Na luta política, todas as armas são boas? De imediato, preciso engrandecer e melhorar a pergunta. Nas lutas e nas disputas pelo poder hegemônico de governar o país é permitido o uso de todas as armas – argumentos ideológicos antiéticos e antimorais, armadilhas fetichizadas, trapaças de valentia, acusações falsas, mentiras douradas, promessas falsas, ameaças de morte, denúncias ameaçadoras, enganações, declarações de preconceitos sociais, homofóbicos, anti-homossexuais, preconceito aos pobres…?
Numa sociedade de democracia representativa de péssima qualidade e legitimidade bastarda como a nossa do nosso neoliberalismo hegemônico e dominador, por força das classes de centro-direita em união pelo jogo de interesses com as classes de direita conservadoras, todas em união harmoniosa com os três poderes máximos da nação – executiva, legislativo e judiciário – a conquista do poder do Estado ocorre pelo poder dos votos populares. É a tal da hegemonia consentida pela maioria absoluta de votos. Portanto, pela vontade dos eleitores. Assim, o poder hegemônico se veste e reveste de legalidade constitucional, não importa de quais classes sociais provenha a hegemonia.
Agora, vem a outra pergunta: o poder que os políticos eleitos exercem nestas situações é sempre legítimo? Ou, é legítimo o poder de um presidente golpista que tem apoio de 2% dos brasileiros, hoje? Será legítimo o poder de um candidato – se eleito – que declara e ameaça os trabalhadores das classes sociais pobres de bandidos, criminosos, preguiçosos…? E quais são os motivos, as razões do voto dos eleitores? Alguns votam por questão de coerência ideológica, por relações de classes sociais, por força de princípios éticos, morais, religiosos. Outros eleitores votam porque acreditam nos candidatos e nos partidos políticos, nas propostas reais e verdadeiras de governo. Há ainda os eleitores que votam nos candidatos que a imprensa induz, seduz pelo mercado de pesquisas forjadas, elevando os candidatos de sua preferência a índices fictícios, aí há eleitores que votam no candidato que está no topo, pois não querem perder, votam em quem ganha. Há indícios de que 15% dos eleitores votam em candidatos que estão na frente pelas pesquisas do Ibope. Estas, as pesquisas do Ibope, já viraram mercadoria de altíssimo valor.
E o que pensar e dizer dos eleitores que votam em candidatos que proclama: a) “o erro da ditadura foi torturar e não matar”; b) “eu seria incapaz de amar um filho homossexual, prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”; “não te estupro porque você não merece”; “Pinochet deveria ter matado mais gente”, que proclama muitas outras coisas horrorosas? As eleitoras e os eleitores que votam neste candidato é porque pensam igual ao candidato. Não? Tem certeza que não? Digam com sinceridade as razões que justificam o voto neste candidato. Por gentileza.
Neste jogo da política é chegar ao poder – à presidência da república – pelo processo eleitoral, isto é, processo democrático, uma hegemonia consentida. Uma vez no poder da presidência da república, implantar um governo autoritário, uma ditadura civil-militar para garantir a estabilidade e a segurança do bloco econômico dominante – dos cartéis do capital nacional e capital estrangeiro. Sempre às custas dos trabalhadores e das classes sociais pobres.
Assim, os ricos, os mais ricos vão continuar a não pagar impostos.
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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