Ele e Lula: a hora H

Tenho dias sem inspiração, inexiste a menor que seja a vontade de escrever. Desavergonhadamente revelo isso no meu texto, não tenho em mim a culpa que tanto tentam me impingir. Então leio, ouço músicas que gosto e elas me cortam o silêncio.

Como não ter o que dizer diante de tantas coisas, como não escrever diante de fatos que precisam de registro.  A dor nos imobiliza, mas em outros momentos a dor nos instiga. Prometo que não me alongarei hoje, e sem alongamentos as dores são maiores e posteriores.Trocadilho infame esse. Então vou dizer hoje sem “arrodeios”:

– Estou muito puta! (Ih, danou! Na semana passada foi a história do broxa, essa semana venho com mais expressões sem requintes e pudores)

Haddad é Lula, Lula é Haddad. Até aí tá tudo certo, mas quando entra o pessoal da propaganda é alma do negócio é que as coisas ficam um tanto estranhas. E ficam mesmo. Recebi ontem em minhas redes sociais um videozinho singelo até ensinando as pessoas simples a falar o nome do substituto: Haddad.  Senti em meu rosto queimar as bochechas, e depois lia comentários dizendo de como ficou bom, didático. Na minha cabeça, eu só pensava:

– Por favor, não peçam minha opinião, Deus, por favor – E ninguém pediu, até porque a gente sabe bem que o espaço de fala da mulher negra é sempre muito questionável, que o diga a advogada ontem que foi arrastada no exercício de seu trabalho. (ver matéria aqui: https://www.geledes.org.br/porque-ninguem-fez-nada-pela-doutora-valeria-por-adriana-cecilio-marco-dos-santos/). E então estava tudo bem, obrigada! De nada! Até que… Olhando a minha timeline no facebook(me segue lá) um monte de pessoas sacando, como num filme de bang bang, os diplomas de Haddad. Ninguém deve imaginar minha cara de espanto, mas vou dizer para vocês como é: dois olhões pretos arregalados, bocona recolhida e murcha, e paralisada… uma sobrancelha arqueada e a outra não, quase um gif de uma mulher negra americana usando sua expressão comum:  – what are you fuck man?

Vamos por partes: Haddad é Lula, e Lula é Haddad.

Sendo assim, Lula foi o melhor presidente da história desse país, e sofreu e sofre ataques constantes por parte das elites e dos lambe-botas não porque não tem curso superior, mais do que isso o recado/legado que Lula transmite, em especial para seu substituto deve ser que representação importa. Não a cênica, aquela que o cara finge não saber como é pronúncia de Haddad, ou Alckmin que virou Geraldo e continuou do mesmo tamanho. Ou ainda aquela que o cara que vai lá comer um pastel no mercado, pega na mão do Paulo negão e depois limpa, ou usa um chapeuzinho sertanejo pra fugir do lobo mal, ou para se passar por Lula, ops, não!

Representação importa quando envolve respeito e identidade. Se emocionar quando fala que reduziu a fome no país, significa que você sabe o que é fome, levar água, pra região da seca enfrentando inclusive os movimentos que se opuseram, mas muitas vezes se calam para os pivôs que irrigam o agronegócio e mandam água para fora do nosso país, colocar gente preta na universidade significa que você sabe o que é ser preto na nossa sociedade. Esse saber não é titulado, poderia ser e foi, mas não é esse seu valor.

Haddad seja Lula. Se eu pudesse te dar um conselho, do alto da minha mais completa ignorância é seja cada vez mais Lula, sem títulos, sem carteiradas, sem modos, sem senhores imperiosos que vão te dizer que o mercado, os juros, os commodities, a igreja, a família, que setores esperam isso ou aquilo outro de você.

O povo espera o Lula de você, e se tem alguém que não abandonou o Lula, e isso está muito claro é esse povo: simples, faminto, sedento.

Porque ao dizer dos seus títulos, ou que os mais simples não sabem sequer dizer seu nome, as pessoas querem te distanciar do Lula. Não se iluda. Representação importa, e você representa o Lula, então seja Lula, seja essa gente que insiste, que resiste, que chora, que sofri, que caminha, que dorme em vigília, que se emociona e que pede Lula livre por todo canto do país.

As pessoas querem de novo ser feliz, os golpistas se arvoraram a construir uma ponte, diziam para o futuro, é bem assim que as coisas podem ser colocadas quando não há preocupação com o povo, com as pessoas, com o humano como se pudéssemos trazer para o concreto os sonhos, os desejos, por meio de uma ponte.

– Olha a chuva! É mentira! Olha a ponte! A ponte quebrou.

Permita-se conhecer as pessoas, antes de se dar a ser conhecido. Muitos dirão que não há tempo: – É mentira! A chuva de votos já começou, e a ponte? Essa quebrou! E a felicidade? Na poesia pode rimar com Haddad.

Professora, militante, escritora
Mara Emília Gomes Gonçalves é formada em Letras pela Universidade Federal de Goiás. Gestora escolar, professora, militante, feminista, negra. Excelente leitora, escritora irregular. Acompanhe-a também em seu blog: LEITURAS POSSÍVEIS.

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