ESPETÁCULOS RISÍVEIS – TRAGÉDIAS REAIS (Por José Kuiava)

As cenas telenovelisadas mais dramáticas que assistimos nos últimos dias seriam espetáculos risíveis se não fossem tragédias reais do nosso cenário político nacional – um real e verdadeiro campo de batalhas. Selecionei três cenas – “fatos reais” – que mais me aborreceram e perturbaram meu sono nas últimas noites.

Cena um – a dança de Alckmin, com uma dançarina. Ele, um tucano burguês nobre, rigorosamente enfatiotado e engravatado, muito ridente, dançando forró com uma mocinha elegante, vestida a rigor, uma “modelo ecológica”, também muito simpática e sorridente. A dança aconteceu em Brasília num evento mundial em defesa e preservação da água – comercialização e privatização, numa versão mais real e verdadeira – um bem vital de todos. Ele, Alckmin, muito excitado já encenando o ensaio da campanha eleitoral, um ator candidato a presidente do Brasil. Para cativar o público, escolheu uma mocinha bioecológica, uma imagem de defensora da água, muito ridente e rebolando seu corpo com muita graça, embelezando a feiura carecatorial de Alckmin. Uma verdadeira graça feminina de aparência, escondendo a podridão política de quem quer ser presidente do Brasil. Os dois corpos exibindo uma popularidade encenada – porque falsa – para a campanha eleitoral. Tempos atrás, o também tucano e prefeito da cidade de São Paulo, Dória, certa vez, se vestiu de gari e foi varrer ruas diante das câmeras, para fantasmagorizar sua real e verdadeira imagem de um burguês simples e popular. Uma imagem grotesca de quem ganha milhões no comando político se vestir de roupas e fazer o trabalho de quem ganha salário mínimo por mês. É claro, isso somente por um instante, o suficiente para as câmeras da mídia registrarem o gesto de humildade e solidariedade. Está muito claro no cenário político da conjuntura atual o empenho dos protagonistas – políticos apressados – a candidatos se fantasiar de “novos políticos novos”, porque se aparecerem como são na realidade – “velhos políticos da velha política” – não se elegerão.

Cena dois – o bate-boca de ministros do Supremo – Roberto Barroso e Gilmar Mendes. É mais uma cena real e mais uma prova de desmascaramento da imagem histórica de uma Justiça impecável e inquestionável perante a opinião pública. Até bem pouco tempo ninguém podia duvidar da conduta ética dos juízes nas decisões de condenação e absolvição de acusados e de criminosos. Agora, juízes e ministros, desembargadores e procuradores do Supremo, sempre muito bem postados e vestidos de togas e becas, vem demonstrando com muita clareza em seus posicionamentos e em suas decisões uma preferência ideológica e política, renegando os princípios éticos e legais. A prova mais recente desta verdade é o bate-boca do ministro Gilmar com o ministro Barroso, na sessão do dia 21.03.2018. Uma prova de que no Supremo não há argumentos lógicos, legais, éticos e dialógicos. Gilmar falou: “Agora eu vou dar uma de esperto e vou conseguir a decisão do aborto, de preferência na turma com dois, três ministros. Aí a gente faz um 2×1”.  Barroso respondeu: “Me deixa de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia. (…) Vossa Excelência não consegue articular um argumento. Não tem nenhuma ideia, só ofende as pessoas. Qual é a sua ideia? Qual é a sua proposta? Nenhuma. É bílis, é ódio, mau sentimento. Vossa Excelência é uma desonra para o tribunal. Vossa Excelência, sozinho, desmoraliza o tribunal. É muito penoso para todos nós termos que conviver com Vossa Excelência aqui. Não tem ideia, não tem patriotismo, está sempre atrás de  algum interesse que não o da Justiça”. Sem comentários.

Cena três – “Seria covardia não ser candidato”, assim falou Temer à revista IstoÉ, confirmando que concorrerá à Presidência em 2018. Aqui está mais uma prova histórica: golpistas, invasores, ditadores… todos precisam de coragem, e não ter medo nem dó de derrubar e liquidar estados, governos democráticos, sociedades e nações. Ele, o Temer, com 1% de intenção de votos e com 3% de brasileiros que aprovam o seu governo golpista, será (é!) candidato à Presidência do Brasil. Assim, só por valentia! Mandando a covardia para o fogo do inferno. Esta demonstração de excedente de coragem e valentia não seria um disfarce por conta do medo de ser condenado e preso frente às dezenas de processos de crimes, hoje retardados e engavetados no Supremo?

 

José Kuiava escreve neste Blog às quartas-feiras.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.