“GOLPE DE MESTRE” (por José Kuiava)

“Dei um golpe de mestre”. Com cara de vaidade mascarada e em atitude de nobreza de data vencida – fora de moda e de época – Michel Temer, ufanado e orgulhoso, proclama o “golpe de mestre” diante dos holofotes da mídia. Em tom de deboche, diz que as medidas que tomou já produziram resultados positivos junto à opinião pública brasileira. É justa e verdadeira a autorreferência elogiosa – de si mesmo, a si mesmo, por si mesmo – “golpe de mestre”, digna de um golpista talentoso só como ele mesmo. E pior, já por conta do talento brilhante singular, quer ser candidato à reeleição. Fico imaginando um(a) estudante perguntando ao professor em sala de aula: “professor, como é possível alguém se reeleger para presidente do Brasil se sequer foi eleito?”. Com certeza o professor vai dizer: “se alguém souber a resposta, por gentileza, diga para todos nós”. Aí o silêncio se faz sepulcral, ou, a sala vira um estrondo de risadas. Dependendo da genialidade do professor, ele chamaria ou um juiz, ou um promotor, ou um ministro – todos do Supremo – para dar a resposta. Os alunos ouviriam a aula da prolixidade mais enfadonha e a verborragia mais fútil, sem nexo e sexo, quer dizer, sem responder a pergunta: como é possível reeleger – eleger de novo – quem não foi eleito sequer uma única vez?

A resposta mais certa seria: “é mais um golpe de mestre de um especialista em praticar golpes”. E assim, de golpe em golpe, as tragédias humanas – execuções, assassinatos, prisões, intimidações, ameaças a moradores de periferias e favelas – estão cada vez mais brutais.

Por conta e força da intervenção militar no Estado do Rio, as forças militares e as forças policiais podem usar da violência sem limites, sem obedecer a leis e sem respeitar direitos para execução explícita ou sigilosa e oculta daqueles que lutam pelos direitos de todos, pela justiça, pela igualdade e liberdade dos oprimidos. As forças policiais executam, às escondidas, principalmente aqueles que tem a coragem de desmascarar a face perversa da própria polícia.

Estamos assistindo desalentados diuturnamente – aterrorizados – uma violência política pública de quem tem a obrigação constitucional, ética, moral, profissional de proteger e preservar a vida de todos. As lições da história de que “a violência gera violência” são muito antigas e verdadeiras. Se matar aquele que matou alguém já é crime, imaginemos, então, matar aqueles que lutam em defesa dos explorados, injustiçados, discriminados, escravizados…

É da história, também bem antiga, a violência militar-policial contra os escravos, contra os negros, contra os favelados, contra as mulheres negras, contra aqueles que lutam pelos direitos sociais de todos. As forças militares – exército, marinha e aeronáutica – foram inventadas, criadas, organizadas, mantidas pelo estado para defender e proteger os ricos no poder. Até quando?

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.