Estudantes ocupam escolas, a PF ocupa sede do PT

Há uma grande novidade entre nòs: o exemplo que estudantes estão dando na luta pelos direitos de acesso a bens culturais, a uma educação de melhor qualidade. Em suas ocupações, descobrem os desperdícios do tal “custo Brasil”: livros comprados e estocados, porque houve verba para a compra, mas não há verba para estantes onde os colocar! Os livros são enviados para a escola, para constituir a biblioteca, mas as salas estão ocupadas todas com turmas de alunos – e ficarão ainda mais ocupadas com a reorganização que apesar de tudo os tucanos paulistas estão pondo goela abaixo, para venderem os terrenos bem situados para a especulação imobiliária… Por exemplo, em Campinas, uma das escolas a serem fechadas é precisamente a antiga Escola Normal, um prédio histórico do início do século XX (a escola foi inaugurada em 1903). 

Em lugar de pensar o desafogo no espaço das escolas para que computadores que estão encaixotados, para que livros estejam à disposição dos estudantes em salas amplas, para que hja espaço razoável para oficinas extra-curiculares, os governos querem mesmo é fazer economia burra, porque comprometem o futuro, fechando escolas e vendendo patrimônio. Como não são administradores, mas guarda-livros (sem nenhuma conotação pejorativa aos contabilistas), administram para fazer bater crédito e débito, como se pensar o futuro de uma sociedade fosse uma questão contábil e somente contábil. 

Pois a ocupação ficou na moda. Agora a PF também fez sua ocupação, desta vez da sede do PT. Ocupou para desconstruir um partido. Mas aqui não há nenhuma novidade, apenas o esperado da atuação da força-tarefa da Lava Jato. Todos sabem que o objetivo da Lava Jato é destruir o PT – que cometeu inumeráveis e abomináveis erros, entrou na vala comum do modo de fazer política na sociedade, imitando o partido que substituiu no Executivo nacional. Aliou-se a deus e ao diabo para ter “governabilidade”, e pagou para tê-la. Todos sabem. Mas somente quem pagou paga o pato, quem recebeu não paga só recebe. 

Ninguém pode negar que há outros partidos envolvidos nesta lama toda da corrupção: PMDB, PSDB, PP nominadamente. Mas a PF somente tem interesse no PT. E a razão disso não é somente o combate à corrupção (o novo governo perdeu em apenas 30 dias três ministros por envolvimento com corrupção). Mas há uma ordem clara, clarísima, na PF curitibana, na Procuradoria curitibana, no juízo de Sérgio Moro: trata-se de destruir um e somente um partido, e todos os que o lideraram e se possível todos os que nele atuaram como militantes, e se possível – sonho meu, sonho meu… – todos os que nele votaram. Para limpar o Brasil não da corrupção, que sempre os há e em todos os partidos, mas para limpar o Brasil dessa pretensão de incluir pobres em nosso meio, estorvando nosso tráfego, ocupando nossos bancos escolares, comendo nossa comida!!! Há que acabar com isso, há que limpar o país disso tudo, destas pretensões.

Depois, tudo voltará ao normal. Aécio Neves poderá continuar a receber sem que seu nome apareça nos noticiários de forma negativa – esta exposição foi um azar da ação de limpeza. Todo o PMDB poderá continuar com seu fisiologismo pago; a bancada da Bíblia poderá ter seus financiamentos garantidos pelos pastores (empresas não podem fazer doações eleitorais, mas igrejas podem, fieis podem, bispos podem). Tudo voltará a seus eixos se o PT deixar de existir.

Por isso, minha sugestão é a auto-dissolução do PT. É mais ético, é mais barato, é menos estressante. Não sem antes prenderem o Lula e a Dilma. Só para garantia de que o passado não será removido no futuro.

Aprendamos com as ocupações: a dos estudantes aponta para um futuro, a da PF aponta para um passado secular. Quais das ocupações ganhará a longo prazo na sociedade brasileira? Seremos para sempre a sociedade do século XIX, ou entraremos finalmente no século XX antes de chegar o século XXII? 

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.