Domingo: memória e poesia

Memória

 

O homem que soube calar

                Juan Rulfo disse o que tinha para dizer em poucas páginas, puro osso e carne sem gordura, e depois guardou silêncio.

                Em 1974, em Buenos Aires, Rulfo me disse que não tinha tempo para escrever como queria, por causa do trabalhão que tinha em seu emprego na administração pública. Para ter tempo precisava de uma licença e essa licença tinha de pedi-la aos médicos. E a gente não pode, me explicou Rulfo, ir ao médico e dizer: “Me sinto muito triste”, porque por essas coisas os médicos não dão licença.

(Eduardo Galeano. Dias e noites de amor e de guerra. p. 118)

(Dica das obras de Rulfo: Pedro Páramo; Chão de chamas; Galo de ouro – todos disponíveis na Estante Virtual)

Poesia

Diadia

Levantar bem cedo 

e surpreender as palavras

antes que vistam

seu hábito.

Dormir bem tarde

e deixar – cansado –

que as palavras

me dispam

o costume.

(Jefferson Vasques. Nada com um dia após o outro)

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.