O sedutor pobre
Não tenho onde cair morto,
ando matando cachoro a grito
com uma mão atrás e outra na frente,
tou duro, tou na pior,
tou chamando urubu de “meu louro”,
numa merda federal,
com a corda no pescoço,
endividado até a alma
e entrando pelo cano.
Mas, em compensação, te amo.
O sedutor médio
Vamos juntar
nossas rendas e
expectativas de vida
querida,
o queme dizes?
Ter 2, 3 filhos
e ser meio felizes?
O sedutor rico
Esta sacada para o Gran Canal
esta Luz de cartão-postal
(o pôr-de-sol foi do Tiepolo)
este salão descomunal
e o mordomo, Manolo…
As lagostas do jantar
os filés e o manjar
o cheque sob o récaud
as frutas o meu pomar
e os vinhos do meu château…
Um final de fantasia
parvê e ambrosia
junto com um grande apfeistrudel.
E ao fundo (covardia)
Márcio Montarroyos no fugel…
Na cama em forma de nau
ela não pode conter um “uau”
de sacudir palazzo inteiro.
Não sei se foi meu know-how
ou a joia no travesseiro.
Pois o chocolate suíço
os pavões e o serviço
o Rols-Royce e este show…
Será que ela liga pra isso
ou me ama peo que sou?
(Luiz Fenando Veríssimo.Poesia numa hora dessas? Rio de Janeiro : Objetiva, 2002)
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Trackbacks/Pingbacks