A greve geral foi um sucesso. É certo que parte deste sucesso se deve a uma categoria específica: dos trabalhadores em transporte público. E para infelicidade do Prefeito pidão, aquele que recebe doações continuadas de empresários, nem o aplicativo para o transporte gratuito dos funcionários da Prefeitura de São Paulo, através do UBER, funcionou!
Queriam ou não aqueles que chamaram os trabalhadores de “vagabundos”, eles tiveram que engolir: há mais “vagabundos” no país do que honestos banqueiros! E enquanto os tais “vagabundos” produzem, os banqueiros vivem nababescamente sentados sobre seus tesouros que Henrique Meirelles faz questão de aumentar. E ameaça: sem Reforma da Previdência, os juros sobem… porque ele precisa dar alguma compensação aos seus patrões. Pois que subam os juros escorchantes praticados pelo Banco Central sob comando de outro funcionário dos banqueiros.
Mas o toque mais bizarro desta greve geral é a candidatura do Delegado de Polícia, Dr. Antônio Roberto Cesário de Sá, atual secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, para o cargo de Ministro da Justiça e de passagem, se a PEC da Bengala não estorvar, um assento na diminuída, cada dia mais, Suprema Corte.
Acontece que ele percebeu ser esse o caminho. As pessoas aprendem! E ele seguiu os passos do Ministro Alexandre de Moraes: comandar a violência da polícia, a agressão desnecessária contra movimentos sociais como fez o atual membro do STF em São Paulo. Isto o credencia para ser Ministro da Justiça do desgoverno Temer e de quebra chegar ao vitalício cargo no STF.
Por isso, o ministro atual, o Dr. Osmar Serraglio, que não comandou a polícia, deve por suas barbas de molho: afinal ele tem poucos créditos tanto para o cargo que exerce quanto para o salto para o STF. E a fila anda, Sr. Ministro! Ainda mais no ministério de Temer, onde ministros caem sucessivamente…
Há mais da greve: quando não dá para tapar o sol com a peneira, quando não dá para desconhecer uma rejeição ao Presidente em índices crescentes, que a durar este governo, poderá ultrapassar os 95%, quando não dá para ignorar o descontentamento popular, quando não dá para ignorar o desespero do desemprego crescente – apesar da mídia berrar que a economia está se recuperando vagarosamente – quando tudo isso se soma, sai o desgoverno a dizer que manifestações são da ordem da democracia. Que sendo o governo constituído de sujeitos democratas, as manifestações são democráticas.
Esquecem, no entanto, que na democracia não se trata apenas de “deixar” que se manifestem. Trata-se também de ouvir e dialogar com os descontentamentos, estabelecer consensos que considere os argumentos de uma maioria popular. Democratas que não escutam, que não se esforçam para ajustar suas condutas com base na maioria, não são democratas. Praticam solilóquios. E agem como imperadores, como ditadores, impondo seu programa, seu projeto independentemente das reações populares. Trata-se, de fato, de um governo de minorias ricas e gananciosas: é o que temos de fato.
Assim, o governo e os deputados não ouviram as vozes das ruas. Já não ouviram e se anteciparam: aprovaram a destruição de direitos trabalhistas, o que eles chamam de Reforma Trabalhista, e a mídia de “modernização” da CLT. Cada qual com sua semântica. Mas tiveram que engolir: seus créditos se foram… já não são os donos da verdade única! Aliás, são somente os donos da pós-verdade, quando se descobre – a cada dia mais rapidamente – a inverdade que pretendem passar como verdade.
A violência da polícia do Rio de Janeiro foi a nota fúnebre da Greve Geral. Deseja-se ardentemente que funcione como aqueles anúncios de jornais: NOTA DE FALECIMENTO E CONVITE PARA ENTERRO.
No caso, o enterro do golpe, do golpe dentro do golpe, da perseguição judicial, do abuso de autoridade. Todos estão convidados para o glorioso acontecimento. Em breve, ao vivo e a cores.
Osmar Serraglio
Antônio Roberto Cesário de Sá
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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