O negócio mais importante e de maior valor político e comercial da viagem do presidente do Brasil, em visita ao presidente dos Estados Unidos, foi a troca de camisetas das seleções de futebol dos respectivos países. O presidente Trump, com gesto carinhoso mal disfarçado, deu de presente ao presidente Bolsonaro uma camiseta da seleção americana de futebol, com o número 19 e o nome Bolsonaro. Em troca, com gesto muito delicado mal disfarçado, o presidente Bolsonaro deu de presente ao presidente Trump uma camiseta da seleção brasileira, com o número 10, em homenagem ao Pelé.
A troca de camisetas foi o gesto mais generoso, a cena mais espetacular e emocionante do encontro dos presidentes – um gesto de aliança e de subordinação do hemisfério Sul ao hemisfério Norte. Diante das crises que abalam o Brasil, os Estados Unidos e o mundo, nada melhor do que a troca de camisetas de futebol pelos presidentes, em nome dos torcedores aloprados assistindo o espetáculo ao vivo na TV.
Como se este gesto de corações grandes não bastasse, o presidente Bolsonaro agraciou o presidente Trump com outros presentes mais generosos. Liberou a entrada no Brasil a todos os americanos que queiram colonizar o Brasil, que queiram extrair o petróleo e os minerais do Brasil, que queiram desmatar e extrair as madeiras nobres da Amazônia, que queiram tomar os nossos bancos e os nossos aeroportos e levar tantos bens e riquezas do Brasil sem pagar quase nada. E tem mais, para entrar no Brasil de hoje em diante os americanos não precisam sequer apresentar “visto de entrada”. Estão liberados para entrar sem visto e sem dinheiro para buscar bens e capital.
E o coração grande do presidente Bolsonaro não parou aí, não. Bolsonaro entregou ao Trump e aos americanos a Base de Alcântara – lançamento de foguetes do Brasil –, permitiu aos norte-americanos o acesso das informações nas redes sociais. Tudo sem nada em troca. E Bolsonaro declarou apoio ao Trump na construção do muro na fronteira com o México e apoio à derrubada do Maduro.
Dessa forma, o encontro dos presidentes Bolsonaro e Trump não teve nenhum acordo, pois não houve troca de favores, de benefícios, de negócios mútuos, onde e quando as duas partes ganham e levam vantagens. No caso, só uma das duas partes levou vantagens e benefícios. A regra histórica e antiquíssima do “toma lá dá cá” foi abolida no encontro. O mais certo seria se esta regra fosse invertida: “dá cá e vá tomá lá”. Mas, prevaleceu a lei do mais forte, imposta aos submissos.
Enquanto o pai presidente estava viajando no céu infinito, por cima das nuvens ensolaradas; enquanto desembarcava no aeroporto recebido por atores e personagens risíveis, sob protestos acalorados; enquanto jantava com convidados muito estranhos; enquanto almoçava com Trump às escondidas da imprensa, o filho divertia-se brincando sentado na cadeira de presidente no Planalto do Brasil. Delirava dando ordens e despachando serviços aos ministros, aos assessores e funcionários, imitando o pai ausente, ao invés de estar em seu lugar na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Tal pai, tal filho. Faz de conta que é presidente do Brasil. Um espetáculo grotesco.
Assim, os problemas não resolvidos e cada vez mais cruéis e devastadores das vidas dos brasileiros sobram para o presidente em exercício – Hamilton Mourão – resolver em 4 dias. É possível?
Bolsonaro é o Trump da América do Sul.
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
A troca de camisetas só teve uma emoção: a vergonha. E o poderoso país não precisou fazer nada para obter a submissão: o presidente foi lá para levar a submissão na bandeja, batendo continência a qualquer soldadinho americano. Bom falarmos disso, sempre: o governo está pronunciando do discurso da servidão voluntária. Há que reler o livro!