Eleições sem Lula são uma farsa

Cada vez mais as pesquisas eleitorais estão mostrando o crescimento da candidatura Lula à presidência. Nem no curral eleitoral do PSDB seu candidato levanta voo. E agora com a decretação da prisão de seu secretário, por onde circulou a propina, mais vexame fará Geraldo Alckimin se recolher a sua insignificância eleitoral. E até João Dória não engana mais ninguém com seus míseros 1% de eleitores.

Ao mesmo tempo, cada vez mais aquela instituição sob a batuta de Madame Carmen pratica todas as obscenidades possíveis para evitar que a candidatura de Lula aconteça. Um só homem, mancomunado com Madame, faz atrasar qualquer julgamento para prestar serviços. A quem? Aos holofotes da Globo? Para esconder algum rabo, como dizem por aí?

Acontece que até mesmo a elite brasileira está percebendo que o futuro do Brasil se escreve Lula. Porque sabe: qualquer outro eleito não terá legitimidade. E sem legitimidade, impossível o voo de Fênix para sair do buraco a que o golpe midiático e jurídico nos conduziu. Sabe também a eleite o quanto lucrou nos tempos de governos de Lula. E não é burra: não está lucrando hoje tanto quanto naqueles tempos que também ela quer que retornem.

Sobra a Rede Globo. A emissora perde audiência dia a dia. A emissora perde seguidores. A emissora não consegue emplacar seus candidatos. Será que a elite brasileira vai querer se abraçar com a moribunda, e ir junto para a cova? Não, a elite brasileira é mesquinha, é egoísta, é tacanha, mas não é burra nem suicida.

Então ficamos nesse impasse: cresce a candidatura de Lula; o Judiciário chafurdou tanto, está tão desmoralizado – é hoje uma das instituições com menos crédito no país – que até lá, ainda sob a batuta de Madame Carmen, começam a aparecer dissidências. Revoltosas, as/os meninas/os já não querem apenas dizer sim à Madame e a Rede Globo que a comanda.  Haverá sessão plenária retirando Lula da cadeia? Madame não vai deixar. Mas o PT registrará a candidatura. Fux vai denegar. E o recurso irá àquela casa plenária. Mas a pauta estará resguardada por Madame, e a Rede Globo se sente protegida protegendo.

E haverá a eleição. Se é uma farsa sem Lula, está criado o impasse! A farsa deve ser referendada por Lula indicando um candidato seu? Esta parece ser a posição de grande parte da esquerda – e aqueles da esquerda que defenderam o apoio a Ciro Gomes devem estar hoje bem envergonhadinhos por seu candidato de direita estar mostrando as garras. Mino Carta, por exemplo, indicou Celso Amorim. E Haddad não só se filiou à corrente liderada por Lula dentro do PT, num gesto de futuro candidato ungido, mas tornou-se advogado de Lula para poder entrar na solitária em que o mantém preso a República de Curitiba, tornando-se assim seu porta-voz. É candidatíssimo a candidato ungido.

Referendando um nome, Lula estará referendando as eleições. Um risco. Se Haddad – ou qualquer um que venha a ser o candidato – perder as eleições, não se poderá falar que o pleito foi uma farsa! A esquerda e o PT terão que engolir o veneno que estarão ajudando a produzir no caldeirão das bruxas togadas e não togadas.

E se Lula transferir todo seu apoio a seu candidato, um fato histórico inédito? Se isso acontecer, então o eleito tem a obrigação dar um tapa no sistema judiciário, e convidar Lula para ministro plenipotenciário, porque somente ele conseguirá paz e união do país e um retorno ao crescimento que exige uma mínima parcela de distribuição de renda.

Trata-se, agora de esperar para ver. Mas eu continuarei sempre: Lula Livre, Lula presidente. Sem interpostas pessoas…

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.