por José Kuiava | jan 10, 2018 | Blog
Sim, quanto produzem os políticos envolvidos em processos de corrupção, desvio(roubo) de dinheiro público, suborno, propina…quando acusados de crimes em processos nos Tribunais da Justiça, Tribunais de Contas, na Polícia Federal, quando telenovelizados na mídia diuturnamente? Os capitalistas não podem se queixar dos políticos criminosos e nem dos criminosos políticos.
Os criminosos são altamente produtivos na sociedade capitalista de hoje. O criminoso e seus crimes vêm ganhando de longe dos demais assuntos na disputa pelo espaço e pelo tempo mais nobre da televisão, dos jornais, das rádios e das revistas. Não há nada assemelhado, que vende tanto e que dá mais “Ibope” nos noticiários, nos programas, nos documentários do que os criminosos e seus atos hediondos. Em especial quando flagrados na vida real, no ato do crime. O requinte das cenas dos crimes reais é tão espetacular que supera em emoção os melhores filmes já produzidos sobre o amor, a beleza, a vida, a arte, a guerra, etc.
É espantoso e fastidioso imaginar e pensar sobre a possibilidade de que parte da sociedade capitalista não esteja nada interessada em acabar, liquidar e erradicar de vez por todos os criminosos e os crimes. Bem pelo contrário, é assombroso e horrendo sentir que há setores da sociedade, justo aqueles que constituem diferentes categorias da divisão social do trabalho, interessados em manter e aumentar o número de criminosos e de seus crimes pelo seu alto poder de consumo de produtos necessários para a prática do crime. E principalmente os lucros no combate aos criminosos e aos crimes. Dizendo de outro modo, pelos lucros que advém dos criminosos e dos crimes.
Quantas armas o criminoso obriga produzir e com elas quanto lucro ele produz aos proprietários das indústrias de armas, pólvora, balas? Quantos empresários vivem e têm lucros com o comércio de armas? E o que dizer dos contrabandistas de armas? O criminoso é um excelente motivador e incentivador da ciência e da tecnologia. Por causa dele foram inventadas as mais sofisticadas e precisas máquinas eletroeletrônicas: as câmeras de vigilância e monitoramento, em veloz e assustadora expansão nos bancos, nas empresas, nas escolas (são a negação explícita da educação!), nas indústrias, nos postes das ruas, avenidas, praças, nos prédios e nas mansões, nos elevadores e nos hospitais, etc. Por causa deles (dos criminosos) foram inventadas as cercas elétricas e eletrônicas, que tanto e de forma fastidiosa ornamentam os muros de casas, mansões, prédios, escolas e pasmem, dos cemitérios. Os criminosos não deixam em paz e sossego nem os mortos. Os criminosos são os profissionais que mais geram empregos na sociedade neoliberal. Por causa dos criminosos são contratados milhões de juízes, advogados (de acusação e de defesa), policiais militares, civis, federais, estaduais, de trânsito, de vigias, investigadores, guardas, em todo o mundo, diretamente para saber quem são os criminosos, para prender os seus corpos e mantê-los aprisionados.
Estranhamente, quanto mais se combate os criminosos com violência, mais criminosos e crimes vêm nascendo. Neste momento, estou sendo possuído por uma sensação estranha e incômoda, a sensação de que os criminosos de hoje podem ser os revolucionários e os guerrilheiros de amanhã. A possibilidade de sobrevivência é sermos uns dentre eles.
E os prédios de quartéis, batalhões, presídios, prisões, cadeias, veículos, blindados, helicópteros, armas, munição, celulares, uniformes, escudos… quanto não ganham os que fabricam estes materiais e quanto não ganham os que vendem estas mercadorias?
Ah!, estava me esquecendo, e os políticos de hoje feitos ladrões, corruptos, sonegadores.. precisam de advogados (os mais competentes criminalistas), de policiais, de assessores, de juízes, etc. etc. etc.
Acho que já está passando da hora de jogar no lixo da história o princípio pedagógico que domina ideologicamente a nossa educação: “vigiar e punir”. É preciso adotar e implantar o princípio: “educação de qualidade para todos, educação de formação de sujeitos conscientes, auto-responsáveis, amorosos e democráticos…”. Quem sabe…
Cascavel, 10 de janeiro de 2018.
por João Wanderley Geraldi | jan 9, 2018 | Blog
A gente sempre soube que o ano prometia. Mas a largada já está tão acelerada que poderá faltar fôlego no final do tempo de jogo. Nem precisou chegar o dia 24 de janeiro. A movimentação já não se dá mais nas profundezas das convicções procuradoriais e julgadoras. É a fala de convicção nas superfícies que está fazendo o bar vazar.
Comecemos com o mais impopular presidente da república brasileira, o Sr. Fernando Henrique Cardoso, aquele do apartamento da Av. Foch, de 17 milhões de euros (amealhados, obviamente, com seu salário de professor, como todos sabemos). Iniciou o ano dando a facada da traição a seu candidato e a seu partido: vai apoiar quem conseguir reunir votos. Como Geraldo Alckmin é medíocre em votos nacionais, já sabe: será cristianizado. Não dá nem para saber que emplaca o ano como candidato à presidência.
Luciano Huck, aquele que diz que vai e não vai e volta a ir, pede ao IBOPE que mantenha seu nome nas pesquisas eleitorais: seria a salvação da lavoura que FHC está irrigando. A água que traz, no entanto, vem contaminada pela impopularidade do estadista de Higienópolis (e da Av. Foch, onde convive com ex-ditadores e ricos ostentadores).
E a imprensa começa mostrar com que garras virá à campanha.
Bolsonaro está vivendo seu inferno astral: a FSP resolveu explicar bem desenhadinho o bolsofamília e seus imóveis incompatíveis com ganhos. E mais: trouxe a público que o sujeito se aposentou aos 33 anos!!! Não vai aprovar a Reforma da Previdência? Não. Isso tiraria votos possíveis. Mas é por causa de aposentadorias como a sua que a seguridade social vem sofrendo falta de recursos (além dos desvios destes recursos previstos pela Constituição e requisitados para outros fins, como a despudorada compra de deputados). Vai ser gargalhante ouvir os seguidores defendendo moralidade em apoio a um suspeito de imoralidades, de garantida proteção à família, etc.
O Estadão não quis ficar para trás. Com que intenções terá entrevistado o professor da Universidade de Cambridge, o economista sul-coreano Ha-Joon Chang, já que ele não reza pela cartilha tão acariciada pelo próprio Estadão? Só ingênuos acreditarão que é para mostrar o outro lado, imparcialidade nunca existente na imprensa brasileira. Há segundas intenções e estas se consubstanciam na fritura da candidatura do fantasma da ópera bufa que este governo, Henrique Meirelles! O jornalão publicou tudinho, e reprisou no A Tarde. Da entrevista, retiro as respostas a duas perguntas:
O sr. afirma que é importante para um país ter empresas com alto nível de tecnologia. O Brasil tem hoje a Embraer, que está negociando um acordo com a Boeing. Como o sr. vê isso?
Acho que se deveria tentar manter (o controle da empresa). A Boeing vai tornar a Embraer uma segunda marca, para coisas simples, levar as tecnologias importantes (da Embraer) para os Estados Unidos.
O que o País pode perder com esse negócio?
A habilidade de gerar sua própria tecnologia. Pessoas dizem que empresas nacionais não são mais importantes. Não é verdade. Quando uma empresa alemã compra uma americana, os alemães ficam com a gerência e passam a fazer os trabalhos de desenvolvimento mais importantes na Alemanha. É por isso que compram, para controlar. Não digo que nunca se deve vender as companhias líderes para estrangeiras, algumas vezes é necessário, mas é preciso ter cuidado. A Embraer é a única companhia que compete com Boeing e Airbus, apesar de ser menor. Se for vendida, é muito importante garantir que o Brasil mantenha a capacidade tecnológica.
http://www.tijolaco.com.br/blog/o-coreano-que-cre-mais-no-brasil-que-os-economeiros-daqui/
Ao que tudo indica, não há desunião somente no campo da esquerda – onde se sabe que a unanimidade é burra – mas surpreendentemente na direita!!! Eles estão sem candidato!!! E enquanto não acharem um, ficarão neste joguinho de empurra-empurra. Depois, se amalgamarão de forma inquebrantável para destruir o que sobrar da avalanche golpista.
por Cristina Batista de Araújo | jan 8, 2018 | Blog
Depois de um justo recesso, as escolas começam a retomar o ano letivo e todos os seus compromissos como instituição de ensino e como empresa. As campanhas publicitárias, que buscam cativar a clientela potencial, aprimoram-se em revisitar o imaginário social sobre ensinar/educar/ instruir/preparar o aluno. A escola, além de poder ser o “segundo lar” ou “clube de amigos”, promete possibilitar que o aluno “aprenda a escrever sua própria história” ou que “chegue mais longe”, já que poderá “descobrir o líder que pode ser” ou, simplesmente, “saber o que quer ser quando crescer”.
Um enunciado certamente é feito de signos, entretanto, o que mais interessa é sua condição mesma de enunciado, isto é, sua capacidade de ser elo e de se articular com outros, formando uma corrente ideológica. Em um enunciado buscamos identificar pelo menos três coisas: a que ele faz referência, a existência de um sujeito que pode efetivar tal enunciação, a própria materialidade linguística que explicita as associações e correlações com outros enunciados. Então, descrever um enunciado é apreendê-lo como acontecimento, como algo que irrompe num certo tempo, num certo lugar.
Observar os discursos que circulam em torno da esfera escolar acaba funcionando como uma atividade de conhecimento que permite apreender as conexões estratégicas entre enunciados, a construção de conceitos e a subjetivação que configura essa atividade social. Isso se deve ao fato de que o arranjo discursivo em torno do campo educacional assume características que refletem tantas outras práticas sociais que não se restringem aos muros da escola.
Quando uma instituição de ensino publica que “o professor é antes de tudo alguém que se doa, que ama as crianças, que acredita na sua nobre missão de ensinar”, em alguma medida, associa seu profissional a indivíduos rendidos ao amor e à doação, assim como tantos outros que se colocam nessa condição, ainda que como voluntários ou amigos da escola. E considerando que o enunciado não existe isoladamente, não é possível desvincular dessa descrição de professor alguma vocação altruísta (alguém que se doa) e missionária (nobre missão de ensinar). Ainda, a propósito do enunciado anterior, não há como ignorar que há um grande número de mulheres atuando em diferentes níveis de ensino, em especial nas séries iniciais, e que em outras enunciações já se correlacionou os signos tia e segunda mãe à professora, como alguém que pode amar e doar-se às crianças.
Há, também, instituição que propague que “educar é um dom que o professor demonstra através do próprio exemplo”, reafirmando que as pessoas passam a dedicar-se ao ofício de educadores em função de atender a um dom. O professor deve, então, oferecer uma prova de sua habilidade de educar demonstrando que recebeu uma graça especial para realizar seu trabalho, e não necessariamente uma formação acadêmica adequada. Por fim, entre as implicações do campo semântico relacionado ao dom, nada impede a inferência de que não convêm preocupar-se com o que será recebido em troca pela doação!
Os discursos produzem uma realidade histórica e política na medida em que eles mesmos são tecidos por uma série constitutiva de linguagem que é capaz de produzir subjetividades e que promove a indagação de dúbias estruturas em que se firmou a condução da lógica educacional e de muitas outras práticas. Quanto a ser exemplo?! Esse tem sido um tema bem delicado em nossa conjuntura política! Na epopeia de Homero, Ulisses precisou revelar a verdade sobre si por meio de uma prova de força que demonstrasse sua capacidade de resolver o tumulto em seu próprio átrio e sua habilidade de governar. Já na epopéia temérica, sórdidos herois! Ser exemplo? Ter habilidade para governar? Já morreram de overdose!
Cristina de Araújo escreve neste blog às segundas-feiras.
por João Wanderley Geraldi | jan 7, 2018 | Blog
Do ex-secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, o Pedro Tierra: UMA CANÇÃO PARA 24 DE JANEIRO / DIA DO JULG Onde eles dizem paz, eu digo Justiça. Onde eles dizem Justiça, eu digo…
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Postado em 4 de janeiro de 2018
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Do ex-secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, o Pedro Tierra:
UMA CANÇÃO PARA 24 DE JANEIRO
Onde eles dizem paz,
eu digo Justiça.
Onde eles dizem Justiça,
eu digo caça.
Onde exibem convicções,
exijo provas.
Onde impõem o silêncio,
entoo canções.
Quando lustram algemas,
invento caravanas.
Onde defendem mercado,
afirmo pátria.
Onde dizem casta,
respondo classe.
Onde erguem o Tribunal,
convoco a Praça.
Onde dizem ordem,
eu digo Liberdade!
Não me venham com crepúsculos
que chego armado de auroras
para reacender as cinzas
do nosso vasto coração…
por João Wanderley Geraldi | jan 5, 2018 | Blog
Nota introdutória
Este texto foi publicado em Leitura: Teoria e Prática, ano 8, n. 14, em dezembro de 1989. Em geral, meus textos foram escritos seguindo o caminho da exposição oral em algum espaço – palestras, cursos, eventos – para a escrita. Este, no entanto, não provém de exposição pública e simplesmente registra algumas ideias da relação entre linguagem e educação. Retomei-o mais tarde e o reescrevi para o livro A aula como acontecimento, onde tomou o título “A linguagem e a questão escolar”. Creio que este seja o texto em que mais usei o senso comum, expresso pela presença numerosa de máximas e expressões populares que remetem a “verdades” sempre duvidosas.
Educação e linguagem
Nas salas de aula, nas salas de professores (onde as há), nos corredores, em todos os espaços da escola, ouvidos atentos podem detectar conversas informais entre professores, ou entre professores e alunos, que revelam uma insatisfação (em todas as áreas dos componentes curriculares) com o desempenho linguístico dos alunos: não leem e não escrevem; não interpretam adequadamente um problema; não extraem o relevante de um texto de história ou de geografia; não utilizam com precisão conceitos científicos etc. etc.
Fora da escola, a imprensa tem se encarregado de, amiúde, denunciar e apontar para o que tem chamado de “crise de expressão do estudantado brasileiro” (especialmente na época dos “vestibulares”, esquecendo também amiúde outros “vestibulares” que têm reprovado na vida os não-candidatos aos vestibulares oficiais).
E as culpas são distribuídas: o que há com a escola? o que há com as aulas de português? o que estão ensinando os professores? E mais do que depressa, surgem respostas que lembram a rapidez com que se passa adiante “a caixinha de surpresas”: que abri-la e executar a insípida tarefa caia para outro! Os professores passam a “batata quente” aos professores de português, que a remetem imediatamente aos professores das séries anteriores, que as enviam aos alfabetizadores. Estes, não tendo para quem jogar a bola, remetem para a família, para o “meio ambiente de onde vêm os alunos”. E a uns e a outros, carradas de razões:
- os professores das diferentes áreas sabem que a linguagem é condições para a aprendizagem e para o ensino de qualquer conhecimento;
- os professores de português sabem e vivem de perto os problemas de uma área de estudos que, tendo sua especificidade, espraia-se pelas demais, face à complexidade de questões envolvidas na linguagem (cogn itivas, expressivas, de referência ao mundo, de construção de mundo etc.);
- os alfabetizadores tentam, daqui e de acolá, mostrar com quantos paus se faz uma canoa (ou um aluno alfabetizado), quebrando galhos e imaginando soluções. A seus esforços, as estatísticas continuam respondendo com os altos índices de retenção, evasão, expulsão da escola já nos primeiros anos de escolaridade.
Enfim, parece que há uma consciência partilhada e compartilhada , na escola e fora dela, de que alguma coisa não vai bem. Alguma ou algumas? Para desafio grande, haverá possibilidade de traçar caminhos pequenos? Esta proposta de trabalho conjunto tem um suposto que é preciso ser posto: “o mosquito irrita o elefante”. A construção de soluções (que não se pretendam paliativas) é história que se vai tecendo, a pouco e pouco, em cada ponto, em cada nó.
Face ao reconhecimento, tácito ou explícito, de que a questão da linguagem é fundamental no desenvolvimento de todo e qualquer homem, de que ela é condição sine qua non na apreensão e formação de conceitos que permitem aos sujeitos compreender o mundo e nele agir; de que ela é ainda a mais usual forma de encontro, desencontro e confronto de posições porque é por elas que estas posições se tornam públicas, é crucial dar à linguagem o relevo que de fato tem: não se trata evidentemente de confinar a questão educacional à linguagem, mas trata-se da necessidade de pensá-la à luz da linguagem.
Os primeiros passos de uma tal reflexão iniciam-se por um deslocamento: não se trata de linguagem vista como repertório, pronto e acabado, de palavras conhecidas ou a conhecer e de um conjunto de regras a automatizar; nem da linguagem como tradução de pensamentos que lhe são prévios; muito menos de linguagem como um conjunto de figuras de enfeite retórico. Não se creia, no entanto, que este deslocamento pretende apenas esvaziar o ponto de partida, substituindo com nada concepções correntes. Trata-se de um deslocamento para. É eleição de outro lugar.
E o lugar privilegiado é o da interlocução, focalizada como espaço de produção de linguagem e de constituição de sujeitos. Antes de qualquer outro componente, a linguagem fulcra-se como evento, faz-se na linha do tempo e só tem consistência enquanto “real” na singularidade do momento em que se enuncia. A relação com a singularidade é da natureza do processo constitutivo da linguagem e dos sujeitos de discurso. Evidentemente, os acontecimentos discursivos, precários, singulares e densos de suas próprias condições de produção, fazem-se no tempo e constroem história. Estruturas linguísticas que inevitavelmente se reiteram também se alteram, a cada passo, em sua consistência significativa. Passado no presente, que se faz passado: trabalho de constituição de linguagem (e de linguagens).
Focalizar a linguagem a partir do processo interlocutivo e com este olhar pensar o processo educacional exige instaurá-lo sobre a singularidade dos sujeitos em contínua constituição e sobre a precariedade da própria temporalidade que o específico do momento implica. Trata-se de erigir a disponibilidade estrutural para mudança em inspiração. E consequentemente destruir fronteiras determinadas entre educação sistemática e assistemática, já que sua manutenção implica em alijar da escola o próprio processo constitutivo de sujeitos e a linguagem vital, momentânea e própria com que de fato o indivíduo assume sua condição de sujeito (sujeito de discurso é aquele que tem com as condições de emergência de sua fala uma relação de pertinência).
Neste sentido, não se trata de trazer para o interior da educação formal (a sala de aula) o informal (como se este lhe fosse externo), tomando a interação em sala de aula como um ‘recurso didático’ de apreensão de visões de mundo, de conhecimentos ingênuos etc., que ao longo do processo de escolaridade iriam sendo substituídos por saberes ‘científicos’, por ‘conteúdos’ universais. Procura-se e deseja-se algo mais: atribui-se ao acontecimento interlocutivo, em sua densidade, precariedade e singularidade, um estatuto diferenciado daquele de mero acidente de uso da expressão verbal, para tomá-la como fonte de produção de linguagem, dos sujeitos e do mundo discursivo.
Isto significa admitir:
- a historicidade da linguagem: pelo fato de acontecimentos passados terem construído (ou constituído) expressões linguísticas, estruturas sintáticas, variedades linguísticas, este produto do trabalho social e histórico de falantes não está de antemão pronto, acabado, cabendo ao sujeito de hoje simplesmente apropriar-se do ‘sistema’ para usá-lo segundo suas necessidades comunicacionais (pragmáticas ou não): o evento discursivo singular reconstitui a linguagem. É presente que, sendo história, faz história.
- a constituição contínua dos sujeitos: não há um sujeito pronto de um lado, que se apropriaria de uma linguagem pronta de outro lado. Também os sujeitos se constituem à medida que interagem com os outros, sua consciência e seu conhecimento do mundo resultam como produto deste processo. Neste sentido, o sujeito é social já que a linguagem que usa (na particularidade de suas interações) não é sua mas também dos outros e é para os outros e com os outros que interage verbalmente. Trata-se, pois, de um sujeito se completando e se construindo nas suas falas. Os conceitos que vai internalizando (a consciência é sígnica, na expressão de Bakhtin), as significações, negociadas a cada passo das interações, vão construindo um interdiscurso de que seu discurso é parte;
- o contexto da interlocução: os acontecimentos discursivos não se dão fora de um contexto social mais amplo; na verdade eles se tornam possíveis enquanto acontecimentos singulares no interior e nos limites de uma determinada formação social e esta “interdita” interlocuções (como já mostrou M. Foucault). Mas, dialeticamente, as interações não são, em relação aos limites impostos pela formação social, inocentes: são produtivas e históricas e como tais, acontecendo no interior dos limites, constroem limites outros. Que valha como argumento a existência de censuras, de proibições, de variadas ‘disciplinas’ na tomada da palavra.
Obviamente estes três eixos trazem à baila muitas questões. Uma delas é preciso, de imediato, explicitar: a questão da chamada “língua padrão” ou “língua culta”.
Habituados a observar as diferenças, nosso olhar para as variedades linguísticas tem esquecido, não raras vezes, que todos os dialetos são resultado do trabalho coletivo. Que muito da “linguagem popular” contém a linguagem culta. Que esta (resultante, aliás, do latim não culto) contém muito da “linguagem popular”. Não há fronteiras determinadas, explícitas. E não poderia deixar de ser assim: se a linguagem vai se constituindo nos inúmeros processos interlocutivos, é de sua natureza ela ser vária.
Posta a questão nestes termos, há um deslocamento da pergunta tradicional: “ensinar ou não a língua padrão?”. Importa aqui ter presente que a criança, ao chegar a escola, já resolveu seus problemas de linguagem (e da variedade linguística a usar) no contexto das instâncias privadas de uso da linguagem. O contexto da escolaridade não é o contexto de aprendizagem da língua padrão (apropriação de algo que supostamente estaria historicamente pronto), mas um contexto de aprendizagem de instâncias públicas de uso da linguagem. Os processos interlocutivos que aí se darão não têm por fim último substituir um padrão linguístico pelo outro. Vendo de uma perspectiva histórica, o confronto de diferentes formas linguísticas produz novas formas linguísticas: novo que contém velho, mas que não é o velho. E participar da construção do novo, ter acesso às instâncias públicas de uso da linguagem é construir-se em cidadão. Não se trata, então, de “aprender a língua padrão” para ter acesso à cidadania. Trata-se de construir a linguagem da cidadania, não pelo esquecimento da “cultura elaborada”, mas pela reelaboração de uma cultura (inclusive a linguística) resultante do confronto dialógico entre diferentes posições. Não é pelo silêncio e pela interdição que o novo se produz: é pelas enunciações (e novamente o processo interlocutivo reaparece como lugar de produção) e pelo embate dos enunciados que se poderá contribuir para a construção de uma sociedade de sujeitos.
por João Wanderley Geraldi | jan 4, 2018 | Blog
Nada mais emocionante e reconfortante do que ouvir, dia e noite, que o mercado é a solução, que no mercado tudo se regulariza, que o Estado deve deixar o mercado fazer o que bem entende, porque o mercado tudo entende e é imediatamente sensível a nuanças de qualquer brisa.
Mas nada melhor ainda do que um mercado onde se joga sem riscos! E quando há perdas, o tal de estado mínimo se torna o estado máximo para os “investidores”. E no caso brasileiro, cuja elite jamais perdeu o complexo de que é “da colônia”, que odeia esta colônia em que infelizmente nasceu, os investidores estrangeiros têm toda garantia: nossa elite fica envergonhada se um estrangeiro, no jogo do mercado que tanto defendem, perde alguma coisa! Não pode! Aqui os dólares dos “investidores” são garantidos por um estado máximo – além de pagar, para os rentistas, a mais alta taxa de retorno do mundo – este mesmo estado mínimo para os nacionais garante que os “investimentos” na produção também não corram riscos.
Particularmente quando um Pedro Parente ou outro comissionado qualquer da elite assume poder de mando, rezando pelo credo neoliberal, somente defendido pelo brasileiro PSDB no mundo contemporâneo – até o FMI e Banco Mundial estão migrando para outras latitudes. Pois Pedro Parente, em prejuízo da empresa que dirige, garante um presentinho de Natal e Ano Novo os capitalistas que não correm risco: uma indenização de quase 10 bi porque eles perderam “valor de mercado” quando compraram ações da Petrobrás!!! No jogo do capitalismo, os próprios capitalistas sabem e fazem isso: aumentam e diminuem o valor das ações segundo seus mais exagerados desejos de ganhos… Pois compraram ações da Petrobrás, muitos deles quando estas ações estavam muito baixas. As ações foram valorizadas.
Com o ataque de Sérgio Moro, devidamente instruído pelos “órgãos de fomento à destruição do mundo” norte-americanos – CIA, FBI, Departamento de Estado – que espionaram à vontade a Petrobrás, eis que as ações perdem valor de mercado (não perdem valor real, porque o bem real permanece o mesmo, ops! Não permanece mais porque está sendo dado de presente para as petroleiras!). Perdido o valor de mercado, que os “investidores” não pagaram, simplesmente tinham expectativa de que poderiam ganhar vendendo as ações, eis que há uma queda no valor.
Mas eles não se preocupam: favorecem um golpe no país; garantem a indicação de um neoliberal abobado que defende o “mercado sem riscos para os ricos”, e ganham uma indenização milionária de presente pelo risco que não correram. Mas permanecem donos das ações da Petrobrás, que estão retomando os valores anteriores ao escândalo Sérgio Moro. Ou seja, poderão vender estas ações com lucro além de receberem um presentinho de Pedro Parente, este parente (no sentido romano de “parentes”) dos norte-americanos.
Michel Temer e o Congresso Nacional já haviam dado às petroleiras nada mais nada menos do que 3 trilhões de renúncia fiscal!!! Agora um pouco menos do que 10 bilhões… E retiram dez reais do salário mínimo que “não faz falta ao povo” como declarou Henrique Meirelles, o imbecil.
Nossa elite deixou de ser dependente, mas se tornar submissa, achando-se “global”. São globais porque dão espetáculo de burrice e ódio a seu próprio país. Por isso esta elite não pode nos governar: deve ser apeada do governo que tomaram por um golpe.
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