Algumas funções da leitura na formação de técnicos*

Algumas funções da leitura na formação de técnicos*

Interessado em se fazer profissional, o cidadão busca cursos oferecidos pelas escolas técnicas, ora premido pelas circunstâncias imediatas da vida, ora movido pelos sonhos do mercado: uma vez profissional, tornar-se-ia mais leve a luta pela sobrevivência, face à competência técnica que um curso de formação proporcionaria. Afinal, diz-se, a mão-de-obra não especializada sofre não só os baixos salários, mas também as primeiras dispensas quando “movimentos na economia” provocam cíclicas retrações do sistema de produção. Profissional especializado, sonha o estudante de agora com um futuro senão promissor, no mínimo menos perigoso.

E, entrando para a escola, ei-lo às voltas com estudos que o distanciam de seus interesses imediatos: são as chamadas disciplinas técnicas, de preferência ministradas diretamente nas oficinas, que mais lhe interessam. O resto… bom, o resto é apenas um obstáculo a mais na corrida sempre perigosa de viver: passa-se pelas chamadas disciplinas de humanidades para satisfazer exigências formais de uma formação que se quer técnica.

Formação técnica x formação humanística. Tecnologia x humanismo. Dicotomias que incorporamos, às vezes sem perceber, em nossas discussões sobre a escolarização mais adequada e mais democrática para um povo que tem posto poucas exigências à ação [educativa]: quer apenas sobreviver de seu trabalho.

Seriam efetivamente formações distintas? É possível pensar a conciliação entre os interesses mais imediatos do trabalhador que se quer profissional e os interesses de uma formação pragmaticamente definida? A questão, é óbvio, não é nova: os enciclopedistas a enfrentaram no Século XVIII, como se pode ver em uma passagem de Diderot:

“Aquele que sabe somente a geometria intelectual é normalmente um homem sem destreza, e um artesão que tem somente a geometria experimental é um operário muito limitado… Sobre certos problemas tenho certeza que é impossível conseguir algo satisfatório das duas geometrias em separado.” (apud Manacorda, 1989:241)

Pensar a leitura em cursos de formação técnica é retornar a um tema constante. Faço esse retorno, aqui, a partir de duas perspectivas: de um lado pondo sob suspeita as práticas escolares de leitura; de outro lado pondo sob suspeita o aparente conflito de interesses entre uma formação técnica e uma formação humanística numa sociedade como a nossa.

  1. As práticas escolares de leitura

Na escola, tal como a conhecemos, a leitura de textos nunca deixou de estar presente, em qualquer das disciplinas que nela se ministram (técnicas ou não). Mas é no interior daquela disciplina que teria a própria leitura como seu objeto de estudos (as aulas de língua e literatura) que esta prática é mais surpreendente. Nas aulas de português, a presença da leitura tem tido um objetivo muito particular: o da transformação do texto que se lê em modelo. Isto por diferentes caminhos:

  1. O texto transformado em objeto de uma leitura vozeada (ou da oralização do texto escrito), em que se lê para provar que se sabe ler. Recomenda-se, em geral, que o próprio professor fizesse uma leitura em voz alta do texto, e depois solicitasse que seus alunos lessem o texto: aluno por aluno (às vezes sadicamente aquele que o professor percebe estar com a alma vagando longe da sala de aula) vão lendo partes do texto. Lê melhor aquele que melhor se aproxima do modelo de leitura dado, a leitura do professor. Evidentemente, trata-se hoje de uma prática felizmente já ausente das aulas contemporâneas;
  2. o texto transformado em objeto de uma imitação. A leitura nada mais é do que a motivação para a produção de outros textos pelo aluno. Com ela, dois resultados podem ser perseguidos: ou que o aluno escreva outro texto tratando do mesmo tema (ainda que tal tema lhe seja distante) ou que o aluno tome o texto como modelo formal para escrever, sobre outro tema, mas na forma do texto lido (e os alunos então escrevem poesias, crônicas, contos, fábulas, etc sempre de acordo com o modelo a ser seguido);
  3. o texto transformado em objeto de fixação de sentidos. Os sentidos que o professor ou algum outro leitor privilegiado tenham dado ao texto passam a ser os sentidos do texto. Ao aluno, em sua leitura do texto, cabe descobrir tais sentidos previamente definidos. Lê melhor quem mais se aproximar dos sentidos que já se atribuíram ao texto. Não se trata de o aluno (leitor) construir sentidos do texto a partir das pistas que este lhe fornece associadas à experiência vivida por ele próprio, mas se trata de o aluno redescobrir a leitura desejada, num exercício de adivinhações que não mobiliza a história de vida (que inclui também outras leituras) do leitor, mas mobiliza apenas sua experiência escolar que sempre lhe disse que deve aproximar-se do já dado para melhor se safar da tarefa.

Em resumo, estes três tipos de práticas não respondem a qualquer interesse do próprio leitor: são exercícios de leitura cujos objetivos são para ele incompreensíveis. Afinal, para que aprender a ler em voz alta se pretendo ser torneiro mecânico, eletricistas, projetista, ou o que seja? Para que escrever sobre esse tema, se sobre ele já escreveu o autor que acabo de ler e nada tenho de diferente para dizer? Para que aprender a escrever poesias, crônicas, contos, se não farei nada disso depois? Para que ler o texto que estou lendo, se não houvesse estas perguntas de interpretação que tenho de responder para ser aprovado em português?

Não se trata de leitura de sujeitos que, querendo aprender, vão em busca de textos e cheios de perguntas próprias, sobre eles se debruçam em busca de respostas. O que poderia ser uma oportunidade de encontro de sujeitos torna-se um meio de estimular operações mentais (especialmente da memória), e não um meio de, operando mentalmente, produzir sentidos e, consequentemente, construir categorias de compreensão da realidade vivida a partir das informações e opiniões dadas pelo autor do texto lido.

Como construir outra legitimidade para a leitura em aulas de português em cursos de formação técnica? Como tornar tais atividades significativas para o estudante sem, contudo, cair no pragmatismo que excluiria a leitura de textos que não respondam a interesses imediatos?

Saindo da escola e olhando para nossas atitudes de leitores fora dela, parece-me que podemos encontrar algumas pistas. As formas como nos relacionamos com textos pode fornecer uma espécie de tipologia destas relações, e como tais, poderiam inspirar outras práticas de leitura na escola.

  1. Posso ir ao texto em busca de respostas a perguntas que tenho. Trata-se de perguntar ao texto. Nem sempre ele me dará as respostas que busco, poderá me dar respostas que considero parciais, poderá me dar respostas que considero incorretas, poderá não me dar resposta alguma, e preciso continuar buscando em outros textos, desde que minhas perguntas estejam me incomodando. É o que se pode chamar de leitura busca de informações. Dependendo das perguntas que tenho, qualquer tipo de texto pode me dar respostas. Evidentemente, não procurarei o número do telefone de um amigo num romance do começo do século: para isso manusearei a lista telefônica (o que é uma forma de ler este tipo de texto); mas uma informação tanto pode ser extraída de um texto jornalístico quanto de um texto de ficção. Tudo depende do tipo de pergunta que eu tenho e do tipo de resposta que busco. É o tipo de relação que mantenho com o texto que define este tipo de leitura. Neste sentido, raramente os textos lidos em aulas de português respondem a uma necessidade do aluno. São, sobretudo, textos selecionados independentemente destas necessidades, respondendo a uma tradição escolar do que se constituiu na história como conteúdo a ser visto em tais aulas.
  2. Posso ir ao texto para escutá-lo, ou seja, não para retirar dele uma resposta pontual a uma questão que está incomodando neste momento. Lê-se para retirar do texto tudo o que dele posso extrair nesta leitura. É o que se pode chamar de leitura estudo do texto. Novamente, estou me referindo a um tipo de relação que mantemos com texto, e não a tipos de textos. Uma instrução técnica pode ser objeto de um estudo (na cozinha, quando lemos uma receita de comida que nunca fizemos e que queremos experimentar, estudamos a receita, vemos se temos os ingredientes para nos arriscarmos a fazer o prato, estudamos a forma de fazer, etc.). Num texto de ficção podemos estudar as ações das personagens frente a diferentes problemas, podemos encontrar na história que se narra do que não foi categorias para compreender um mundo que poderia ter sido.
  3. Posso ir ao texto para usá-lo inspirando-me nele para com ele fazer outras coisas: construir uma montagem, retirar dele um argumento, buscar um exemplo, apreender uma analogia etc. Pretextos legítimos. E mais uma vez, qualquer tipo de texto pode ser usado, dependendo do tipo de uso que quero fazer. As formas de receita de cozinha já inspiraram filmes; manifestos podem inspirar conclamações sindicais, etc. Não é o uso do texto que o destrói: é a sua leitura sem qualquer objetivo para o leitor que destrói textos e autores.
  4. Posso, por fim, ir ao texto desarmado. Sem perguntas para as quais imagino ele possa fornecer respostas; sem querer escrutiná-lo pelo meu estudo; sem qualquer pretensão de uso imediato. É o que se pode chamar de leitura fruição do texto. É a gratuidade da relação que define este tipo de leitura. Novamente, qualquer tipo de texto pode ser objeto de uma leitura prazerosa: desde uma fórmula matemática até o poema mais hermético.

É óbvio que em qualquer dos tipos de relações aqui tomadas como exemplares o leitor sai enriquecido de informações, quer do ponto de vista do conteúdo dos textos, quer do ponto de vista das configurações textuais com que opera. No convívio com textos, aprende tanto suas formas quanto seus conteúdos, já que uns e outros são inseparáveis.

Uma tal prática, no entanto, supõe uma atitude produtiva: pela mobilização dos “fios” com que o texto foi tecido e dos “fios” que o leitor traz de sua própria história, tece-se um novo bordado. Da experiência de leitura, o leitor sai modificado ou porque adere aos pontos de vista com que compreende o mundo ou porque modifica tais pontos de vista face ao diálogo mantido através do texto com seu autor.

  1. O conflito aparente: formação técnica x formação humanística

Frequentemente, face aos cursos técnicos, professores de língua portuguesa têm insistido na leitura de literatura como uma espécie de contraponto aos trabalhos desenvolvidos pelos alunos nas oficinas profissionalizantes. Como se o trabalho embrutecesse o sujeito, e a leitura do texto literário os humanizasse. Outro tipo de resposta face ao mesmo problema, mas como o outro lado de uma mesma moeda, outros professores de língua portuguesa, na esperança de tornarem suas aulas mais próximas dos interesses mais imediatos de seus alunos, propõem para tais cursos a leitura de textos “técnicos” já que no exercício profissional serão as instruções técnicas que eles manusearão.

Na verdade, estamos convivendo hoje com um sistema escolar misto: escolas profissionalizantes por um lado, e escolas tradicionais de outro lado. É conhecida a tese de Gramsci a favor da escola unitária e sua análise da aparente democracia que as escolas profissionais representariam:

“A escola tradicional era oligárquica, pois era destinada à nova geração dos grupos dirigentes, destinada por sua vez a tornar-se dirigente: mas não era oligárquica pelo seu modo de ensino. […] A marca social é dada pelo fato de que cada grupo social tem um tipo de escola próprio, destinado a perpetuar nestes grupos uma determinada função tradicional, diretiva ou instrumental. Se se quer destruir esta trama, deve-se evitar a multiplicação e graduação dos tipos de escola profissional […] a tendência democrática, intrinsecamente, não pode consistir apenas em que um operário manual se torne qualificado, mas em que cada “cidadão” possa se tornar “governante” e que a sociedade o coloque, ainda que “abstratamente”, nas condições gerais de poder fazê-lo […] formando-o como pessoa capaz de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige.”

À luz de tal perspectiva, qualquer solução excludente no que tange aos tipos de textos de leitura parece inadequada. Se a formação técnica, na sociedade que temos hoje, é uma necessidade, ela o é não só para o trabalhador. O problema é o tipo de formação técnica que se destina ao trabalhador: apenas a do exercício de profissões “instrumentais” e nunca “dirigentes”. Excluir a leitura de textos ficcionais seria contribuir para a eternização da diferença. Excluir a leitura de textos técnicos seria contribuir, de outra forma, com esta mesma eternização, pois a capacidade profissional é um dos maiores instrumentos de luta da classe trabalhadora.

Entre outras questões que o aparente conflito entre os dois tipos de formação parece colocar, há uma para a qual é preciso chamar a atenção. Na rapidez com que se desenvolve o mundo técnico, com suas máquinas cada vez mais sofisticadas, com seus programas rapidamente tornados obsoletos (a título de exemplo, pense-se nos programa computacionais, mesmo aqueles mais simples, que fazem do computador uma máquina de escrever sofisticada – os redatores – estão a cada dia sendo substituídos por programas com maior “cardápio”) é a própria formação técnica que demanda a formação de leitores sofisticados, exigentes, pacientes, capazes de diálogo.

No que tange à leitura, parece-me que uma sólida formação técnica está demandando uma maior capacidade de leitura de diferentes tipos de textos, desde simples instruções até sofisticados textos artísticos (no caso, literários), pois as exigências postas por estes no processo de compreensão desenvolve a capacidade de construir, no diálogo autor/leitor via texto, novas categorias que correlacionam a construção ficcional com o mundo vivido.

Parece-me que as soluções defendidas pelos dois grupos referidos no primeiro parágrafo deste tópico partem de um falso dilema, construído pela vontade democrática de tornar os cursos técnicos efetivamente capazes de atender às reais necessidades de seus alunos.

Colocaria a questão em outro patamar. Não se trata de saber qual é o tipo texto mais adequado para o trabalho a ser feito em sala de aula. Trata-se de saber qual o melhor trabalho a ser feito em sala de aula para que os alunos egressos das escolas técnicas sejam cidadãos leitores em uma sociedade que tem expulsado, historicamente, os trabalhadores, qualificados ou não, das bibliotecas, das livrarias, dos cinemas, dos teatros, etc.

Neste patamar, trata-se de pensar o próprio processo de leitura. Afinal, o que é ler? Que coisa é esta, o texto, que parece se apresentar como um enigma, um segredo cuja chave de acesso parece ser de conhecimento de tão poucos?

Houve uma época em que tudo parecia tranquilo: cada texto tinha um significado, e apenas um, e ler era desvendar este significado. Depois, como reverso desta farsa, outra farsa: todo o texto permite qualquer leitura, tudo vale – é a minha leitura.

O que se estará querendo dizer, hoje, quando se fala que o sentido é produzido na leitura? Que o texto não tem um si qualquer sentido? Que o leitor não tem qualquer compromisso?

Parece-me que não são estas as verdadeiras questões para o professor de língua portuguesa e, portanto, de leitura, trabalhe ele num curso técnico ou não. E é como contribuição de respostas a estas questões que teço as considerações que se seguem:

  1. ao ler um texto, o leitor mobiliza dois tipos de “informações”: aquelas que se constituíram em sua experiência de vida e aquelas que lhe fornece o autor em seu próprio texto. É neste sentido que a leitura é um encontro de sujeitos, enquanto tais, sujeitos situados numa sociedade e por ela influenciados, mas não como resultados mecânicos de suas condições, mas como síntese destas condições históricas e de suas ações sobre elas;
  2. ao ler um texto, o leitor se compromete com o autor no sentido que este, ao escrever o texto, utiliza-se de uma língua para produzir certos efeitos de sentido. Autor e leitor, pertencentes a uma mesma sociedade, onde se constituiu, pelo trabalho de todos, o sistema linguístico, sabem um e outro que as estratégias de dizer implicam sentidos e efeitos de sentido. Ora, não pode, pois, o leitor atribuir qualquer sentido às expressões usadas pelo autor: ao atribuir um sentido, o leitor parte das pistas fornecidas pelo autor, associa-as a seus próprios fios, para produzir o sentido em sua leitura. Aqui, pode o leitor produzir, em sua caminhada interpretativa, leituras inadequadas. Caberá ao professor não a correção de tal leitura, mas descobrir com o leitor os passos desta caminhada, para que este leitor/aluno perceba onde os encadeamentos feitos poderão estar sendo responsáveis pelo sentido final inadequadamente produzido;
  3. ao ler um texto, o leitor não pode “despojar-se” de seus saberes para preencher os espaços vazios assim conseguidos com os saberes do autor. Isto seria negar-se ante o texto. Mas também não pode escudar-se em seus saberes como verdades absolutas e imutáveis. Isto seria negar o texto. Mesmo quando não concordamos com os pontos de vista defendidos no texto que lemos, para podermos criticá-lo precisamos estar “abertos” para compreendê-los e por isso mesmo não aceita-lo. É neste sentido que a leitura é um diálogo, que na escola se dá entre o aluno e o texto, mas do qual o professor não pode ser mera testemunha. Mediador de leituras, cabe ao professor um papel nativo neste processo, perguntando, fazendo refletir, fazendo argumentar, escutando as leituras de seus alunos para com elas e com eles reapreender o seu eterno processo de ler.

Se a leitura puder se tornar, nas aulas de português, esta forma de encontro, norteado pelos diferentes interesses pelos quais buscamos encontrar-nos com os outros, talvez possamos ultrapassar práticas escolares tradicionais de leitura e irmos além das dicotomias de formação técnica x formação humanística nas escolas em que hoje atuamos em função da construção da escola que queremos.

* Nota

O SENAI estava desenvolvendo um projeto – A Biblioteca na Escola – coordenado pela equipe de ensino à distância e de multimeios, do Departamento Regional de São Paulo. No começo do ano fui convidado para uma palestra na escola de Campinas. Posteriormente me pediram que escrevesse um texto para compor o material didático do projeto, um material escrito que acompanhava o programa em vídeo (programa chamado de Entre Vistas). Redigi o texto para este material, e o leitor notará que se trata de uma composição de questões, perspectivas e propostas já publicadas em outros trabalhos. A função do texto, aqui, era tanto de formação quanto de divulgação de ideias que, naquela época, ainda pareciam renovadoras. O leitor notará também o tom didático da exposição, buscando uma interlocução com professores desconhecidos, já que se tratava de material para “educação à distância”. Publico-o aqui para manter a fidelidade ao conjunto de textos publicados por mim ao longo do tempo.

(Algumas funções da leitura na formação de técnicos. In. SENAI.  A biblioteca na escola. S.Paulo, Senai, 1991, p. 13-26.)

 

Bibliografia

Geraldi, João Wanderley. Portos de Passagem. São Paulo, Martins Fontes, 1991.

Gramsci, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2ª. edição, 1978.

Manacorda, Mário A. A história da educação – da antiguidade aos nossos dias. São Paulo, Cortez: Autores Associados, 1989.

 

Uma dor habitando meu peito e desabrigada de humanidade

Uma dor habitando meu peito e desabrigada de humanidade

A sensação de ver um prédio desabando é como se nossa vida estivesse ali. E tantas estavam mesmo ali, ocupando esquecimentos e aquecimentos dos mercados. Imóveis desocupados enquanto faltam habitações, não pode parecer natural que pessoas tenham necessidades vitais negadas, ao tempo em que outras transformem essas mesmas necessidades, em excedentes e objeto de especulação.

Cumpra-se! Desocupe! Cale-se! Prendam! Matem, queimem, derrubem. Imperativos verbais que nos remetem aos impérios erguidos sobre os ombros cansados, destes que hoje migram de suas senzalas para favelas e coabitações. Dizem ainda que o excesso de sal pode estragar uma fundação de imóvel, é preciso ter cuidado para as lágrimas, destes choros intermináveis.

E como se já não bastasse invadir e ocupar todos os espaços de resistência torna-se importante ser invisível: sem voz, sem dor, sem fome, sem abrigo, sem proteção, sem oportunidades, sem merecimento, sem choro, sem direitos… Apenas leis para serem cumpridas.

Quanta dor e lamento cabe na vida deste povo? E que teimosia move essa marcha dos sem nada? Convenhamos não lhes falta apenas teto.  E suas imagens são ameaçadoras, mas não agora. Como se andar fosse um transbordar de silêncio e esperança, feito criança que não sabe para onde, e se arrisca, e que não se sabe sozinha, e acredita-se segura no caminhar ladeado pelo outro.

A tragédia colocada no Primeiro de Maio anuncia as dificuldades e tormentas de um tempo vindouro muito mais do que a bonita música de Alceu Valença: “tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais…”. E os sinais não são sutis e se apressam pelo tempo da desesperança.

Assistimos entorpecidos pela incredibilidade e pela fúria ensandecida dos que se opõem. Mostram a tragédia invertendo culpas e vítimas, não aproximam as câmeras, não “intimizam” os ângulos de forma que apareçam estragos e ruínas, não precisam estar humanizados.

Aproveitam as imagens do fogo que consome tudo, é ainda o mesmo fogo que queimou hereges, rebeldes, bruxas e curandeiras. Não vasculham sequer a dor das perdas, como se não fossem humanos por não ter: – não perderam nada, os que nada tinham!

E assim figuras blasés pululam em inserções midiáticas com seus comentários realizados em tons elegantes e, por vezes, sofisticados, dotados de sentidos absurdamente envernizados de ordem e bons costumes, um disfarce ideal num mundo desigual para iguais.

O que temos nós se não as vidas? As nossas próprias vidas e de mais ninguém? Teremos tempo? Compaixão? Respeito? Teremos amor? Teremos futuro?  E as perguntas fazem um processo inverso ao erguer de um muro, como se fosse possível cada pergunta encerra em mim um tijolo, e um vazio enche meu peito e cabeça.

As palavras não fazem sentido quando você vê alguém com 65 anos dormindo em uma calçada fria, reforça-se a incompreensão lendo um depoimento em que outro morador disse ter retirado criança de colo de dentro do prédio. Onde estarão elas? Não há vida que vale mais, e não deveria haver vida que valesse menos.  É claro que todos nós sabemos que muitas pessoas dormem nas ruas: histórias e marcas profundas nas cidades e cicatrizes nas almas: 248 pessoas e 92 famílias são os números oficiais da prefeitura.

O desmoronamento do edifício Wilton Paes de Almeida ainda parece-me, e quero muito estar enganada, um marco de inauguração de tempos sombrios. Enquanto escrevo, lembro de uma música de Milton Nascimento que invariavelmente tenho vontade de chorar ao ouvir, e sim estou mesmo desmoronada (nem quero fazer trocadilho infame com o nome do juiz).

E, embora ela me entristeça, sempre termino com o coração mais bravo e forte, capaz de fazer com minhas próprias mãos o meu viver, mas por hora essa música não me parece dizer muito sobre essa tragédia, talvez o inconsciente diga mais do que sei interpretar, ela fala sobre a travessia que fazemos, e ao final que é preciso resistir…

Quando você foi embora
Fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha
E nem é meu este lugar
Estou só e não resisto
Muito tenho pra falar

Solto a voz nas estradas
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto
Vou querer me matar

Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto
Vou querer me matar

Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver

(Travessia  – Compositores: Rocha Brant Fernando / Milton Nascimento)

 

 

Esquerdas do Brasil!

Esquerdas do Brasil!

Na luta de classes ao longo do processo da história, uma velha, antiga e ainda atual estratégia do bloco das classes dominantes é dividir, confundir, desunir as classes sociais inferiores para se manter no poder. Principalmente quando estas – as classes dos trabalhadores assalariados – estão organizadas politicamente e com potencial eleitoral de chegar ao poder pelo caminho processual democrático. É a tal luta de classes pela hegemonia – direção do poder do estado pelo consentimento dos cidadãos. Aí as elites do bloco no poder valem-se de uma estratégia muito astuta, espertalhona, maníaca, ora franca, ora disfarçada, fantasmagorizada de bem de todos perante a opinião pública, para se manter no poder no momento presente e garantir o governo para o próximo mandado.

Não é diferente no Brasil de hoje: um oceano de partidos políticos e um pantanal, sem fronteiras, de candidatos para presidente da república. Não há dúvida de que o quadro eleitoral na conjuntura política, econômica e social é altamente favorável aos partidos de oposição. De acordo com as pesquisas de intenções de votos, feitas pela mídia e também pelo Instituto Vox Populi, se Lula for candidato ele ganha de todos os seus concorrentes em qualquer cenário, com 39% dos votos no primeiro turno e com 54% a 56% no segundo turno, se for Marina, ela 32%; Bolsonaro 31% e Alckmin com 27%. Assim, a hegemonia das esquerdas no poder executivo estaria garantida. Porém, a aliança dos três poderes eliminou Lula de forma legal, mas desavergonhadamente ilegítima.

Agora vem a pergunta: porque tantos candidatos à candidato? Alguém já se fez esta pergunta e também já respondeu a si mesmo e aos outros? Para responder melhor a pergunta precisamos analisar o cenário de candidatos à presidente da república do Brasil, vinculados às classes sociais.

Candidatos dos partidos de direita e do bloco no poder de hoje: Michel Temer, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Jair Bolsonaro, Guilherme D. Afif e mais de meia dúzia de pré-candidatos – todos inocentes e bem-intencionados.

Candidatos dos partidos de centro-direita: Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Álvaro Dias, Cristóvam Buarque e outros menos cotados. Candidatos dos partidos de esquerda: Luiz Inácio Lula da Silva – ora condenado, preso e inelegível – Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Manuela D’Ávila, Marina Silva, Valéria Monteiro e outros ainda não declarados.

Assim, é uma estratégia disfarçada das classes de centro-direita lançarem tantos candidatos, tentando induzir e levar as esquerdas para o mesmo caminho – dividir para que ninguém das esquerdas chegue ao 2º turno. Liquidar as esquerdas ainda no 1º turno. Sem Lula, é óbvio. O cenário de 2º turno com Marina está favorável para ela, derrotando qualquer um dos concorrentes – Alckmin, Bolsonaro, Ciro… Porém, Marina na presidência do Brasil, quais garantias de um governo de programas sociais?

Como justificar e entender as candidaturas de Temer e Meirelles com 1% de intenções de votos cada um? Os dois cidadãos que ocupam os dois cargos mais elevados do Brasil – a Presidência e o Ministério da Fazenda – e o Maia, com menos de 3% de intenções de votos – presidente da Câmara dos Deputados – sabem e tem consciência absoluta que não irão prejudicar os candidatos de centro-direita para o 2º turno – Bolsonaro, Alckmin, Ciro e Álvaro. O Alckmin já declarou em público que não quer o apoio de Temer. Os demais também não vão querer. Mesmo com muitos candidatos das classes de centro-direita, as frações do capital permanecem sempre unidas e interdependentes – capital financeiro rentista, capital fundiário do agronegócio, capital industrial, capital comercial e a tecnoburocracia com os intelectuais orgânicos – sempre em aliança com o poder legislativo, poder judiciário, protegidas pelas forças militares, policiais e agências fiscais. Este bloco dominante para manter-se hegemônico conta diuturnamente com o poder da mídia hegemônica. Tudo isso é complexo, mas real, material. E para entender esta conjuntura é preciso examiná-la e analisá-la na essência e não apenas nas imagens externas superficiais, coloridas e douradas com ouro falso. A sociedade que não percebe este jogo de trapaças ou que assiste este espetáculo com indiferença, mesmo em estado individual e coletivo de desalento, é por que já está minada pela base ideológica do bloco no poder. Para combater estes réprobos para a sociedade, as esquerdas precisam refundar a união, a solidariedade, as alianças dos partidos políticos, das organizações da sociedade civil, para consubstanciar a hegemonia das classes trabalhadoras, sempre no caminho para os horizontes da democracia ativa, participativa e viva – uma sociedade mais igual e mais justa.

Portanto, esquerdas do Brasil, uni-vos!

Homenagens a Moro e Dallagnol

Homenagens a Moro e Dallagnol

Enfim, encontrei homenagens cabíveis em autores consagrados. Dados os últimos acontecimentos, com vídeos circulando e mostrando que nada da tão famigerada e cantada – pela Globo – reforma do tríplex é verdadeiro, que as coisas estão deixando a desejar às descrições fantásticas, havendo apenas um apartamento chinfrim até para qualquer delegado da PF, é obrigação nossa homenagear àqueles que viram o que não vimos por cegueira ideológica nossa.

Assim, penso que diante disso devo prestar minhas homenagens as mais sinceras ao chefe da investigação, o procurador Deltan Dallgnol, trazendo uns versos de Dante:

Da fraude o vulto imundo aproximava!

            A cabeça avançou e o torpe busto,

            Porém pendente a cauda lhe ficava

A cara assomos tinha de homem justo,

            Tanto era o parecer benino e brando!

            No mais serpe, movia horror e susto.

(Dante. A Divina Comédia. O Inferno. Canto XVII, 7-12. Tradução de José Pedro Xavier Pinheiro, São Paulo : Cia. Brasil Editora, 1955)

Como não se pode elogiar e homenagear subordinado sem dar os devidos créditos aos seus superiores, no caso, o Superior a tudo e a todos, vai minha homenagem à sentença condenatória tida como irretorquível, ainda que tudo seja falso em relação aos fatos – afinal as notas fiscais de empresa da mesma república tudo comprova e a reportagem da Globo garante a verdade. Eis, pois, a homenagem à sentença:

Existem atualmente tantos escritores bárbaros e tantos discursos que os vícios de estilo tornam confusos, que não se compreende mais nem quem fala, nem do que fala. Tudo se incha e relaxa como uma serpente doente que vai se despedaçando enquanto ensaia suas volutas (…) Mas de quer servem tais bruxarias de palavras?

(São Jerônimo. Adversus Jovinianum I. apud. Umberto Eco. A história da feiúra. Rio de Janeiro : Record, 2007, p. 111 – mantive o acento em “feiúra” tal como aparece na edição do livro)

 

Tiradentes insultado pelo Temer

Tiradentes insultado pelo Temer

Na manhã do dia 21 de abril último, um habitante mineiro de Vila Rica – atual Ouro Preto –  ficou tomado pelo pensamento sôfrego e possuído impulsivamente pelo desejo de caminhar pelos lugares onde foi morto e esquartejado Joaquim José da Silva Xavier – o bravo herói Tiradentes. O roteiro da caminhada seria: primeiro, passar pela praça pública de Vila Rica, lá onde Tiradentes foi enforcado, o corpo esquartejado e a cabeça foi encravada numa estaca e exposta ao povo horrorizado, no dia 21 de abril de 1792. Tiradentes foi condenado pela justiça do Rio de Janeiro a mando do governador da Capitania de Minas Gerais, Visconde de Barbacena, nomeado pela Coroa Portuguesa. Na praça, muito acabrunhado e nostálgico, o professor emérito de história sentou-se num banco e passou a meditar e rememorar a história de vida e morte de Tiradentes. Passou sentir as dores físicas e mentais que Tiradentes sentiu nos instantes trágicos do seu enforcamento.

Depois, já comovido e revoltado com a barbárie cometida naquela praça, agora rememorada, cada vez mais abalado, o professor de história seguiu caminho pela estrada que leva para o Rio de Janeiro. Lá, o local onde foram jogadas as partes esquartejadas do corpo de Tiradentes, espalhadas pelos barrancos, expostas nas pedras e nas árvores, à vista de todos os que por lá passavam. Tudo para botar medo nos trabalhadores, escravos e todos que lutavam pela liberdade e pela independência. A passos lentos, o professor foi chegando. Olhando aquela paisagem triste, respirava silenciosamente. Um silêncio sepulcral. De repente começou escutar coisas. Vozes de homens. Muito assustado, pois não havia ninguém no lugar. Foi andando mais perto, com o coração já batendo forte, começou escutar a conversa.

– Temer, ontem você me insultou covardemente! Você se comparou a mim. Você nunca foi, não é e nunca será o Tiradentes! O Tiradentes do dia 21 de abril, homenageado de herói, sou eu, Joaquim José da Silva Xavier!

– Joaquim, eu me comparei ao Tiradentes só para elevar a minha imagem! Que tá uma porcaria, uma vergonha! Ninguém aprova meus programas. Pior, menos de um por cento dos eleitores irá votar em mim para presidente.

– Mas você, Temer, não podia se comparar ao Tiradentes. Você é um presidente golpista! Só está à serviço dos grandes exploradores, do jeito que foi nomeado o Visconde de Barbacena pela Coroa Portuguesa. Você, Temer, está a serviço das elites brasileiras a mando e serviço dos patrões estrangeiros do jeito que Barbacena estava a serviço da Coroa Portuguesa.

– Eu sei, Tiradentes, eu sei! Mas…

– Mas o que?

– Eu sei que as elites brasileiras sempre entregavam e continuam entregando sem fim as nossas riquezas naturais – patrimônio comum, bem de todos – de mão beijada aos poderosos e proprietários estrangeiros avarentos. Eles são os meus verdadeiros patrões. É claro, escondidinhos e protegidos pela mídia hegemônica.

– Eu, ao contrário, Temer, durante minha vida toda combati a exploração e o roubo das nossas riquezas! Lutei até a morte pela liberdade e independência. Fui condenado à forca pelos poderosos, mas não me entreguei!

– Eu sei. Você, Tiradentes, você é um herói do Brasil. É por isso que eu preciso me comparar a você para esconder o que sou na vida real. O contrário de você.

– Mas isso é mentira, é falsidade, é mais um golpe contra o povo e o Brasil. Você é o corrupto ignóbil, ocupando o cargo mais elevado do Brasil para proteger os políticos e empresários corruptos, ladrões…

– Tiradentes! Por misericórdia! Quero que você entenda, eu preciso, eu devo continuar no poder senão o PT do Lula voltará ao Planalto.

– É exatamente isso que o Brasil precisa! Lula no Planalto. Hoje ele está no cárcere a seu mando e por determinação do poder supremo do Brasil.

– Por Deus do céu, Tiradentes!

– Por Deus, não! Você é do Satanás e dos diabos do inferno! Você continua desrespeitando e profanando o nome sagrado e o nome de quem lutou honestamente para o bem dos brasileiros.

– Por gentileza, Tiradentes, você está morto e não perde nada com isso!

– O que? E o povo brasileiro, que você explora para enriquecer ainda mais as elites brasileiras e estrangeiras – doando a Petrobras, a Eletrobras e tantas outras riquezas, patrimônios e bens comuns de todos nós – até quando vai aguentar as suas maldades e mentiras?

– Mas!…

– Chega! E nunca mais se compare ao Tiradentes!

Esquivel, Boff… De recusa em recusa, rasga-se a fantasia

Esquivel, Boff… De recusa em recusa, rasga-se a fantasia

Cada vez mais a gente descobre: não existe o fundo do poço. O poço da ilegalidade e do mau caratismo de decisões fundadas nos desejos e convicções introjetados nas mentes pelo martelar contínuo da mesma mídia é um bom exemplo do que seja o infinito. Um exemplo didático da infinitude do universo.

Não importa a vergonha por que o sistema passa no mundo. Qualquer decisor está acima destas vergonhas e legalidades. Como disse o vice-presidente Pedro Aleixo quando da edição do AI-5: o problema é o guarda da esquina. Empodeirados a mais não poder, exerce-se o poder e ponto final. Que estrilem as leis, que estrilem os desabonados Esquivel e Leonardo Boff e outros menos votados. E apliquem multas a quem continua a se manifestar contra a prisão de Lula… sabem, uma multa que se aplica a anônimos é uma inovação legal. Mas de inovações estamos repletos e de saco cheio: o Dr. Angélico escreveu estas anomalias numa sentença, logo são lei – uma condenação por atos inespecíficos em tempos indeterminados… Haja inovação! Nem os Imperadores Romanos chegaram a tanta inovação no direito romano. Eram ao menos mais diretos: mandavam matar.

As lágrimas de Leonardo Boff e sua foto, sentado à frente da sede da Polícia Federal da república curitibana, acabarão ganhando o mundo. E são fotos que não estavam no cardápio que o sistema queria servir ao mundo. O sistema pensava que a foto de um Lula algemado ganharia mundo. Mas foi a foto de um Lula carregado pelo povo que ganhou as páginas dos principais jornais, além de circular entre milhões nas redes sociais.

E o sistema não quer parar de produzir fatos e fotos que o desabone. Continuará a “proferir” decisões as mais estapafúrdias, desde que com isso consiga manter o isolamento de Lula, apostando no esquecimento.

Acontece que o povo brasileiro não esqueceu até hoje Getúlio Vargas, mas nem sabe quem foi Lacerda! O estadista de Higienópolis, FHC, tentou enterrar a memória de Getúlio, e enterrou a si mesmo nas babas de sua vaidade.

D. Maria I, a Louca, a primeira cabeça coroada que pisou nosso solo com seu filho regente d. João VI, ressuscitou a loucura dos serventuários do poder. Desde tempos imemoráveis de nossa história a elite brasileira foi espetaculosa.

Mas os espetáculos de agora, de espetáculo a espetáculo, estão resgando a fantasia.

Quando aparecerá a nudez?