Na luta de classes ao longo do processo da história, uma velha, antiga e ainda atual estratégia do bloco das classes dominantes é dividir, confundir, desunir as classes sociais inferiores para se manter no poder. Principalmente quando estas – as classes dos trabalhadores assalariados – estão organizadas politicamente e com potencial eleitoral de chegar ao poder pelo caminho processual democrático. É a tal luta de classes pela hegemonia – direção do poder do estado pelo consentimento dos cidadãos. Aí as elites do bloco no poder valem-se de uma estratégia muito astuta, espertalhona, maníaca, ora franca, ora disfarçada, fantasmagorizada de bem de todos perante a opinião pública, para se manter no poder no momento presente e garantir o governo para o próximo mandado.
Não é diferente no Brasil de hoje: um oceano de partidos políticos e um pantanal, sem fronteiras, de candidatos para presidente da república. Não há dúvida de que o quadro eleitoral na conjuntura política, econômica e social é altamente favorável aos partidos de oposição. De acordo com as pesquisas de intenções de votos, feitas pela mídia e também pelo Instituto Vox Populi, se Lula for candidato ele ganha de todos os seus concorrentes em qualquer cenário, com 39% dos votos no primeiro turno e com 54% a 56% no segundo turno, se for Marina, ela 32%; Bolsonaro 31% e Alckmin com 27%. Assim, a hegemonia das esquerdas no poder executivo estaria garantida. Porém, a aliança dos três poderes eliminou Lula de forma legal, mas desavergonhadamente ilegítima.
Agora vem a pergunta: porque tantos candidatos à candidato? Alguém já se fez esta pergunta e também já respondeu a si mesmo e aos outros? Para responder melhor a pergunta precisamos analisar o cenário de candidatos à presidente da república do Brasil, vinculados às classes sociais.
Candidatos dos partidos de direita e do bloco no poder de hoje: Michel Temer, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Jair Bolsonaro, Guilherme D. Afif e mais de meia dúzia de pré-candidatos – todos inocentes e bem-intencionados.
Candidatos dos partidos de centro-direita: Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Álvaro Dias, Cristóvam Buarque e outros menos cotados. Candidatos dos partidos de esquerda: Luiz Inácio Lula da Silva – ora condenado, preso e inelegível – Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Manuela D’Ávila, Marina Silva, Valéria Monteiro e outros ainda não declarados.
Assim, é uma estratégia disfarçada das classes de centro-direita lançarem tantos candidatos, tentando induzir e levar as esquerdas para o mesmo caminho – dividir para que ninguém das esquerdas chegue ao 2º turno. Liquidar as esquerdas ainda no 1º turno. Sem Lula, é óbvio. O cenário de 2º turno com Marina está favorável para ela, derrotando qualquer um dos concorrentes – Alckmin, Bolsonaro, Ciro… Porém, Marina na presidência do Brasil, quais garantias de um governo de programas sociais?
Como justificar e entender as candidaturas de Temer e Meirelles com 1% de intenções de votos cada um? Os dois cidadãos que ocupam os dois cargos mais elevados do Brasil – a Presidência e o Ministério da Fazenda – e o Maia, com menos de 3% de intenções de votos – presidente da Câmara dos Deputados – sabem e tem consciência absoluta que não irão prejudicar os candidatos de centro-direita para o 2º turno – Bolsonaro, Alckmin, Ciro e Álvaro. O Alckmin já declarou em público que não quer o apoio de Temer. Os demais também não vão querer. Mesmo com muitos candidatos das classes de centro-direita, as frações do capital permanecem sempre unidas e interdependentes – capital financeiro rentista, capital fundiário do agronegócio, capital industrial, capital comercial e a tecnoburocracia com os intelectuais orgânicos – sempre em aliança com o poder legislativo, poder judiciário, protegidas pelas forças militares, policiais e agências fiscais. Este bloco dominante para manter-se hegemônico conta diuturnamente com o poder da mídia hegemônica. Tudo isso é complexo, mas real, material. E para entender esta conjuntura é preciso examiná-la e analisá-la na essência e não apenas nas imagens externas superficiais, coloridas e douradas com ouro falso. A sociedade que não percebe este jogo de trapaças ou que assiste este espetáculo com indiferença, mesmo em estado individual e coletivo de desalento, é por que já está minada pela base ideológica do bloco no poder. Para combater estes réprobos para a sociedade, as esquerdas precisam refundar a união, a solidariedade, as alianças dos partidos políticos, das organizações da sociedade civil, para consubstanciar a hegemonia das classes trabalhadoras, sempre no caminho para os horizontes da democracia ativa, participativa e viva – uma sociedade mais igual e mais justa.
Portanto, esquerdas do Brasil, uni-vos!
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
Belo texto, professor Kuiava!
Obrigado, Alexandre.
Meu caro Kuiava, Um belo texto, mas discordo de um dos nomes que você agrupa na esquerda… Marina Silva não é de esquerda!!! Se foi um dia, faz muito tempo. Hoje com os compromissos políticos que tem assumido, faz parte da direita, no máximo de centro-direita…
Wanderley, eu também penso que Marina não é da esquerda também. Mas ela está num partido ideológico de esquerda. Ela nega sua classe de origem- seringadora. Hoje é modelo de moda para mulheres da alta aristocracia. Caso seja eleita estará a serviço e interesses das elites. Com certeza.