Domingo com Luiz Fernando Veríssimo

O sedutor pobre

Não tenho onde cair morto,

ando matando cachoro a grito

com uma mão atrás e outra na frente,

tou duro, tou na pior,

tou chamando urubu de “meu louro”,

numa merda federal,

com a corda no pescoço,

endividado até a alma

e entrando pelo cano.

Mas, em compensação, te amo.

 

O sedutor médio

Vamos juntar 

nossas rendas e

expectativas de vida

querida, 

o queme dizes?

Ter 2, 3 filhos 

e ser meio felizes?

 

O sedutor rico

Esta sacada para o Gran Canal

esta Luz de cartão-postal

(o pôr-de-sol foi do Tiepolo)

este salão descomunal

e o mordomo, Manolo…

As lagostas do jantar

os filés e o manjar

o cheque sob o récaud

as frutas o meu pomar

e os vinhos do meu château…

Um final de fantasia

parvê e ambrosia

junto com um grande apfeistrudel.

E ao fundo (covardia)

Márcio Montarroyos no fugel…

Na cama em forma de nau

ela não pode conter um “uau”

de sacudir palazzo inteiro.

Não sei se foi meu know-how

ou a joia no travesseiro.

Pois o chocolate suíço

os pavões e o serviço

o Rols-Royce e este show…

Será que ela liga pra isso

ou me ama peo que sou?

(Luiz Fenando Veríssimo.Poesia numa hora dessas? Rio de Janeiro : Objetiva, 2002)

 

 

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.