Nada mais emocionante e reconfortante do que ouvir, dia e noite, que o mercado é a solução, que no mercado tudo se regulariza, que o Estado deve deixar o mercado fazer o que bem entende, porque o mercado tudo entende e é imediatamente sensível a nuanças de qualquer brisa.
Mas nada melhor ainda do que um mercado onde se joga sem riscos! E quando há perdas, o tal de estado mínimo se torna o estado máximo para os “investidores”. E no caso brasileiro, cuja elite jamais perdeu o complexo de que é “da colônia”, que odeia esta colônia em que infelizmente nasceu, os investidores estrangeiros têm toda garantia: nossa elite fica envergonhada se um estrangeiro, no jogo do mercado que tanto defendem, perde alguma coisa! Não pode! Aqui os dólares dos “investidores” são garantidos por um estado máximo – além de pagar, para os rentistas, a mais alta taxa de retorno do mundo – este mesmo estado mínimo para os nacionais garante que os “investimentos” na produção também não corram riscos.
Particularmente quando um Pedro Parente ou outro comissionado qualquer da elite assume poder de mando, rezando pelo credo neoliberal, somente defendido pelo brasileiro PSDB no mundo contemporâneo – até o FMI e Banco Mundial estão migrando para outras latitudes. Pois Pedro Parente, em prejuízo da empresa que dirige, garante um presentinho de Natal e Ano Novo os capitalistas que não correm risco: uma indenização de quase 10 bi porque eles perderam “valor de mercado” quando compraram ações da Petrobrás!!! No jogo do capitalismo, os próprios capitalistas sabem e fazem isso: aumentam e diminuem o valor das ações segundo seus mais exagerados desejos de ganhos… Pois compraram ações da Petrobrás, muitos deles quando estas ações estavam muito baixas. As ações foram valorizadas.
Com o ataque de Sérgio Moro, devidamente instruído pelos “órgãos de fomento à destruição do mundo” norte-americanos – CIA, FBI, Departamento de Estado – que espionaram à vontade a Petrobrás, eis que as ações perdem valor de mercado (não perdem valor real, porque o bem real permanece o mesmo, ops! Não permanece mais porque está sendo dado de presente para as petroleiras!). Perdido o valor de mercado, que os “investidores” não pagaram, simplesmente tinham expectativa de que poderiam ganhar vendendo as ações, eis que há uma queda no valor.
Mas eles não se preocupam: favorecem um golpe no país; garantem a indicação de um neoliberal abobado que defende o “mercado sem riscos para os ricos”, e ganham uma indenização milionária de presente pelo risco que não correram. Mas permanecem donos das ações da Petrobrás, que estão retomando os valores anteriores ao escândalo Sérgio Moro. Ou seja, poderão vender estas ações com lucro além de receberem um presentinho de Pedro Parente, este parente (no sentido romano de “parentes”) dos norte-americanos.
Michel Temer e o Congresso Nacional já haviam dado às petroleiras nada mais nada menos do que 3 trilhões de renúncia fiscal!!! Agora um pouco menos do que 10 bilhões… E retiram dez reais do salário mínimo que “não faz falta ao povo” como declarou Henrique Meirelles, o imbecil.
Nossa elite deixou de ser dependente, mas se tornar submissa, achando-se “global”. São globais porque dão espetáculo de burrice e ódio a seu próprio país. Por isso esta elite não pode nos governar: deve ser apeada do governo que tomaram por um golpe.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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