Depois de assistir ao “Democracia em vertigem”, da fantástica e visionária Petra Costa, as memórias da minha história de vida-militância vieram nas lágrimas incontidas de um coração que vibrou com Lula na posse em Brasília, no ano de 2003, e paralisado ficou diante do golpe de abril de 16.
Confundia-me com Petra em muitos retratos e tantas recordações de seus laços familiares. De minha origem tenho uma bisa curandeira e guerrilheira, até meu filho a quem ensinarei sobre a luta que, no fundo e sempre, é de classes.
A despeito das lágrimas incessantes e tudo que me vinha à cabeça, três pontos me mobilizaram deveras: Dilma e a fortaleza que carrega em si diante de seus perversos algozes, aqueles abjetos vomitando toda a misoginia e podridão de suas línguas; o último discurso de Lula antes de ser encarcerado pelo seu acusador da farsa a jato; e, por fim, a vívida lembrança de, em 2013, estar próxima à Praça da Bandeira e olhar ao redor tanto verde e amarelo entoando o hino nacional.
Ao que digo a quem estava comigo: não me sinto bem aqui, não estou com essas pessoas, não me identifico com o que quer que esteja acontecendo aqui. Um profundo estranhamento me tomou e hoje entendo o porquê.
Que eu siga vermelha, feito pau-brasil, no esforço de me abrir a outros tons, no exercício da escuta e ética, mas nunca me confundindo com quem fez e faz do Brasil um território do ódio, da ignorância e do gozo com a aniquilação do outro.
Meu hino para o nosso país segue assim: amanhã vai ser outro dia! E com Chico eu sigo na luta e esperança por dias mais justos. Porque ninguém tem poder de prender um pensamento livre e sonhador. Ninguém vai barrar meu desejo de formar cidadãos críticos e “escutadores” da vida. Seguirei no um a um, no feminino que nos convoca a fazer revolução.
Da vertigem faremos clara luz a nos guiar no caminho da verdade.
Não deixem de assistir à Arte de Petra e fazer vocês mesmos suas memórias, escritas e revoluções.
Taina Cavalcanti Rocha é mestra em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Psicanálise e Saúde Mental pela UERJ. Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Mara Emília Gomes Gonçalves
Administrator
Professora, militante, escritora
Mara Emília Gomes Gonçalves é formada em Letras pela Universidade Federal de Goiás. Gestora escolar, professora, militante, feminista, negra. Excelente leitora, escritora irregular. Acompanhe-a também em seu blog: LEITURAS POSSÍVEIS.
Muito bom
Também me identifiquei muito com a pp cineasta que se constrói como personagem e anda conosco, de perplexidade em perplexidade!
Essa inserção da cineasta no pp filme faz desse filme um documentário diferenciado, q não se esconde na voz off e na suposta neutralidade dos fatos.
A câmera argui, foca detalhes que nos geram perguntas, dialoga com seu expectador… e a gente se identifica!
Senti falta de um final. Não sei o que esperava. Mas esperava… Não me fez bem o tom depressivo do final. Embora o documentário trabalha com a realidade, e os dados estavam lançados.
Petra, em entrevista, disse q se tivesse já ocorrido o escândalo do The Intercept, certamente o incluiria no filme e terminaria diferente…
Pois a realidade é assim. Complexa, cheia de sobressaltos, pra quem consegue indagá-la.
É isso!
Taiana, se achegue, se achegue sempre que a casa é sua como dizemos nós gaúchos. “Achegar” tem algo de chegar e de “aconchegar”. Seu comentário do trabalho da Petra mostra o quanto ela conseguiu mexer com as pessoas ainda sensíveis num mundo de autômatos consumidores de prazeres rápidos. Eu não consigo comentar porque foi fundo, muito fundo recordar tudo para um tempo muito mais antigo do que o do golpe de 2016 e me fez lembrar: desde a proclamação da República, nunca tínhamos tido um período tão longo de democracia formal… de estado de direito, e foi necessário violentar o direito para chegarem ao avesso da vida e ao ódio.