Se ontem fui sombrio – quem não o seria nestas circunstâncias? – hoje serie de um otimismo atroz, atordoante. Sei que ela é inexequível, mas a não correspondência com a realidade de hoje não anula o pensamento e as ideias podem se tornar boas bandeiras para que as coisas mudem… se é que mudar interessa!
Qualquer que seja a reforma política que vier da lavra do fantasmagórico José Serra, aquele duplamente recusado pelas urnas porque representa interesses nada nacionais, ela será para aumentar e perpetuar o poder do Parlamento. Imaginem quanto custará ao país construir uma maioria para indicar um primeiro ministro… e se ele não se comportar como quer o Centrão e adjacências, cai e vem a construção de nova maioria… a cada seis meses uma bolada para cada deputado! Grande negócio o parlamentarismo para a Câmara Federal e para o Senado que temos.
Que sejam proibidas coligações e que se eleja de cada ”distritão” os candidatos mais votados, até que seria bom: um Tiririca não elegerá três ou quatro deputados com seus votos, deputados que comporão, com o Tiririca, o centrão que se vende pelo melhor preço. Já pensaram se dois senadores ou dois deputados quiserem ocupar a cadeira de primeiro ministro? Uma farra! Igual, somente o arquivamento da investigação contra São Michel Temer, o inocente antes de investigarem. É que aqui havia provas, mas não havia convi$$ão dos deputados. Fossem eles procuradores, talvez houvesse convicção desde que não envolvesse membro do PSDB.
Pois vamos a minha proposta. Em havendo cidadania, os eleitores podem introduzir na reforma política um dispositivo que está em seu poder: NÃO REELEGER NENHUM DEPUTADO OU SENADOR.
Sei que dirão: é muito radical. Há bons deputados na oposição… bom, que os há, não nego. Mas também há na oposição quem beije a mão de Aécio Neves em preito de subserviência sem a menor necessidade; também a deputada que para sair na imprensa desanca sobre o Lula, também há aqueles que elegeram Rodrigo Maia, em lugar de propor uma candidatura da oposição e perder com dignidade! Assim, para não ter que ressalvar uns e outros minguados reelegíveis, o melhor mesmo é não reeleger ninguém! Aqueles que foram deputados e estão fora do parlamento, podem voltar. Trata-se de estabelecer uma quarentena de quatro anos!!! Mantenhamos a reeleição para os cargos executivos: sim, há programas que não põem ser executados em quatro anos! Mas deputado e senador não têm programa a cumprir: cabe-lhes a representação dos eleitores (que eles fazem questão de esquecer assim que tomam posse). Ora, uma renovação geral na Câmara, e uma renovação de 1/3 ou 2/3 do Senado, seriam extremamente salutares para a democracia brasileira.
Não se trata de dizer que eles sendo deputados ou senadores não possam concorrer, apresentarem-se como candidatos. A decisão de excluí-los não será da lei, mas do voto de cada cidadão.
Poderemos não ser vitoriosos na campanha, mas se conseguirmos alguma adesão, poderemos ter em 2018 uma renovação inédita nos quadros da Câmara e do Senado, e talvez possamos nos orgulhar pelo Parlamento que elegermos, porque o de agora, “vou te contar”, é de amargar!
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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