Erro de previsão: uma guinada de Temer

Com a atitude de retirar da pauta de seus interesses a Reforma da Previdência, desiste o governo Temer da joia da coroa das exigências do mercado e da política neoliberal que vinha implementando a toque de caixa. Não haverá Reforma! E para não confessar a falta de votos no Congresso, a justificativa foi o estado de intervenção na segurança do Rio de Janeiro.

Considerando que urubólogas e leitoas avançavam que haveria suspensão para votar a reforma, imaginava que o interesse era quebrar toda e qualquer possibilidade de oposição ao desejado pelo mercado, evitando os votos em separado das emendas. A reforma sairia tal como encomendada. Pois não é que a guinada de Temer parece ter sido outra!!!

Até agora, rezou ajoelhado e cabisbaixo o Vampirão o credo neoliberal. Tomou todas as medidas impopulares que lhe impunham: congelou gastos, chegou às raias de reintroduzir o trabalho escravo e desejava acabar com a aposentadoria dos trabalhadores. Ia por aí caminhando e crescendo em rejeição.

E eis que, de repente, não mais do que de repente, se dá conta do suicídio: a política neoliberal não enterraria somente o povo, a economia, a vida, o sangue de todos: tudo sugado pelo rentismo ao gosto do ministro Henrique Meirelles, aquele que se acha ungido para a presidência com os votos dos banqueiros e especuladores. Deu-se conta Temer de que seria um Vampirão sugado também.

E nas panelas e panelões do palácio, urdem um guinada. Há muita violência no país? Não pensemos nas causas, combatamos com marketing e com força militar. Decreta-se a intervenção. Medida que tem apoio popular! Medida contra a qual nem banqueiros nem gerentes de fundos, estes serventuários do capital, podem contrapor-se. E o próprio presidente deixou aberta a possibilidade de que eles ganhariam a desejada reforma da previdência. Deu-lhes um tombo: apoiado pela militarização da política, retira de tramitação a reforma. E continua a baixar os juros da SELIC.

Ora, para os militares não fazerem papel de bobos, haverá necessidade de aumentar os gastos sociais – ao menos com a segurança. Está aberto o caminho para se desfazer do congelamento de gastos. Afinal, por baixo do tema segurança, poderão ser liberados recursos para recuperação ambiental dos morros, para ações pontuais em educação e cultura, para a assistência social à saúde, etc… Um golpe de mestre!

Liberta-se o governo da “Ponte para o Futuro” ao perceber que o futuro era o abismo desejado apenas pela ganância do rentismo da atual fase do capitalismo improdutivo, o capitalismo financeiro. Conseguiu o governo Temer dar marcha ré e recomeçar em outros patamares… Ele tem pouco tempo: deverá chover dinheiro para que de imediato apareçam resultados.

A questão que deverá enfrentar – e enfrentará ameaçando não mais sustentar com verbas – será a da comunicação pela mídia tradicional, TVs e jornais. Afinal, a Globo não vai deixar barato este abandono do projeto neoliberal tão acalentado e cantado em prosa e verso. Reaparecerão as urubólogas dos tempos dos governos petistas ou serão compradas para o novo projeto de poder da quadrilha temerosa? Os porta-vozes do mercado ficarão quietos? Pode ser que sim: eles estão sem opção política para 2018. E entre perder um pouco neste ano, para continuar ganhando no ano que vem, eis poderão esquecer o que diziam ontem, e começar a defender o aumento de gastos públicos!!! Seus discursos são venais, e discursos venais não têm qualquer princípio que não seja o que mais enxergam: cifrões.

Há analistas que já estão apostando que Temer será candidato em reeleição e que disputará o segundo turno com qualquer dos candidatos que a esquerda conseguir levar ao segundo turno; há também que diga que Moreira Franco será o futuro governador do Rio! Isso é uma questão de tempo, e o tempo é curto para obter resultados com a força e somente com a força.  E ela vem com tudo: quem viu os caminhões carregando tanques velhos e enferrujados pela Dutra sabe que todo o projeto desta militarização é para assustar e para obter resultados visíveis imediatos.

Tudo agora parece ser uma questão de tempo e de urgência. 

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.