Eduardo Bolsonaro, l’enfant terrible

Primeiro o “garoto”, que é deputado federal com mais de milhão de votos nestas eleições, disse que o STF poderia ser fechado por um soldado e um cabo, sem precisar sequer de um jeep.
Apesar da nota pífia e inodora do atual presidente do STF, o subcomandante Dias Toffoli, que deveria zelar pela instituição que dirige, a repercussão foi enorme. Eu não creio na justiça dos ministros do atual STF, mas a Corte em si é uma instituição e o direito uma conquista da humanidade. Dias Toffoli não faz jus à história desta conquista… aliás, ele não anda fazendo jus sequer à história recente do país quando se rebatizou o golpe de 1964 como “movimento”.
Assim, com a repercussão negativa, o pai do enfant terrible teve que vir a público dizer que advertiu o ‘garoto’ de mais de trinta anos, como parlamentar e como pai. Considerando o que pensa o candidato, a advertência deve ter sido uma boa surra… já que educar é usar violência, segundo o que prega sua candidatura à presidência.
E na fala pública em que diz que o “garoto” já pediu desculpas (ao pai? Ao STF?), mentiu descaradamente, imaginando seus ouvintes como imbecis seguidores de mentiras do whatsapp: disse que houve uma pergunta de brincadeira, e que o filho respondeu em tom jocoso, brincando… Ora, todo mundo tem disponível o vídeo com fala do ‘garoto’ irresponsável. E nem a pergunta era uma brincadeira, nem a resposta era jocosa!!! Qualquer falante da língua portuguesa percebe os “tons avaliativos” de uma fala, nem precisa ser linguista para ver que se fala a sério na conferência que proferia o “garoto”. Mas se for preciso, para a PF, um laudo técnico, qualquer linguista poderá fornecê-lo, ainda que eu acredite que novamente teremos uma decisão judiciosa do tipo daquela que inocentou o pai deputa e agora candidato à presidência quando pregou o estupro. Ficou por conta da “oratória inflamada” do debate parlamentar… Agora, a conclusão do inquérito aberto sobre as declarações do enfant terrible seguirão a jurisprudência aberta pelo julgamento inocentador do pai Bolsonaro.
Como se sabe, um menino malcriado, um “garoto” acarinhado por um pai violento não se emenda fácil. Então, para fazer jus a seu modo de ser, no domingo, em seu discurso na manifestação da Av. Paulista, aquela mesma em que o pai fez um discurso ameaçador, o menino terrível pregou uma guerra com um país vizinho, falando em “missão de paz” armada: invadir a Venezuela para derrubar seu presidente. Textualmente, “O general Mourão já falou: a próxima operação de paz do Brasil vai ser na Venezuela. Vamos libertar nossos irmãos venezuelanos da fome e do socialismo”.
O garoto é realmente indiscreto: diz em público o que se planeja em segredo. Às vezes, estes “terríveis garotos” prestam, sem querer, um serviço à democracia e à verdade! Por isso, deixem o Eduardo Bolsonaro falar… ele contará realmente quais os planos de governo do seu pai e sua equipe militaresca.

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.