“FALEM MAL, MAS FALEM DE MIM”

Este dístico, de sentido trapaceiro, já foi falado e proclamado muitas vezes por muitos políticos, muito despudorados, para ganhar muita popularidade e muitos votos dos eleitores muito ingênuos e  muito mal informados. Era falado com a maior cara-de-pau para gozar e rir dos opositores, dos adversários políticos e dos críticos. Quer dizer, rir daqueles que falassem mal deles, os políticos trapaceiros.

Hoje, aqui no Brasil, por ato de ignorância dos políticos no governo, o dístico foi invertido, foi virado ao avesso. Ficou assim: falem de mim, mas falem bem. Não se atrevam falar mal. Se falarem mal, vão levar bala – de chumbo – na cabeça. Os críticos perdem o emprego, se falarem a verdade.

Assim, não tem jeito de falar dos políticos e dos assessores do governo que temos. Se falar bem deles, seria uma mentira, uma inverdade, uma imoralidade.  Se falar mal deles, é um perigo. Vai levar bala na cabeça. Perder o cargo e o emprego, o que já está acontecendo.

O ímpeto autoritário do atual governo só poderia ser contido pelo poder Legislativo e pelo poder Judiciário. Seria o justo e o lógico. Porém, aqui também prevaleceu a autocracia do poder Executivo. Foi determinada a harmonia, a relação amorosa matrimonial dos três poderes. Nenhum dos dois poderes – não executivos – pode gozar da autonomia e da independência à revelia do poder de governar.

Ainda outro dia, o presidente Bolsonaro, em posse de plenos poderes e de postura de autoridade encenada, falou a verdade: “tenho uma caneta mais poderosa que Rodrigo Maia”. E deu a dica: “eu governo por decretos”. Quer dizer, não precisa da bexiga dos seus ministros e de ninguém mais. Sobre posse, porte e uso de armas, o presidente já emitiu sete decretos. Tempos atrás, ainda antes de ser presidente, ele falou para uma mulher que o contestou: “não te estupro por que você é muito feia, não merece”.

Deixou claro que se a mulher fosse uma aliada política e bonita ele a estupraria. Ele está pouco se lixando se estuprar uma mulher é crime hediondo. Nem por isso – crime por preconceito e por danos morais – foi punido e  condenado pela justiça seletiva e imparcial. “Isso não vem ao caso”.

Dias atrás, desfez e humilhou a rainha da Inglaterra quando disse que “não queria ser transformado numa rainha da Inglaterra no Brasil”. E advertiu a chanceler alemã Merkel: “o presidente do Brasil que está aqui não é como alguns anteriores que vieram aqui para serem advertidos por outros países”. E falou isso na presença de mais de 20 presidentes e primeiro-ministros dos maiores países do mundo. E o seu braço direito – segurança mais próximo e poderoso – acrescentou: “esses países que criticam o Brasil vão procurar sua turma”.

E  o que fala e diz o ministro da educação, sem nenhuma educação? “As drogas do Brasil de hoje são as universidades”. O avião da FAB da comitiva do presidente Bolsonaro, já carregou Lula e Dilma, muito mais pesados que os 39 quilos de cocaína na mala do militar preso em aeroporto da Espanha, comentou.

E o que pensar e dizer do ministro da Justiça parcial? Da justiça seletiva que pratica na cara de todos nós? Insiste em mentir que o que falam que falou não é verdade e negar o conluio com o cúmplice Procurador Dallagnol porque não é verdade. Pode mentir? Um ex-juiz e agora Ministro da Justiça pode fazer a manipulação da opinião pública? O código de ética permite fazer propaganda subliminar ao ministro da Justiça para a produção de novos políticos?

E o que esperar de um ministro do meio ambiente antiecológico, a favor do desmatamento sem limites, da posse de terras das reservas indígenas? E como aceitar a Ministra da Mulher fundamentalista? E como suportar o ministro das Relações Exteriores que envergonha o Brasil lá fora com as bobagens ideológicas que fala?

Terminando, penso e estou convencido que é falso e antiético parecer ser honesto, sem ser honesto.

É preciso ser honesto para parecer ser honesto.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.