No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!
Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da Flora Brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!(1)
Quando pararem todos os relógios
Da minha vida, e a voz dos neerológios
Gritar nos noticiários que eu morri,
Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade
A minha sombra há de ficar aqui!
- “E a paleontologia dos Carvalhos” é verso com jogo de palavras: no primeiro sentido, o Tamarindo ‘guarda o passado da flora brasileira porque, como indivíduo, revive a aventura biológica de sua espécie, havendo nele, como que fossilizados (a paleontologia é a ciência dos fósseis animais e vegetais), até os carvalhos; no segundo sentido, note-se que o poeta se chamava Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos, razão por que a notação com maiúscula, para indicar a espécie (notação que levou, por certo, ao mesmo processo em Flora Brasileira) Carvalho, foi extremamente sugestiva, pois insere seu ser humano no ser vegetal do tamarindo. (Nota de Antônio Houaiss, organizador da antologia. Augusto dos Anjos. Poesia. Rio de Janeiro : Livraria Agir Editora, 1960)
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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