Carta ao teu vocabulári cotidiano
Gosto de Clarice Lispector, pois nela encontro o
inexprimível sendo expresso ao nível do
entendimento e do não entendimento.
Gosto de Carlos Drummond, pois nele reencontro
minha crença que o cotidiano deve ser revisto pelas
mãos de um poeta.
Gosto de viver e ver que o o que vivo cabe ou coube a
mim o melhor modo de convvier e de dialogar com
palavras do mundo, como o próprio mundo, embora
suponho saber que o universo é bem mais extenso que
o mundo de palavras.
Gosto de saber que certas coisas do entorno não nos
servem, mas a sabedoria quando nos visita pode nos
fazer aceitá-las como representativas de si mesmo,
mais para um tempo do que como conceito ou
vocábulo que realmente exprime o que é.
Por gostar tanto da vida e saber que escolhemos
sempre como olhamos para ela. E por ela, investiguei
meu vocabulário e notei que tínhamos muitas palavras
que sequer agregara , pois nelas nunca cri
Porém o mundo e as relações cada dia mais
diminutas (espero que não seja o fluxo do mundo,
pois acredito nas relações cada vez mais
humanitárias e menos comezinhas), nos levam a
questionar o valor de cada ato e consequentemente
cada palavra, que é o signo abstrato e concreto da
relação do pensamento e realidade.
Embora sejam palavras bem cotidianas, poucas vezes
me preocupei com elas, pois elas pouco me serviriam.
Entretanto, a maneira como as vejo pode ser muito
útil ao modo como as veremos (nós – interlocutores de
um mundo melhor) mais adiante.
São elas, duas:
Culpa – “O poeta precisa compreender que tem culpa
pela prosa trivial da vida” (Bakhtin)
Erro – “Me encanta gente que é capaz de entender que
o maior erro humano é tentar tirar da cabeça aquilo
que não sai do coração.” (Mário Benedetti)
Sendo assim, não há erro ou culpa para tos aquém
destas definições.
Cordialmente
Um poeta ao rés-do-chão
(Fabrício César de Oliveira. O Gosto de Quando. São Carlos : Pedro & João, 2011)
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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