, garrafas, taças…
Fico encantado e emocionado pela beleza das poesias do poeta Omar Khayyám – 1040-1123, Pérsia.
“Vinho! Mais vinho! Em turbilhões e em ondas
que me faça esquecer quanto eu sofri.
Não fales mais, tudo é mentira. Vem,
depressa – a taça! Eu já envelheci…”
…“És senhor do vinho!
Não te arrependas de bebê-lo
antes e depois
do pôr-do-sol!”
…“Esta noite,
aveludada pela carícia do luar,
sorverei a bebida
crepitante na taça alabastrina”.
…“É bom que te rejubiles,
que alegres,
vez por outra,
o coração com taça de vinho”.
…“Bebe o vinho dourado!
É repouso para o espírito,
bálsamo providencial
para alma e coração feridos.
Se fores assediado
por um dilúvio de tristeza, se te vires,
por todos os lados,
acometido de pesares,
agarra-te, sem receio,
ao delicioso vinho dourado.
É o barco de salvação.
…“Se bebes vinho,
bebê-lo-ás em roda de amigos,
ou acariciando nos braços
mulher sorridente,
saltitante de alegria,
de faces rosadas
e olhos ternos”.
Para finalizar, uma verdade inquestionável: o vinho melhora com o tempo. Eu melhoro com o vinho.
*Os poemas foram extraídos de Khayyam, Omar. RubáiyáT. São Paulo: MARTIN CLARET, 2003.
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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