Epigráfico, de Adélia Prado

A anelante argila

põe brincos de diamante

porque ama a Beleza

e nisto é tenaz,

na fé de sobreviver à morte,

a que não existe.

Pois vêm da vida os mortos

falar a alma o que só ela escuta.

Contra o que se sente

toda filosofia é mesmo vã,

o livro é sagrado

quando o apregoa

é revelado na carne

onde os joelhos vacilam

e os pelos crescem.

Ter medo é saber do inaudito,

ninguém até hoje explica

por que batem as pálpebras.

(Adélia Prado. A duração do dia. RJ : Record, 2011, p. 33)

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.