A cada nova notícia liberada pelo The Intercept Brasil, agora com suas parcerias com órgãos da mídia tradicional – algumas delas das mais ultrajantes golpistas de que se tem notícia na história nacional, como a revista OIA, que mesmo apresentando novidades com Glenn Greenwald jamais a terei em mãos pelo asco que me causa – mais vai ficando claro o que sabíamos: da armação, da perseguição, da anulação do direito, da imundície de um juiz e de um chefete de operação dentro do MPF, o Deltan Dallagnol, cuja abjeta subserviência causa escândalo e nojo.
Mas esta de uma perseguição direta, pelo “valor simbólico”, e antes que se realizasse o segundo turno das eleições presidenciais, contra um senador eleito pelo voto popular, uma “busca e apreensão” cinematográfica para se transformar em palanque político, realmente, esta, Sr. Deltan, foi além da conta…
Aliás, os diálogos entre os procurados agora vazados, arrombam o rabo do Deltan, mostrando que muitos deles tiveram que obedecer ao chefete de ocasião mesmo não concordando com as instruções emanadas da voz de marreco ou da pena do inquisidor mor da República de Curitiba. Pobre Curitiba, que não merece ter seu nome associado a estes criminosos encobertos de justiceiros.
O imberbe pregador e palestrante, aquele que queria 2,5 bilhões para sua “fundação”, aquele que obedeceu tanto, se curvou tanto para o então juiz que mostrou a bunda nua a seus colegas, tem razão: o valor simbólico é fundamental. Ele constrói compreensões, hegemoniza narrativas, leva para a rua milhões de pessoas e continua a levar, como aconteceu neste último domingo.
Bourdieu escreveu um livro, cujo título é “O Poder Simbólico”. Desde a virada linguística no pensamento filosófico, desde a emergência dos estudos semióticos, desde a retomada dos estudos retóricos, cada vez mais compreendemos que o simbólico é constitutivo das consciências humanas, que o exercício do poder simbólico é uma arma que, caindo nas mãos sujas de um Joseph Goebbels ou de um Deltan Dallagnol, ser abjeto que somente age sob o impulso de outra mão suja, a de Sérgio Moro, levará a consequências desastrosas. Levou a Alemanha e o mundo ao caos (leiam-se os excelente A mistificação das massas pela propaganda política, de Serge Tchakhotine e As benevolentes, de Jonathan Littell, já comentado neste blog); e levou o Brasil aos milhões de desempregados, ao retorno ao mapa da fome, ao nazi-fascismo no poder executivo e a um Judiciário abalado e desmoralizado, sem a capacidade da mítica Fênix de levantar-se das cinzas a que estes criminosos o reduziram.
Tranquilize-se, Dallagnol, que o exercício do poder simbólico continua em mãos da elite a que você serve e da qual quer participar, pela burrice de achar que pelo simples fato de ser procurador virou elite….
Todos sabemos que a sem-vergonhice, a sujeira, as cagadas feitas, as ilegalidades, tudo será acobertado. Pode acontecer que entreguem algum boi de piranha, como entregaram o Eduardo Cunha. Se for o seu caso – e parece que será pelas falas de seus colegas que tiraram o cu da reta – não se preocupe novamente! Lembre que o Eduardo Cunha continua a receber as benesses necessárias para continuar de boca calada… como você, se for o seu caso, ficará de boca calada! Nunca contará que você não é católico, e só entre católicos existe esta coisa antiga que é a confissão introduzida pela Igreja em torno do século XI ou XII (antes não era um sacramento…).
Você, Dallagnol, está sacramentado e sagrado, como seu chefe Moro.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Comentários