Michel e Carmen: visitas íntimas são legais

Quem diria! Todo mundo pensando que os problemas urinários e bixigais de Michel Temer eram consequência da implantação de uma prótese para dar conta da “bela, recatada e do lar”, e eis que o dito cujo visita a dita suprema cuja. Para tratar de um bingo beneficente, é claro. Não se falou em investigações.

A mesma visitada que não quer porque não quer, e isto é argumento suficiente, rediscutir a prisão antes de sentença transitada em julgado, esta mesma suprema recebe o supremo mandatário para um conversê que deve ter sido animado.

Afinal, outro ministro mandou que Michel Temer fosse investigado, o que considero injusto. Afinal, por jurisprudência da mesma corte presidida pela dita suprema cuja há que consultar a Câmara ou o Senado, para que seja autorizada a investigação. E a Câmara autorizou a investigação contra Eduardo Cunha, que já tinha prestado o serviço encomendado pelo partido do judiciário; mas o Senado recusou autorização para investigar o membro do partido aliado, o PSDB, cujos denunciados jamais serão investigados porque “não vem ao caso” para o partido do judiciário.

E Michel Temer foi fazer uma visita íntima. Afinal, ele deveria ter no mínimo a mesma consideração que deram ao Aécio Neves… Um presidente só pode ser investigado se o Congresso Nacional permitir… mas no tribunal do sr. Fachin, isto pode não ser necessário.

D. Carmen terá que intervir: afinal, o Michel, o pai do Michelzinho, ainda não entregou todo o serviço encomendado pelo partido que ela preside!!! Tome tento, D. Carmen, providencie para que as visitas íntimas possam ter continuidade. E se torne realidade o que por enquanto é charge, as duas caras dos íntimos formando uma só cara, a cara do Brasil de hoje: metade Michel, metade Carmen, na bela montagem de Genildo.

Que escola o Brasil quer para o futuro?

Ao acompanhar uma série de reuniões de formação de professores da Educação Básica, dirigidas por Secretarias de Educação, percebi que todas elas seguiam um mesmo protocolo de direcionamento: iniciar o encontro propondo aos professores três questões que também eram retomadas ao final da reunião. 1. Como vocês gostariam que as pessoas de sua cidade fossem daqui a vinte anos? 2. O que deve ser proporcionado hoje às crianças e adolescentes para que eles cheguem a ser os cidadãos que queremos? 3. Como a BNCC, no contexto da escola, pode ajudar na formação do cidadão que queremos?

Embora não seja novidade, tais questões trazem à tona o fato de que o processo educativo está permeado por interesses em torno de um determinado projeto de sociedade e intimamente ligado às finalidades institucionais. É por isso que se pode dizer que um currículo expressa uma tradição seletiva, resultado da seleção de algum grupo contingente que dispõe de legitimidade para isso.

Os esforços em se estabelecer uma base curricular comum são atualmente justificados pela necessidade de se padronizar os objetos de ensino em todas as escolas do país e, para isso, vê-se emergir um documento muito mais preocupado com os itens descritores das avaliações nacionais do que com a demanda social. Os resultados das últimas avaliações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que é composto pela Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), pela Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc) e pela Avaliação Nacional de Alfabetização (Ana), já demonstraram que seus critérios não são significativos para grande parte da realidade escolar brasileira, mas o que se insiste em afirmar é que os dados revelam o baixo nível de aprendizado dos alunos.

O que se argumenta é que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) eram insuficientes e muito amplos, que não explicitavam o que era preciso ensinar na escola, ano a ano. O fato é que os PCN trouxeram discussões relativas à questões cristalizadas no campo das concepções teóricas e convocou os estados da federação a pensarem seus próprios currículos a partir das diretrizes norteadoras e de suas realidades locais.

Não se trata de dizer, a esta altura, que o documento anterior era o melhor referencial que se poderia ter para o ensino brasileiro; mas, à luz do que se tem agora, e considerando o projeto desse governo, cuja lógica empresarial está presente em todos os atos relativos à educação, que fomenta o padrão rede globo de cidadania, é muito temeroso tanto o silenciamento de questões conceituais e filosóficas na educação quanto o esforço para se delimitar o quadro de objetos de conhecimento.

Uma escola, por mais autônoma, marginal ou nova que seja, não pode evitar o problema da sua relação com os poderes existentes e, por isso mesmo, mudar conteúdos de ensino/objetos de conhecimento é tocar em um aspecto fundamental da cultura, é insinuar um outro comportamento cultural.

E por que empreender tanto esforço, em tempo recorde, para se fazer aprovar tal proposta de currículo? Penso que certos enrijecimentos na construção de um currículo se devem ao mito da unidade nacional associada à pureza da língua, à importância dada a aspectos como ortografia e classes gramaticais que, sob o ponto de vista cultural, significa privilegiar o passado e fomentar um ensino que rejeita diferenças e inibe as práticas comunicativas como objetivo da cultura escolar e como meio de construção de conhecimento.

E, pensando nas questões iniciais descritas no início do texto, que cidadão será o aluno, sujeito destas práticas? Silenciado? Copiando os textos de seus livros não-consumíveis? Recitando a tabuada ou a tabela de conjugação de verbos? Tudo por ordem e progresso?

Cristina Araújo escreve neste blog às segundas-feiras.

Adeus à minha irmã Maria Lúcia

A manhã começou triste, tão triste que vou tentar resistir e levar até ao fim esta mensagem aos amigos que me acompanham neste espaço.

A Maria Lúcia foi uma espécie de mãe da primeira geração de irmãos! Era então filha única, junto a mais seis irmãos. Acostumamo-nos com ela dando ordens na casa, enquanto nossa mãe, nesta época, não tinha boa saúde. Somente depois de alguns anos começaram a vir as irmãs, e então vieram uma atrás da outra: Loreni, Cristina e Fátima… a raspa do tacho foi meu irmão Antônio Carlos. Pessoalmente, sempre chamei a este grupo de a segunda geração! Eram os mais novos!

Mas nós, os mais velhos, tivemos uma convivência muito grande com a Maria Lúcia – a irmã mais velha que tinha autoridade sobre todos nós! Amava a todos. E nos ajudou muito: com a escola, e depois para enfrentarmos a vida. Até sapatos e meias de meu cunhado nos foram emprestados para irmos ao cinema Cisne na primeira sessão dos domingos à noite! Era o máximo da sofisticação na pequena cidade de Santo Ângelo, onde vivíamos.

Quando chegamos à idade dos estudos universitários, foi quem nos deu âncora, financeira e moral. Insistiu com nossos estudos. Quis ver-nos formados. Continuou depois a querer nos guiar, mesmo depois de adultos: nos queria casados com as filhas de bem da cidade!!! Insistiu mas não casou ninguém com suas candidatas e nem com os candidatos que apontavam para minhas irmãs já crescidas. Lembro isso para dar um pouco ideia do quanto ela foi nossa confidente, nossa irmã, nossa mãe postiça.

Casada muito cedo com Antônio Moreno, o Chico, teve nossos primeiros sobrinhos: Domingos, Inácio, Adriana e Rafael. Este tão mais novo, que nos foi dado, a mim e a Corinta, a chance de o cuidarmos, de o curtirmos, de vê-lo dar seus primeiros passos na praça da Catedral de Santo Ângelo!

Foi mulher guerreira! Quando o Chico ficou doente, dedicou-se de corpo e alma ao marido. Perdeu-o. Casou depois de alguns anos com Ângelo Pizolotto: mais uma vez teve anos de cuidados depois que ele sofreu um AVC com sequelas que lhe tirou fala e movimentos. E ainda assim achava tempo para a Loja que administrava, para dirigir uma ONG de acolhimento de meninas, de estar por toda parte ajudando.

Agora deixa-nos chorando. Assim, sem esperarmos. Sentiremos todos sua falta. Os filhos, os netos, os irmãos, os sobrinhos. Ela tinha uma predileção especial, correspondida, por minha filha Joana. Viveram sempre tão distantes e no entanto tão próximas.

Chorarei sempre por você! 

50 anos de Pedagogia do Oprimido

Celebrando Paulo Freire

Congresso Internacional 50 Anos depois da Pedagogia do Oprimido

11, 12 e 13 de Julho de 2018

O Congresso

No ano de 2018 irão completar-se 50 anos que Paulo Freire, então refugiado no Chile, terminou a sua fundadora e mais famosa obra, a “Pedagogia do Oprimido”. Como é do conhecimento geral, esta obra não só teve, como continua a ter um impacto mundial nos campos da educação, da política e da cultura. Basta recordar que este texto foi, e continua a ser objeto de estudo e de reconhecimento mundial, estando atualmente traduzido e publicado em múltiplas edições, em várias dezenas de países da América do Norte, América do Sul, Europa, África e Ásia. É também a terceira obra mais citada nas ciências sociais e humanas – segundo um levantamento realizado a partir do Google Scholar por Elliot Green da London School of Economics. Pela sua enorme importância, a Unesco considerou “Património da Humanidade” o acervo de Paulo Freire e incluiu-o no programa “ Memórias do Mundo”. Tratando-se de um livro de tão grande projeção internacional, o Instituto Paulo Freire de Portugal, de parceria com a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação e do Centro de Investigação e Intervenção Educativa da Universidade do Porto, decidiu dar corpo a uma iniciativa que comemorará, condignamente, não só esta efeméride mas também a relevância contemporânea da obra deste autor que coloca em evidência a necessidade de reflexão e de debate sobre questões tão significativas como políticas educativas, práticas e filosofias pedagógicas, movimentos contra-hegemónicos, problemas de identidade, de participação e de cidadania, etc.. Nesse sentido, está a organizar-se um congresso internacional, que irá ter lugar a 11, 12 e 13 de julho, congresso esse que contará com a participação de professores e investigadores de Brasil, Espanha, Itália e França, para além, evidentemente, de Portugal. Usufruirá ainda, e na linha da obra de Freire, da participação de grupos e instituições culturais da cidade do Porto, que dinamizarão círculos de cultura e momentos de criação artística com a(s) comunidade(s).

Organização

Instituto Paulo Freire de Portugal (IPFP)

Centro de Recursos Paulo Freire (CRPF-FPCEUP)

Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE-FPCEUP)

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP)

Comissão Organizadora

Professora Doutora Luiza Cortesão, IPFP/CIIE/Professora Emérita da UP

Professora Doutora Eunice Macedo, IPFP/CIIE/FPCEUP

Professora Doutora Ariana Cosme, CIIE/FPCEUP

Doutorando Francisco Coelho Neves, CIIE/FPCEUP

Mestranda Silvana Machado, FPCEUPGrupo de Voluntários (em organização)

Comissão Científica:

António Magalhães, CIIE/FPCEUP

António Teodoro, ULHT/CeiED

Boaventura de Sousa Santos, UW-Madison/Professor Jubilado FEUC

Carlinda Leite, CIIE/Professora Jubilada FPCEUP

Carlos Alberto Torres, PFI/UCLA

Helena Araújo, CIIE/FPCEUP

Isabel Menezes, CIIE/FPCEUP

Licínio Lima, Instituto de Educação/UM

Luiza Cortesão, IPFP/CIIE/Professora Emérita UP

Rosa Nunes, IPFP/CIIE/Professora Reformada FPCEUP

Wanderley Geraldi, Professor Jubilado UNICAMP

Xavier Bonal, GEPS/UAB

Conferencistas

António Magalhães Professor da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto

António Teodoro Professor Catedrático da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa

Boaventura de Sousa Santos Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Helena Araújo Professora Catedrática da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto

Inês Barbosa de Oliveira Professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Irène Pereira Professora na Universidade de Paris-Est Créteil

Isabel Menezes Professora Catedrática da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto

José Eustáquio Romão Diretor e Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Nove de Julho

Licínio Lima Professor Catedrático do Instituto de Educação da Universidade do Minho

Luís Alcoforado Professor da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra

Luís Mesquita Director da Escola de Segunda Oportunidade de Matosinhos

Luiza Cortesão Professora Emérita da Universidade do Porto

Sílvia Manfredi Presidente do Istituto Paulo Freire Italia

Wanderley Geraldi Professor Titular Jubilado da Universidade Estadual de Campinas

Xavier Bonal Professor da Universidade Autónoma de Barcelona

Programa Geral

1º Dia – 11 de Julho Eixo temático – Paulo Freire, ontem e hoje

8:00/9:00 – Receção aos participantes

9:00/10:00 – Mesa de abertura – José Alberto Correia (Diretor FPCEUP), Helena Araújo (Diretora CIIE-FPCEUP), Luiza Cortesão (Presidente IPFP), Isabel Menezes (FPCEUP/Presidente SPCE) 10:00/11:15 – Conferência de abertura – Licínio Lima (Professor UM)

11:15/11:45 – Coffee break

11:45/12:45 – Comunicações paralelas

12:45/14:00 – Pausa para almoço

14:00/15:30 – Mesa redonda – António Teodoro (ULHT), Luís Alcoforado (FPCEUC)

15:30/17:00 – Comunicações paralelas

17:00/17:30 – Coffee break

17:30/18:30 – Conferência Plenária – Inês Barbosa de Oliveira (UERJ)

18:30/19:30 – Lançamento do livro “Pedagogia do Oprimido”, trad. Portuguesa e do Fac-simile do manuscrito da “Pedagogia do Oprimido” (a confirmar). Luiza Cortesão (Presidente IPFP), José Eustáquio Romão (UNINOVE), José Ribeiro (Ed. Afrontamento)

2ºDia – 12 de Julho Eixo temático – Diversidade e direitos humanos

8:30/10:00 – Mesa redonda – Isabel Menezes (FPCEUP/Presidente SPCE), Silvia Manfredi (Presidente IPFItalia)

10:00/11:00 – Comunicações paralelas

11:00/11:30 – Coffee break

11:30/13:00 – Mesa redonda – Helena Araújo (Diretora CIIE-FPCEUP), Irène Pereira (UPEC)

12:30/14:00 – Pausa para almoço

14:00/15:30 – Mesa Redonda – Luís Mesquita (ESOM), convidado a confirmar

15:30/17:00 – A voz da comunidade*

17:00/17:30 – Coffee break

17:30/19:30 – A voz da comunidade*

3ºDia – 13 de Julho Eixo temático – Políticas e práticas

9:00/10:00 – Conferência plenária – Wanderley Geraldi (UNICAMP)

10:00/11:00 – Comunicações paralelas

11:00/11:30 – Coffee break

11:30/13:00 – Mesa redonda – António Magalhães (FPCEUP), Xavier Bonal (UAB)

13:00/14:00 – Pausa para almoço

14:30/16:00 – A voz da comunidade*

16:00/16:30 – Coffee break

16:30/18:00 – A voz da comunidade*

18:00/19:00 – Conferência de encerramento – Boaventura de Sousa Santos (CES/FEUC)

*Prevê-se que este período seja preenchido com atividades de grupos culturais da cidade do Porto, como por exemplo a “Orquestra Comunitária Mundo em Campanhã”, grupos de teatro, artesãos, rodas de conversa de adultos que foram alfabetizados, etc. A intenção é a de, indo ao encontro das características da obra de Paulo Freire, procurar articular culturas populares com atividades académicas de qualidade.

Calls / Submissão de resumos para comunicações livres

As comunicações deverão, essencialmente, enquadrar-se em três grandes eixos temáticos: um primeiro relativo à obra de Paulo Freire; um segundo em que se reunirão trabalhos sobre diversidade e direitos humanos; um terceiro relativo a políticas e práticas. Os resumos poderão ter um máximo de 300 palavras escritas em português ou espanhol. Para além do título e do eixo temático em que se enquadram, deverão deles constar 3 a 5 palavraschave. Terá de acompanhar o resumo o nome do/a autor/a e sua pertença institucional. Os ficheiros deverão ser enviados num formato editável – doc.x (word).

Segue-se a explicitação dos temas abrangidos por cada eixo temático.

Eixos temáticos Paulo Freire, ontem e hoje:  Atualidade de Paulo Freire  Pedagogia do Oprimido: debates contemporâneos  Pedagogia da Autonomia: debates contemporâneos  Educação na cidade: debates contemporâneos  … **

Diversidade e direitos humanos:  Diversidades  Inclusão/participação  Educação de adultos  Infância, Educação, Trabalho infantil  …

Políticas e Práticas:  Flexibilização curricular/autonomia  Projetos e práticas  Práticas educativas na comunidade  Arte e Educação  …

**Poderão ser consideradas outras comunicações cujo tema se enquadre num dos eixos temáticos escolhidos.

A submissão dos resumos deve acontecer para o endereço eletrónico: congresso2018ipfp@gmail.com Datas Data limite para submissão dos resumos 16 de Março Comunicação dos resultados da avaliação 13 de Abril Prazos para inscrição com apresentação de comunicação Início da 1ª Fase Final da 1ª Fase Final da 2ª Fase 14 de Abril 27 de Abril 11 de Maio

*** Prazos para inscrição sem comunicação Final da 1ª Fase Final da 2ª Fase 27 de Abril 30 de Junho Divulgação do programa definitivo 15 de Junho

***As comunicações de autores/as que não tenham completado/pago a inscrição até 11 de Maio de 2018 não poderão ser incluídas no programa. Inscrição VALORES DE INSCRIÇÃO 1ª Fase 2ª Fase Sócios do IPFP Estudantes da Universidade do Porto Outros 20€ 40€ 60€ 120€ Não Sócios do IPFP Estudantes da FPCEUP Estudantes de outra Faculdade da UP Outros 40€ 60€ 180€ 120€ 180€ 280€ ● Será anunciada brevemente a forma de pagamento das inscrições; ● A inscrição permite a participação em conferências, workshops, atividades culturais e coffee breaks. Informações importantes

Local do congresso Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto Morada Rua Alfredo Allen 4200-135 PORTO – PORTUGAL Contactos Telefone: (+351) 22 607 07 00 Sítio: www.fpce.up.pt (contém informações de localização e de transportes) Endereço eletrónico: fpce@fpce.up.pt Organização do Congresso Centro de Recursos Paulo Freire / Instituto Paulo Freire de Portugal Morada Rua Alfredo Allen, sala 005 4200-135 PORTO – PORTUGAL Contactos Telefone: 220 400 618 Sítio: http://ipfp.pt (brevemente disponível) Endereço eletrónico: ipfportugal@fpce.up.pt Para submissão de resumos e informações relativas ao congresso utilizar o endereço eletrónico: congresso2018ipfp@gmail.com

O JUDICIÁRIO – UMA ARENA POLÍTICA IDEOLÓGICA

 

 “Toda verdade é revolucionária”, assim escreveu Gramsci. E por escrever esta verdade da “verdade”, Gramsci foi condenado e preso. Foi julgado e condenado por crimes que cometeu dizendo e escrevendo verdades às claras, sem medo e sem limites, nos tempos do ditador Mussolini. “É preciso impedir que este cérebro funcione durante 20 anos”. Esta teria sido a argumentação da sentença, alegada pelo promotor fascista no processo que condenou Gramsci à prisão por 20 anos, em 1928. A condenação foi sentenciada por ordem de Mussolini. Gramsci viveu 9 anos no cárcere em condições físicas precárias e em estado emocional deprimente até poucos dias ates de sua morte, 1937, mas não parou de escrever verdades históricas por nenhum instante na cela, com a luz do sol de apenas uma hora por dia. Além de escrever sem parar, alfabetizou companheiros presos no cárcere e ministrou aulas de filosofia até para os carcerários. Lá na Itália, nos tempos do fascismo, Mussolini determinava os julgamentos nos Tribunais da Justiça italiana, de acordo com os interesses das elites econômicas e políticas em conluio com os poderes fascistas.

Aqui no Brasil, quase um século depois, os golpistas, em conluio com juízes, acusam, julgam e condenam Lula, mesmo sem provas de crimes cometidos. Parodiando o promotor fascista italiano, os golpistas brasileiros sentenciam: “é preciso impedir o Lula de ser candidato a presidente do Brasil pelo resto de sua vida”. E assim condenaram e irão prender Lula.

Não quero aqui comparar e igualar a vida e a produção intelectual do grande e ousado pensador do século XX, Gramsci – de família pobre, de infância e adolescência sofridas na ilha da Sardenha, passando fome e quase morrendo de frio na universidade – com a vida e a obra social inédita de Lula – um cabra do sertão, que virou trabalhador metalúrgico, sindicalista e presidente do Brasil durante oito anos, eleito democraticamente. Porém, vejo qualidades humanas e virtudes muito comuns dos dois: a fé,a crença e a perseverança na luta pela transformação social – uma sociedade justa, igualitária e democrática, com hegemonia política dos trabalhadores. Gramsci perseverou até à morte nesta luta. Lula, mesmo condenado, sem nenhuma perspectiva de ser absolvido, continua percorrendo o Brasil todo, conclamando o povo brasileiro – trabalhadores, desempregados, funcionários, mini e pequenos proprietários, acampados e assentados – para um governo comprometido com o social, o comum, com a garantia dos direitos já conquistados e ainda a conquistar dos trabalhadores.

Nesta arena política ideológica acontece a luta, às vezes aberta, às vezes camuflada, de classes – inclusive confrontos militares. Estes, os militares sempre do lado das elites. Na verdade, a arena social e política em que vivemos é um campo de batalha – na acepção de Gramsci – onde existem forças dos exércitos inimigos e as forças dos exércitos aliados. É preciso conhecer e avaliar as forças dos dois exércitos: a disciplina, a disposição moral, as armas e os equipamentos, a capacidade de deslocamento, as táticas e estratégias, a guerra de posições, a formação da opinião pública, a conscientização política, os partidos políticos e principalmente o poder da mídia hegemônica das classes dominantes. A conjuntura de hoje exige o exame e a análise rigorosa desta arena política ideológica como verdadeiro campo de batalha pela hegemonia de classes sociais.

Neste momento da conjuntura política, a luta é pela invenção e fabricação dos candidatos para disputar as eleições. Na ótica dos grupos dominantes é imperativo excluir o Lula da arena.

 

José Kuiava escreve neste Blog às quartas-feiras                                             

Lula: a inacreditável esperança ambulante

E não é que o Lula, em entrevista para Rádio Metrópole, de Salvador – publicada por ele nas redes sociais – mantém sua esperança numa suposta dignidade do Judiciário brasileiro: ele acredita que será absolvido por crimes que não cometeu mas que Léo Pinheiro, desmentindo a si mesmo, disse que ele cometeu ao receber de presente do tríplex do Guarujá. Léo Pinheiro mentiu, todo mundo sabe, exceto o juiz Sérgio Moro, o angélico.

Acontece que esta esperança que ainda move Lula – que já reconhece que será um preso político, se vier a ser preso – somente tem seus fundamentos na fé. Na fé em instituições que deixaram de ter qualquer coluna vertebral, qualquer vergonha na cara, qualquer preocupação com a história e com que ela dirá deste período de exceção. Instituição composta por sujeitos que dão um dedo e mais alguma coisa por dois minutos de holofotes na rede Globo.  

Ou alguém acredita que haja ainda Judiciário no país? Ora, um juiz singular, lá de Curitiba, aliado a um grupo de procuradores que negociam monetariamente delações, publicam escutas telefônicas ilegais, agem partidariamente  etc., este juiz e procuradores mandam o STF não cumprir a Constituição, e o STF a eles se subordina e descumpre o que era de seu dever preservar.

Tomadas as decisões inconstitucionais, criam os senhores antigos ministros do judiciário, hoje membros ilustres de um partido político em que se transformaram o sistema judiciário, o MPF e a PF, criam, repito, jurisprudência que isenta, por exemplo, o STJ de raciocinar juridicamente e julgar segundo o entendimento inconstitucional do STF.

Qualquer um sabe: em quatro anos de Lava Jato, nenhum político do partido aliado, o PSDB, foi incomodado… e jamais será, mesmo que os R$ 113 milhões de Paulo Preto sejam mais do que o dobro dos milhões do apartamento do Geddel. Aliás, este dobro não mereceu reportagens continuadas da rede Globo, a mentirosa. Nem foi descoberto pelos diligentes delegados e procuradores da República de Curitiba, onde não há juiz mas Inquisidor Mor: foi a Justiça da Suíça que descobriu e comunicou às autoridades brasileiras… não sei como vazou esta informação. Que não digam que foi o falecido japonês da PF de Curitiba!

A esperança e a fé de Lula nestas instituições é simplesmente inacreditável. Ou é jogo de cena, para que pensem que tem algum respeito por aqueles que o perseguem. E quanto mais perseguem, mais crescem as intenções de voto em Lula!

Mas a eleitora brasileira, primeira e única, D. Carmen Lúcia, já decidiu: não vai pautar qualquer revisão de um entendimento que até ministros de sua laia percebem que foi inconstitucional. Não quer pautar. Ponto final. Mas quem constrói este querer da única eleitora brasileira de 2018? Ora, ora, ninguém é inocente. Ela presta serviço, aplicada, disciplinada e diligente.

E para quem está insatisfeito, o horizonte é ainda mais apequenado: a corte de serviçais da casa grande, da Casa Branca, da Rede Globo e do Dr. Angélico Sérgio Moro ficará ainda menor, bem menor. O sucessor de dona Carmen será o ministro acólito, o Dias Toffoli.