Começo a ler “Erotismo” de GEorges Bataille. O prefácio, “O lugar do erotismo”, de Raúl Antelo não há de me fazer desistir do livro, porque sempre é melhor ler as fontes do que os epígonos. Mas vou partilhar pérolas deste prefácio:
1. “Os semiogramas de Masson, segundo Barthes, ilustrariam as principais proposições da teoria do texto que ele vinha tentando impor (grifo meu!). A pintura abre nelas o caminho para a literatura, já que teria cabido a ela postular um objeto desconhecido, o Texto, que derruba a separação entre as artes.”
2. Tal como acontece na intertextualidade, os signos asiáticos são não modelos inspiradores, mas condutores de energia, reconhecíveis pelo traço, e não pela letra. O que se desloca, então, é a responsabilidade da obra, que deixa de ser consagrada por uma propeidade estreita e passa a viajar ao longo de um espaço cultural aberto, sem limites, sem hierarquias.” Por que então dizer que são de Masson os semiogramas????
3. “Masson olha o corpo. Olha-o pela primeira vez, de tal sorte que seu trabalho nos diz, em suma, que é preciso que a escrita seja revelada na sua verdade (e não na sua instrumentalidade), é preciso que ela seja ilegível. Embora não acredite que Masson jamais tenha tomado banho, entendo a metáfora deste olhar primeiro… mas se a escrita desvela a sua verdade precisamente quando se torna ilegível, como puderam críticos como Barthes ler o ilegível? Ler Masson? Ler Bataille? Ou se trata simplesmente de jogar palavras ao vento, no jogo do sem sentido, mas cujo sentido os gênios da teoria do texto (Barthes, Kristeva, Raúl Antelo…) afirmam ser X ou Y?
4. “Mas Maurice Blanchot, em O espaço literário, já tinha argumentado em favor da negatividade absoluta, a morte como a possibilidade extrema do homem, uma vez que só o homem pode morrer, de sorte que a morte ainda é para ele uma possibilidade, uma potência, porque a rigor ela é a possibilidade da impossibilidade.” A possibilidade da impossibilidade só pode ser o gozo do defunto! O gozo do suicida morto que só críticos deste calibre conseguem ler no texto do defunto que encontram: eles lacanianamente sabem que aí está o gozo supremo. Por que não o experimentam? Pode ser que aí abririam outras possibilidades potentes para o texto…
Ficam registradas estas reflexões tão profundas para que algum leitor mais reflexivo do que eu me explique o que podem quer dizer para além da definição metafísica do sem sentido da vida burguesa! Melhor do que ler estes críticos, bom retornar a Paulo Emílio e seu Três mulheres de três PPPes.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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