Segundo a portuguesa Alexandra Lucas Coelho, em SAPO 24, 18.03.18, o poema para Marielle é assinado por Micheliny Verunschk, tornado público em 15 de março de 2018, a manhã seguinte à execução de Marielle Franco. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=zKjBPsZCenE e em https://24.sapo.pt/opiniao/artigos/esta-mulher-executada-no-rio-de-janeiro-ocupado-por-militares-ha-um-mes
Alexandra Lucas Coelho aposta neste país que ainda não existe. Uma aposta distante no tempo, quando o tempo urge… e pede que outras mulheres como Marielle desçam do morro e tomem os espaços públicos tão ocupados hoje pelo fascismo brasileiro.
Uma mulher descerá o morro
como se descesse de uma estrela
uma mulher seus olhos iluminados
suas mãos pulsando vida e luta
sob seus pés a velha serpente
[a baba as armas a covardia de sempre].
uma mulher descerá o morro
as inúmeras escadarias do morro
os muros arames que separam o morro
e pisará o chão desse país sem nome
desse país que ainda não existe
desse país que interminavelmente não há
uma mulher descerá o morro
tempestade é o vestido que ela veste
uma mulher descerá o morro
e ainda que seu sangue caia
ferida incessante no asfalto do Estácio
e ainda que anunciem sua morte
[e sim, ainda que a comemorem]
esta mulher ninguém poderá parar.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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