IMPOSTOS – SEM EIRA NEM BEIRA

Infinidade de impostos. Impostos sem fim. Impostos ao infinito. Impostos sem eira nem beira. Impostos para além da conta. Impostos para a felicidade dos impostores e a infelicidade dos impotentes. O mundo de impostos. Todas estas denominações linguísticas são absurdamente verdadeiras e serviriam perfeitamente para o título desta crônica. Mas todas igualmente incompletas e incapazes para informar a infinitude e a imensidão dos impostos no imperialismo do Brasil. Se fossem tomadas todas juntas as palavras que iniciam com a letra “i” ainda assim não conseguiriam dar conta do tamanho dos impostos e expressar sua voracidade impiedosa. Talvez o mais justo seria clamar e rezar aos céus: oh deuses, livrai-nos de tantos impostos! Este seria o melhor título. Um clamor, nada mais. Porque nem uma boa reza e um santo exorcista são capazes de nos proteger e livrar de tantos impostos.

Impostos no Brasil são iguais às leis de trânsito. A gente nunca sabe ao certo quantos e quais são. Nem para que servem. A gente só sabe e aprende quando recebe os boletos e as multas. Imposto vem de impor. Do latim “impositus”, que significa “feito aceitar ou realizar à força”. Quer dizer, tornar obrigatório por lei. Às vezes, enganar os outros com boas maneiras, iludir. É o tributo, a contribuição e o ônus que os poderes públicos determinam por leis e exigem de cada pessoa física e jurídica para manutenção dos serviços, nem sempre especificados do Estado. Daí que “impostos” vem do verbo impor e instituir tributos aos outros. Todos? Bem, aí já é querer saber demais. Não é de hoje que os impostos/tributos existem. Não se sabe ao certo quem, quando, onde, como, para que e para quem foram inventados os impostos. A palavra parece ter o mesmo ventre de imperador, império, imperial, imperialismo. Aquele que impera, ordena, determina, impõe algo contra as vontades dos outros. É provável que os inventores dos impostos sociais, ao longo da história, tiveram a santa inspiração na sacralidade dos impostos das igrejas – quem não pagava o dízimo virava demônio e iria para o inferno.

Por ironia da linguagem, e para perseverar na fidelidade ao seu sentido e significado, as siglas de impostos iniciam logicamente com a letra “i”. Querem ver? IR, IPTU, IPVA, IPTR, IPI, IOF, INSS, ICMS, IS, ISS, IRPJ, II, IE, ITBI, ITCMD, IMI, IT. Tem mais? Você sabe decodificar cada uma destas siglas e conhece seu  significado? Só não iniciam com “i” PIS, PASEP, COFINS e a infinidade e infinitude dos injustos, injustificados, ingratos, insanos, intoleráveis, infernais, ilídimos, ilícitos, ignóbeis, infelizes, intoleráveis, inaceitáveis, infames, intragáveis, ignominiosos, ímprobos, imerecidos, impudicos, indignos, indigestos e insensatos juros e taxas de serviços bancários. Quanta coisa ruim inicia com a letra “i”! Quantos e quão monstruosos impostos nos causam infelicidade, inquietação, insônia, incerteza, irritação,  inadimplência, insanidade, inimizade, ingratidão, indelicadeza, insensibilidade, incompreensão, inexcitabilidade, inexequibilidade, inexpiabilidade, imperdoabilidade e acima de tudo nos causam muita infâmia. Quem já teve ou tem seu nome na CERASA, que o diga. Quem já teve e ainda tem indústrias, empresas de comércio, de produção agrícola, mini empresas, produção familiar, bens imóveis e móveis (automóveis e assemelhados), escritório de prestação de serviços, está com a palavra. E o que falar e dizer dos assalariados, dos que vivem de salários? Tem gente que estuda a vida inteira para atingir salários mais elevados, quando atinge, o leão come 27,5%! E na fonte, ou seja, o trabalhador assalariado não tem nenhuma possibilidade de enfrentar o leão. Não é por outra razão que o signo do Imposto de Renda é o leão: a prepotência, a força, a ferocidade. Com o leão ninguém pode. E nem deve brincar. Menos ainda, enganar. Embora, sempre há os que podem e o leão não pega. Exatamente porque são grandes e poderosos.

O melhor estilo de linguagem para falar e escrever sobre impostos é a ironia. Na vida real, nós elegemos os governantes e os legisladores para eles inventar e instituir os impostos que temos que pagar. Por que será que os governantes e os políticos adoram tanto os impostos? E se algum dia não os elegêssemos mais? Como seria bom se um dia a nossa paciência e tolerância se esgotassem! Os governantes e políticos teriam que governar e legislar para o bem-estar de todos. Não somente para eles e os amigos deles. Enfim, é preciso lembrar que não é possível imaginar uma sociedade organizada (um país, uma nação, um principado) sem impostos. É preciso lembrar também que é perfeitamente possível uma sociedade organizada sem tantos e tão pesados impostos.

Hoje, os governantes e seus acólitos, não satisfeitos com a imensidão e a grandeza dos impostos, estão propondo e articulando com os políticos ajustes dos tributos da união. Às escondidas trata-se de aumento de impostos. “Sempre, e só, para a grandeza e o bem do Brasil”.

Ignorante é quem não percebe o blefe.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.