Minha vontade e meus desejos se alternam impublicáveis, eu sei.
Amenizo e digo apenas que gostaria de entender os números, uma vez que as palavras não me dizem muito.
Não tenho mais vontade de cuspir nos fascistas e tampouco consigo me imaginar socando-lhes as caras, isso é o pior, as caras que estampam o mal, como demônios nervosos e sedentos de la prata…
A cada golpe me torno igual a eles, porque tento fazer o exercício de espelho: penso como devem ter sofrido durante o governo de Lula e Dilma, descoberta do pré-sal foi quase infarto, imagine quando soube da Bolsa-família, redução da desigualdade – com certeza os médicos da família receitaram as estatinas…
Pessoas sonhando perturbam os sonhos dos mesquinhos.
Vejo no espelho o meu semblante de derrota: tendo que sentar ao lado de pobres em voos nacionais e até internacionais, parece rodoviária! – diria a madame que se nega a pagar direitos as empregadas domésticas. Imaginem que abusos e sofrimentos deve ter o coração dessa gente mesquinha e cretina.
Saber do seu filho que cursara as melhores escolas e preparatórios, ao tempo em que não tinha sequer que pegar ônibus, sempre com a comida quentinha, o Nanoninho esperando, estudar com gente de cor, cotistas.
O dinheiro da plástica parcelada tem gosto amargo na fila de espera com gente humilde, sim porque não gosto sequer de usar a palavra pobre, dizem até que dá azar. É como negro: é ofensivo, melhor dizer gente de cor. Esse povo bem nascido e bem criado, ladeado com uma gente que lhes passava na cara que contra tudo e todos estava ali, e vinha pra ficar. Bolsa permanência, pesquisadores, doutores das universidades públicas, porém privadas… Era muito ruim.
Uma indústria crescente, engenharia que rima com soberania, obras de infraestrutura pipocando em todo canto, e por falar em canto, tinha dança, cinema, festas, tudo com uma cultura plural, diversa, com respeito e tolerância.
_ Tem que censurar, de forma enérgica, e se for violenta ainda melhor… Tipo Tiradentes! Marielle!
– Muito triste o que esse povo sofreu, imagina eu?
Imagine.
Professora, militante, escritora
Mara Emília Gomes Gonçalves é formada em Letras pela Universidade Federal de Goiás. Gestora escolar, professora, militante, feminista, negra. Excelente leitora, escritora irregular. Acompanhe-a também em seu blog: LEITURAS POSSÍVEIS.
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