Num dos posts de sexta-feira passada – Que os ossos dos miseráveis se tornem armas… – cometi um grave erro de leitura. Fui levado a ele pela citação que referi na crônica e que aparece no seguinte contexto em Fernando Britto:
Não é à toa que, no Facebook, o professor Gilberto Maringoni fala do entusiasmo do empresariado (empresariado?) brasileiro com a sua “solução final”:
Pouco importa se as mãos de quem dirigirá o país estiverem sujas de sangue, se há apologia de Brilhante Ustra, ou se há pregação misógina, homofóbica ou de ódio aos pobres. Isso é bobagem. Estamos falando de negócios. E negócios são coisa séria!
(disponível em http://www.tijolaco.com.br/blog/o-mercado-quer-seu-selvagem-e-sonha-com-fadinha-jantavel/)
Estava o Professor Maringoni fazendo ironia com os empresários, ao cmentar os aplausos dados por eles a Bolsonaro. Obviamente a frase pode nunca ter sido dita por algum economista neoliberal, porque em geral eles escondem o que efetivamente pensam. Assim, tudo o que falei na crônica postada sobre esta forma de encarar o mundo pelos neoliberais, mantenho.
Mas devo, por razões óbvias, que ressaltar: não é isso que pensa o Prof. Gilberto Maringoni e ao aliá-los ou coloca-lo entre os economistas neoliberais e descarados, cometi um grande erro. Erro duplo: por não ter ido verificar o contexto do enunciado de Maringoni em seu Face, ainda que dada a fonte por Fernando Britto, e por insultar o Prof. Maringoni ao toma-lo como neoliberal – para mim não há ofensa maior do que chamar alguém de neoliberal!!!
Assim, tenho o dever de pedir aqui desculpas não só ao líder do PSOL mas também aos leitores do blog que foram levados a pensar mal de Maringoni… Embora sem comentários tanto no blog quanto no whatzap, Corinta me chamou atenção para meu erro, e lhe agradeço.
Segue a própria crônica do Prof. Gilberto Maringoni, para que o leitor se delicie com suas ironias…
O EMPRESARIADO LIGOU O FODA-SE
Os aplausos histéricos do empresariado a Jair Bolsonaro indicam algo muito grave, para além da simbiose do liberalismo com a extrema-direita ou com a perda de escrúpulos de uma classe que nunca renegou a escravidão.
O apoio mostra que pode haver um movimento para se ter como “normal” ou “aceitável” para “pessoas de bem” o apoio a um notório defensor da tortura, do extermínio e do permanente estado de guerra como forma de convívio social.
Ou seja, a normalização de Bolsonaro busca tornar palatável ao jogo democrático a ideia de não haver nada demais em se pregar o fim da democracia.
A – digamos – burguesia brasileira aderiu de mala e cuia ao golpe de 1964 e deu apoio entusiasmado ao mais liberal dos cinco governos da ditadura, o de Castello Branco. Ninguém tentou salvar as aparências.
A contrariedade só começou a se manifestar a partir de 1974.
Embora a gestão de Ernesto Geisel (1974-79) tivesse na eliminação física da oposição sua ação política de última instância, o projeto econômico centrado no Estado é que indispôs frações crescentes da burguesia com o regime.
Censura, cassações, prisões, tortura, assassinatos, impedimento de eleições, nada disso preocupava a plutocracia da época. A pedra no sapato se deu quando a ditadura começou a se afastar do alinhamento automático a Washington e ao mostrar que o mercadismo absoluto não era a senda a ser seguida.
Eugênio Gudin, o grande ideólogo do neoliberalismo brasileiro desde os anos 1930, ao receber o prêmio Homem de Visão, disse o seguinte em seu discurso, no final de 1974:
“O capitalismo brasileiro [era] mais controlado pelo Estado do que o de qualquer outro país, com exceção dos comunistas.
Setores industriais, como os de energia elétrica, siderurgia, petróleo, navegação, portos, estradas de ferro, telefones, petroquímica, álcalis e grande parte do minério de ferro, que nos Estados Unidos estão nas mãos das em presas privadas, foram no Brasil absorvidos pelo Estado. Bem assim, em grande parte, a rede bancária que controla o crédito para as empresas privadas”.
Mais de quarenta anos depois, essa classe degradada e decadente tem os mesmos objetivos, além de buscar subsídios estatais e tentar vender suas lojinhas a algum grupo gringo.
Pouco importa se as mãos de quem dirigirá o país estiverem sujas de sangue, se há apologia de Brilhante Ustra, ou se há pregação misógina, homofóbica ou de ódio aos pobres. Isso é bobagem. Estamos falando de negócios.
E negócios são coisa séria!
https://www.facebook.com/search/top/?q=gilberto%20maringoni
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Obrigada Geraldi. Leio seus textos e os que você seleciona para nós de manhã para me dar ânimo e sempre repasso. Grande abraço. Maria Victoria Benevides