Domingo
Hoje é domingo em toda parte e à tarde.
Domingo no meu telefone.
Domingo nos cinzentos suplementos
literários.
Domingo nos corações livres
das empregadas e das senhoras com empregada.
Domingo nas chncelarias.
Domingo nas barbas do bêbados
– belas, grisalhas, tristíssimas
como um espelho abandonado.
É o terrível dia em que Deus descansou.
Dia frio, ateu e perigoso
em que Deus descansou como um banqueiro.
Hoje tenho um lugar onde cair morto
mas não tenho para viver.
(Fernando Sánchez Sorondo)
O Mago
Pela memória passam cavalos.
A luz entra no quarto
para que as coisas, por um momento, sejam reais
alguma coisa mexe num canto
(duendes? ratos?
restos espalhados por aí
de quaquer coisa como um coração?
teias de aranha rasgadas
por um ar imprevisto?)
reclama um lugar
onde cavalos vêm beber.
Agora é isto o que importa:
um ruído de cascos
na memória.
(Daniel Freidemberg)
Referência: Santiago Kovadloff (introdução, seleção e tradução). A palavra nômade. Poesia argentina dos anos 70. S.Paulo : Iluminuras, 1990)
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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