É preciso falar sobre a Copa do mundo de Futebol, tem mulher assistindo e torcendo, mas antes devo falar de algo que para além da política reflete a maldade de um grupo com a classe trabalhadora e os pobres, não é sobre o vexame: misógino e fascista da entrevista da presidenciável comunista Manuela, sobre isso e como a sociedade brasileira tem sido humilhada por representações de setores retrógrados, prometo falar em breve. E como pobre paga dívida: esperem!
Confesso antecipadamente que no jogo do Brasil contra o time da Sérvia, já pairava certa tranquilidade pelo resultado desfavorável alcançado pela Alemanha e sua precoce volta para casa, naquele clássico sentimento, estúpido, de que o Brasil não precisa ganhar a copa, basta apenas que a seleção da Alemanha, nosso algoz no 7X1, perca. Lógica futebolística limitada a minha.
Eu estava feliz com os dois gols, seguindo em busca do título, e pensando em mais um dia de ponto facultativo no trabalho, quem é trabalhador sabe bem que isso é maravilhoso. E durante o jogo, pensava como deve ser difícil para o Lula assistir ao jogo da sua cela, e mais que isso é agravado pelo fato de ser uma prisão política.
Mesmo que Lula ouça as manifestações da vigília, as comemorações dos gols, não são possíveis ouvir e sentir as frustrações frente aos nossos chutes perdidos, aos perigos dos adversários grandalhões na nossa pequena área. Sei que tem uma TV na sua cela, mas não falo de ver as imagens, mas de sentir coletivamente e com as pessoas com as quais gozamos de certa intimidade para entre arroubos de alegria e frustrações soltar um ou outro palavrão ou grito mais animado.
Sem censura.
“O meio campo é lugar dos craques /Que vão levando o time todo pro ataque / O centroavante, o mais importante /Que emocionante, é uma partida de futebol!”(É uma partida de futebol. Skank)
Tem uma classe social no Brasil que detesta essas manifestações, esse exagero de sentimentos: esse sangue, suor e lágrimas que se organizam em torno de pequenas vitórias. – Que pelo menos se gourmetize as comemorações! – E assim sambam em salões, odorizados com essência herbal, (porque a palavra erva remete a outra coisa) usam roupas e acessórios originais de torcedores mais torcedores do que aqueles que vestem camisetas compradas em varais nas ruas das cidades, e não gritam, no máximo um: – oh! Que legal!
Então essa gente, não é povão. É gente, e com gente é diferente.
Penso que muitos trabalhadores, sem opção negociada com o patrão, ouvem e veem o jogo em seus postos de trabalho, mas poucos devem fazê-lo sozinho, sem a cumplicidade que o futebol oferece nesses eventos, a situação de Lula é diferente: vigiado pelo poder sensor do conservadorismo burguês e supervisionado pelo sentimento policialesco e hipócrita da mídia e justiça tupiniquim.
Os fogos e rojões Lula deve ouvir, mas sem ter o abraço garantido nas mudanças de placar que nos beneficie, tornam-se meros barulhos que assustam os cachorros.
Sofrer é com o povo, mas com gente é diferente.
Em outro jogo, sem tumulto ou multidões, sem torcida e vitória, acontece um xeque–mate no colegiado da segunda turma, encena-se e aspiram aos elegantes jogos enxadrísticos, usa a jogada chamada Jucá, esconde tucanos, desconsidera as regras, e segue em ritmo de golpe, movimenta-se pelos corredores para derrubar o rei.
Sem monarquia, Lula comenta o jogo popular, apresenta suas necessidades e fragilidades, mas quem fala não diz só do que fala. Eu sinto de cá que é chegada a hora e confirmo nos comentários de Lula, que leio pelo intermédio do Trajano.
Cada copa é uma copa. Liberdade para Dirceu e absolvição de Gleisi não libertam Lula. Cada jogo é um jogo. E a estratégia do tabuleiro já foi anunciada no áudio de Jucá, mas os dribles que saem da marcação são próprios do povão, de uma partida de futebol.
A melhor defesa é o ataque, não temos que esperar pelo Neymar, todo time precisa se colocar em campo, mesmo sem o craque para levar o time todo para o ataque como diz a canção… aliás, nenhum dos melhores jogadores até agora apareceram.
Temos muito jogo e futebol para jogar.
Professora, militante, escritora
Mara Emília Gomes Gonçalves é formada em Letras pela Universidade Federal de Goiás. Gestora escolar, professora, militante, feminista, negra. Excelente leitora, escritora irregular. Acompanhe-a também em seu blog: LEITURAS POSSÍVEIS.
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