por João Wanderley Geraldi | Maio 27, 2018 | Blog
LUMUMBA
Para o espanto da faca
Que rasgou tua pele negra
Hoje o teu vulto passeia
E ri e ilumina o Congo.
Ontem e Hoje e Amanhã
O teu sorriso é a dura
Messe e embrião de sol
E música que orienta.
Agora e sempre na noite
Da savana e na choça onde
Morre ou nasce mais uma
Criança ele é luz
e assim será.
A tinta do teu corpo
Se espalhou nos rios
E na negra África até
As feras se calaram.
A tua palavra é pólen
Nos olhos dos rapazes
Que na escuridão da sua
Dor aprendem, e tecem.
Patrice! Gritou o último
Ferido no campo de batalha,
Patrice! gritou a mãe na
Morte do último varão.
E as árvores e a areia
Da savana gemeram: Patrice,
E no cair do sol o branco
Sorriso de Lumumba se rasgou.
Lumumba não morreu
E a África ainda eme
A sua imensa dor, e a sua
Dor gemida é a música da África.
A sua arma ainda assusta
Os invasores e desiste
Os mercenários e move a areia
E acalenta o vento.
Da pele negra de Lumumba
A claridão do Congo renascido
se fará,
Da sua mão o impulso que
Move o ferro e apascenta a terra.
Dos olhos de Lumumba
A vítrea visão do dia novo
E das suas mãos as unhas
Que rasgarão o barro
para o sêmen.
Dos pés de Lumumba o
Teu caminho será feito,
ó Congo,
E largos passos mutilarão
A podre areia herança do invasor.
Dos braços de Lumumba
Se erguerá o imenso abraço
Que teus filhos esquecidos
Esqueceram, mas já lembram.
Da voz grava de Lumumba
A palavra clara esperada,
Gritada no seio da luta
Feita de sangue e de amor.
(Tarso Fernando Genro. Acorda Palavra. Santa Maria, 1969)
por João Wanderley Geraldi | Maio 25, 2018 | Blog
Já ouvi muito este discurso das “minorias radicais”. Mas não são estas minorias o problema. O problema é outro e tem origem na burrice dos serventuários locais às forças externas que os puseram no governo.
Os golpistas foram com muita sede ao pote! A força externa, que elaborou e financiou o golpe, não lhes exigiu ações drásticas: queriam se adonar do pré-sal; queriam a água potável (Eletrobrás); queriam a Petrobrás e a BR Distribuidora; queriam as terras brasileiras sem limites; queriam os bancos ainda estatais (BB e Caixa Econômica Federal, o que sobrou da privataria tucana); queriam o sistema educacional brasileiro; queriam desregulamentação total nas relações capital/trabalho; queriam os juros pagos na boca do caixa, e para isso exigiam a reforma da previdência. Eles queriam muito, como sempre quiseram.
Mas eles não são imbecis. Sabem esperar. Planejam o mundo e o domínio do mundo a longo prazo. Vão comendo, comendo… como corvos: comem tudo, mas não comem numa só bicada, é de bicada em bicada que vão para frente. Ou com guerras, ou com golpes, ou com bloqueios econômicos, ou com o que aparecer, vão comendo tudo. São abutres e vivem do sangue do mundo, mas não são burros! Isso não são, por isso são pacientes.
Acontece que os agentes brasileiros que eles, aliados aos imbecis coxinhas, levaram ao poder, pelos regulamentos nacionais, somente tinham dois anos. E, imbecis e fracos de inteligência, resolveram fazer tudo açodadamente!!! Pedro Parente, um dos maiores criminosos contra a nação da história brasileira, foi logo entregando tudo de uma vez só. E dizendo: meu compromisso é com os acionistas, não tenho nenhum compromisso com o governo ou com o país. Esqueceu que a maioria das ações da Petrobrás ainda pertence ao Brasil agora desgovernado pelos golpistas! Um pormenor que ele não conseguiu resolver de imediato, vendendo logo as ações da Petrobrás… Mas fez de conta que resolveu e aplicou uma política suicida para o Brasil, mas ao gosto de seus patrões. É claro, ele é tucano, e tucano tem patrão no exterior, no que eles eufemisticamente chamam de “mercado”.
Os batedores de panela que queriam tanto a “economia de mercado” pensaram que seus líderes, Michel Temer, Rodrigo Maia, Eliseu Quadrilha, Moreira Angorá Franco, Henrique Meirelles e sua equipe “de ouro”, Sérgio Moro e o STF fariam a “ponte” para futuro como ponte a ser percorrida, passo a passo. Mas estes líderes curtos de inteligências e ansiosos por prestar serviços ao mundo de fora mandaram à merda os de dentro – coxinhas, FIESP, CNI et caterva. Foram bebendo tudo como cachorros, língua de fora e salivando. Destruíram os empregos, destruíram as empresas brasileiras em nome de um falso moralismo que nem eles praticam, nem o justiceiro mor, mora? E estão pondo tudo a perder.
Que fazer, então? Ora, há uma categoria que pode parar todo o país: as empresas de transporte e os caminhoneiros independentes (30% da frota). Produzem desabastecimento, param fábricas, escolas e hospitais. É uma categoria profissional fácil de aderir a um locaute e a pedir intervenção militar como pediram o impeachment de Dilma. Uma categoria central para qualquer golpe, e muito mais para um golpe dentro do golpe.
É justo reclamar da política do afobado Pedro Parente que elevou os preços de combustíveis e gás de cozinha a patamares inimagináveis no começo de 2016? É justo. Então por que não estancar esta política, mudar o rumo, demitir Pedro Parente??? Aí ficaria a força externa de sobreaviso, afinal Pedro Parente é o representante interno destas forças que nos sufocam. Mas estas forças não são burras como é Michel Temer, Pedro Parente e seus asseclas. Sabem esperar.
Com o impasse criado pelo açodamento dos golpistas de prestarem serviços à força externa que os levou ao governo e com a parte fascista da nação clamando por uma intervenção militar, nada melhor do que um locaute nos transportes. Apavora a classe média; a mídia golpista, aliada fiel da força externa, fica meio sem jeito, mas ratazana velha percebe que o momento é de criar o caos para ficar bem na fita com as forças internas que poderão vir. Se vierem, estarão bem. Se não vieram, também estarão bem…
Temer tem condições de levar este governo até dezembro? O locaute aposta que não. A classe média não sabe. A mídia presta serviço a um e outro senhor. Tudo posto na panela, que os coxinhas não batem mas cujos cabos todos sabem onde enfiaram, produz o caldo necessário para o endurecimento do regime, com governo civil ou militar, pouco importa.
E certamente neste acordão, mais sábios que todos, os que realmente mexem os pauzinhos (as forças externas) explicarão aos imbecis que nos governam – caindo ou não Temer, a equipe econômica continuará seguindo o rumo “certo” da merda, quer dizer, mercado – que tudo deve ser feito com jeito, ir pondo com vaselina e cuspe… FHC será chamado para orientar como se faz… para foder com uma nação!
E tudo continuará com dantes do quartel de Abrantes…
por João Wanderley Geraldi | Maio 25, 2018 | Blog
O tema da “constitutividade” remete, de alguma forma, a questões que demandam explicitação, já que supõe uma teoria do sujeito e esta, por seu turno, implica a definição de um lugar nem sempre rígido a inspirar práticas pedagógicas, e por isso mesmo políticas.
Quando se admite que um sujeito se constitui, o que se admite junto com isso? Que energeia põe em movimento este processo? É possível determinar seus pontos alfa e ômega\/ Em que sentido a prática pedagógica faz parte deste processo? Com que “instrumentos” ou “mediações” trabalha este processo?
Obviamente, este conjunto de questões, a que outras podem ser somadas, põe em foco a totalidade do fenômeno humano, sua destinação e sua autocompreensão. Habituados à higiene da racionalidade, ao inescapável método de pensar as partes para nos aproximarmos de respostas provisórias que, articuladas um dia – sempre posto em suspenso e remetido às calendas gregas – possam dar do toda uma visão coerente e uniforme, temos caminhado e nos fixado nas partes, nas passagens, mantendo sempre no horizonte esta suposição de que o todo será um dia compreendido.
Meu objetivo, aqui, é pôr sob suspeição a esperança que inspira a construção desse horizonte ponto de chegada. E pretendo fazer isso discutindo precisamente a noção de constitutividade e as seguintes implicações que me parecem acompanhá-la:
- admitir a noção de constitutividade implica em admitir um espaço para o sujeito;
- admitir a noção de constitutividade implica em admitir a inconclusibilidade;
- admitir a noção de constitutividade implica em admitir o caráter não-fechado dos “instrumentos” com que se opera o processo de constituição;
- admitir a noção de constitutividade implica em admitir a insolubilidade.
No movimento pendular da reflexão sobre o sujeito, os pontos extremos a que remete nossa cultura situam o sujeito ora em um de seus lados tomando-o como um deus ex nihilo, fonte dos sentidos, território previamente dado, racional por natureza, onde se processa toda a compreensão. Na outra extremidade, o sujeito é considerado mero ergon, produto do meio ambiente, da herança cultural de seu passado. Produto da história. Entre a metafísica idealista e o materialismo mecanicista, pontos extremos, movimenta-se o pêndulo. E a força deste movimento é territorializada em um dos seus pontos. A absorção de elementos outros, não essenciais segundo o espaço em que se situa a reflexão, são acidentes incorporados ao conceito de sujeito que cada corrente professa. Exemplifiquemos pelas posições mais radicais.
Do ponto de vista de uma metafísica religiosa, destinando-se o homem a seu reencontro paradisíaco com seu Criador, de quem é feito imagem e semelhança, os desvios de rota, os pecados, enfim a vida vivida por todos nós, tempo de provação, a consciência que, em sua infinita bondade, nos foi concedida pelo Criador, aponta-nos o bem e o mal, ensina-nos do nada o arrependimento pela prática deste e a alegria daquele. Deus e o Diabo, ambos energeia. Impossível um sem o outro, como mostra o “evangelista” contemporâneo José Saramago em O Evangelho Segundo Jesus Cristo.
Do ponto de vista de um materialismo estreito, o sujeito na vida que vive apenas ocupa lugares previamente definidos pela estrutura da sociedade, cujas formações discursivas e ideológicas já estatuíram, desde sempre, o que se pode dizer, o que se pode pensar. Recortaram o dizível e o indizível. Toda e qualquer pretensão de dizer a sua palavra, de pensar a motu proprio não passa de uma ilusão necessária e ideológica para que o Criador, agora o sistema, a estrutura se reproduza em sua igualdade de movimentos. Assujeitado nestes lugares, o sujeito conduz-se segundo um papel previamente dado. Representamos na vida. Infelizmente uma representação definitiva e sem ensaios. Sempre a representação final de um papel que não escolhemos. E aqui a lembrança de leitor remete a Milan Kundera de A insustentável leveza do ser.
Em nenhum dos extremos a noção de constitutividade situa a essência do que define o sujeito. Elege o fluxo do movimento como seu território, um território sem espaço. Lugar de passagem e na passagem a interação do homem com outros homens no desafio de construir categorias de compreensão do mundo vivido, nem sempre percebido. Das histórias contidas e não contadas. Dos interesses contraditórios, das incoerências. De um presente que em se fazendo nos escapa porque sua materialidade “inefável” contém no aqui e agora as memórias do passado e os horizontes de possibilidades, uma memória do futuro. Associar a noção de constitutividade à noção de interação é aceitar o fluxo do movimento, cuja energia não está nos extremos, mas no trabalho que se faz cotidianamente movido pelas utopias, pelos sonhos, limitados pelos instrumentos disponíveis, construídos pela herança cultural e reconstruídos, modificados, abandonados ou recriados pelo presente.
Professar tal teoria do sujeito é aceitar que somos sempre inconclusos, de uma incompletude fundante e não casual. Que no processo de nos compreendermos a nós próprios apelamos para um conjunto aberto de categorias, diferentemente articuladas no processo de viver. Somos insolúveis (o que está longe de volúveis) no sentido de que não há um ponto rígido, duro, fornecedor de todas as explicações.
Que papel reserva à leitura neste processo?
Pessoalmente, incluiria a leitura como uma das formas de interação entre os homens. Leitura do mundo e leitura da palavra, processos concomitantes na constituição dos sujeitos, pois a primeira não se dá sem a segunda. E, na história de cada palavra, a história da compreensão do passado e a construção das compreensões do presente. Na palavra, passado, presente e futuro se articulam.
Isto nos leva a duas categorias essenciais do processo de interação: o reconhecimento e a compreensão. O reconhecimento é uma condição necessária para que se dê a leitura, mas não é condição suficiente. É preciso reconhecer e ao mesmo tempo ultrapassar o reconhecimento para compreender o que se diz, o que se ouve, o que se lê. Neste sentido, a leitura é sempre co-produção do texto, uma atividade orientada por este, mas que o ultrapassa. Retome-se aqui a estética de Ingardem (apud Iser) a produção esquemática do texto com pontos de indeterminação que o leitor preenche, não como uma espécie de preenchimento de vazios desleixadamente deixados num texto, mas sum preenchimento que releva da articulação que faz o leitor.
Por fim, que espaço reservar à prática pedagógica numa concepção constitutiva do sujeito? Habituados a mediar os processos de desenvolvimento proximal dos estudantes (movi8mento de um ponto do “sabido” para outro ponto de um saber já dado), a prática pedagógica, para fugir à inconclusibilidade, à insolubilidade, ao não-fechamento, acaba atuando unicamente nos processos de reconhecimento e por isso mesmo insatisfatoriamente na construção de compreensões. Como com sequência, a leitura passa a ser um gesto de repetição do saber já construído. Note-se a necessidade do reconhecimento, mas acrescente-se necessidade de compreensão para que o movimento não se fixe nos pontos extremos de nosso pêndulo.
Este desafio do professor, que somente uma construção própria, cotidiana, nem sempre coerente, pode levar à manutenção do fluxo da vida humana. Lembremo-nos o imperativo desta autonomia, porque a fixidez produziu na história o Holocausto e também Los Angeles ou o socialmente realmente existente, cujo muro acaba de ser derrubado. No século futuro, é preciso construir autonomamente a liberdade (inclua-se aí a liberdade individual), ainda que tardia.
Nota
A APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – realizou no ano de 1992 um conjunto de seminários, sobre cada componente curricular do ensino básico. Fui convidado para um deles, na regional de Campinas. Deste trabalho surgiu um número específico da sua publicação anual, a Revista de Educação (n. 7, dezembro de 1992) com textos sobre o ensino de cada área. Meu tema foi a leitura, que perpassaria todas as áreas. No volume, o texto representou o componente curricular de Língua Portuguesa. Não lembro as razões que me levaram, naquele momento, a me restringir a um aspecto da área. Pensava então que a proposta de ensino com que vinha trabalhando já era suficientemente conhecida e se tornara “arroz de festa” em todas as minhas participações em encontros com professores. Também nessa época já estava ministrando cursos sobre o pensamento de Bakhtin no programa de pós-graduação em Linguística, saindo dos cânones disciplinares da Análise do Discurso que predominavam no programa. Talvez isso explique ter tomado a questão da “constitutividade” como o verdadeiro tema de minha exposição. Analisando à distância, penso que minha participação não contribuiu para o projeto que o Sindicato estava desenvolvendo, já que todas as demais áreas tiveram como foco central o ensino da respectiva disciplina. Lembro até hoje que uma das pessoas que me convidou para a exposição ter dito que eu não desvalorizara meu público, falando de forma didática, e preferindo o tom mais reflexivo. Deve ter sido algum ‘consolo’ ante a apatia de minha exposição.
por Mara Emília Gomes Gonçalves | Maio 24, 2018 | Blog
Ontem anunciaram, para minha surpresa e alegria, que o álbum Sobrevivendo no Inferno dos Racionais Mc’s será exigido no exame de seleção da Unicamp. Unicamp, mano! Pá, pá, pá! Clap, clap, clap! É tiro e palma!
O assunto do texto de hoje era outro, já tinha até iniciado, três ou quatro parágrafos, que forçando um pouco poderia até chegar à escrita de Carolina de Jesus, outra obra que denuncia a realidade excludente e que também esta na lista para o vestibular de 2020 da instituição, mas não dá para desconsiderar esse acontecimento. Caetaneando: alguma coisa tá fora da ordem, fora da nova ordem nacional… Fã é fã, e o texto vai falar de rap sim. E isso tem muito a ver com a política de cotas e uma maior democratização/justiça no acesso à universidade, sobretudo às públicas.
Boa parte da galera que caiu nesse texto de paraquedas já vazou, então vamos trocar uma ideia mais suave na nave. Imaginar os vestibulando ouvindo que o neguinho que engatilha a pistola na boca dos playboys é um “efeito colateral que o seu sistema fez, Racionais capítulo 4 versículo 3”, é muito foda. E quem vai se preparar para a seleção já sabe que não basta ouvir as músicas, uma duas ou três vezes sem reflexão, tem que entender: “não adianta querer ser, tem que ter para trocar, o mundo é diferente da ponte pra cá” (Da ponte para cá), sejam muito benvindos a todo universo dos Racionais, que baita imersão!
Acerta a Unicamp ao se posicionar contra o fascismo, porque é isso que significa pessoas entendendo a realidade do outro, não é tudo que precisamos, mas é um grande passo, mais do que solicitar um texto bem escrito por parte dos candidatos a calouros, ao exigir essas leituras revela-se uma postura de compreensão acadêmica da profunda da diversidade cultural e social brasileira.
Se você está lendo e sentindo-se confuso, achando até… si pá: injusto? Que pena! Tem coisas que não dá para entender, né não? Linguagem suja, cheia de gírias… Gíria não, irmão! Dialeto. Aproveita e pensa aí nas questões que se colocam diariamente para os negros, desde a bonequinha branca de olhos claros com a qual se presenteia meninas negras, pense aí também na inferiorização que se impõe sobre as religiões de matriz africana quando brincando você diz que as coisas estão dando errado porque fizeram macumba para você, pense aí sobre os personagens negros e suas representações ou mesmo inexistência em novelas, cinema e música. Pense em quantos autores negros você já leu ou ao menos ouviu falar, não vale dizer que é porque os negros são importantes no esporte. Quer saber o que mais? Sobrevivendo no Inferno tem 21 anos.
É assim nas quebradas, nas favelas, nos guetos, nos beco, você que não quis ver, o menino de farol que faz você subir o vidro do carro, como se fosse apenas pra não sair o ar (e preconceito) condicionado. Sabe a turminha da escola pública que tira zero na redação, então, veja bem, veja bem… Ela não leu Dom Casmurro, não leu também Carolina de Jesus, não encontrou personagens negros durante toda uma trajetória escolar, e quando ousou trazer para a sala de aula o seu Negro Drama tomou um cale-se, muito parecido com Cálice de Chico, será?
– Não é isso, é que Negro Drama tem muito ódio, e todo mundo sabe que vivemos numa democracia racial, aqui todo mundo se respeita, temos até lei contra o racismo. – Tem que saber curtir, tem que saber lidar, em qual mentira vou acreditar?(Em qual mentira vou acreditar?)
A galera negra, ops, gangue! Não leu Kant, com sua citação sobre o homem ser aquilo que a educação faz dele, mas ele sabe que a sua cultura não está no plano de aula, a literatura que lhe apetece é chamada de marginal, a exclusão usa conteúdos selecionados a dedos brancos, ou mesmo alvejados, que falam sobre escravidão num espaço /tempo pretérito, como se e navio negreiro de Castro Alves não falasse de sua história, seus antepassados e seu presente, mas sim de outro mundo, e o camburão é oque? Porque ninguém transversaliza as senzalas nas atuais favelas: Uma bala vale por uma vida do meu povo, quantos manos iguais a mim se foram? Preto, preto, pobre, cuidado, socorro!(Rapaz comum)
Esse texto hoje está muito ruim, eu sei, e talvez a metade tenha parado no segundo parágrafo, quando eu disse que fã é fã. Felizmente chegou o dia para mim, e para os meus “eu tenho uma missão e não vou parar, meu estilo é pesado e faz tremer o chão, minha palavra vale um tiro e eu tenho muita munição, na queda ou na ascensão, minha atitude vai além, e tenho disposição pro mal e pro bem” não dá para não comemorar imaginando a cara de surpresa e medo, um branco pálido, até consigo visualizar é o mesmo ar de aflição de quem esconde a bolsa discretamente quando cruza na rua com os pretinhos famintos, né não? Acontece que essa discrição não é discreta, sabe o filho da empregada que não conviveu muito com a mãe e teve que crescer na marra, aquele que o patrão não chama para o aniversário do seu filho, mas depois manda um bolinho para ele se alegrar… Veja bem… Aquela blitz que só averigua os pretos, o baculejo que joga todo mundo de mão na cabeça no muro ou no chão, na escola aquela merenda ruim que não ajuda ninguém a desenvolver, a ausência fenotípica nas escolas de elite ou nos cursinhos de inglês, ou a intervenção militar que tem toque de recolher e examinam a lancheira das crianças. Veja bem, veja bem…
Todas essas coisas que aparecem normalmente nos noticiários tipo proibição de rolezinho de juventude negra e periférica, as minas que não são para casar, os corpos expostos no carnaval, os cabelos para alisar, o justiçamento com direito a amarrar no poste e espancamento, uma tatuagem na testa de jovem que rouba, a gente sente: “Minha vida não tem tanto valor, quanto seu celular, seu computador, hoje, tá difícil, não saiu o sol, hoje não tem visita, não tem futebol. (Diário de um detento). A gente preta sente: “Preciso ir até o fim, será que Deus ainda olha pra mim?… No mundão você vale o que tem, eu não podia contar com ninguém” (Estou ouvindo alguém me chamar).
A Unicamp entra numa seara perigosa, assume um novo front no enfrentamento do fascismo que ganha cada dia mais terreno, e se o odor de enxofre já ocupa parlamento, noticiários e começa a sair dos armários na academia, nada melhor do lançar mão de sobreviventes do inferno: Brown, KL Jay, Ice Rock e Blue são veteranos neste enfrentamento, e se renovam com Criolo, Emicida, Sapiência, Liniker, Iza, Ferrez, Mv Bill, Afro –X e vários outros.
O estranhamento da ocupação do hip hop nestes espaços dedicados a alta literatura é natural, porque o rap tem sido executado com muita riqueza: arranjos, letras, ritmos, rimas, conhecimento e verdade, mas até então eram mero objeto de investigação exótica do (sub)mundo negro, e parecia tudo certo que fosse assim: – até aí, mas só até aí! E agora o som dos racionais transforma-se me uma espécie de catraca invertida, será ela capaz de inverter a lógica, será? Muitas pessoas nunca foram barradas em uma porta giratória, os neguinhos já! ”A minha liberdade foi roubada, minha dignidade violentada, que nada dos manos se ligar, parar de se matar.“ (Mágico de Oz)
E em respeito aos muitos sobreviventes do inferno é preciso que eu finalize esse texto com um Salve, e palavras em tiro, apropriado ou não, ouso inverter a ordem de Brown: “Eu vou mandar um salve pra comunidade do outro lado do muro, as grades nunca vão prender nosso pensamento mano…”(Salve) e meu salve vai para o presidente Lula, ele que hoje tá aprisionado, sempre foi um sobrevivente, e essas grades nunca vão prender nosso pensamento, mano: A Unicamp é só o começo.
Salve! Lula livre!
por João Wanderley Geraldi | Maio 24, 2018 | Blog
Na semana passada, gasolina e óleo diesel sofreram cinco aumentos!!! Consecutivamente. E até a categoria dos caminhoneiros que bate panelas e usou camisas amarelas, e que agora pagam o pato da Fiesp, enquanto os empresários, liderados por João Doria, viajam para os EEUU para ouvirem conferência do destruidor da economia brasileira, o juiz Sérgio Moro.
Mas Sérgio Moro não está sozinho cumprindo este desígnio de destruir a economia nacional em nome do combate à corrupção, que existe deslavada também no país que lhe deu ordens de destruição a troco de alguns convites para palestras e algumas plaquinhas de prata na sede do império.
Pedro Parente é um criminoso nesta guerra contra nossa economia. Este não em nome do combate à corrupção, mas por ideologia globalizada em que, segundo esta gente que está no governo, o país deve entrar na posição de subalterno e fornecedor de matéria prima.
E qual o crime? Ao assumir a presidência da Petrobrás, a primeira coisa que fez Pedro Parente foi reduzir drasticamente os investimentos da nossa petroleira; em segundo lugar, sentindo-se um homem do mundo e não do Brasil – que ele odeia e cujo povo prefere que viva na miséria – decidiu que plataformas, navios, tudo o que a Petrobrás precisa deve ser comprado no mercado internacional. Sabe, esta política petista de alavancar o desenvolvimento do país com a obrigação de sua petroleira comprar produtos aqui fabricados, isso é coisa do passado!!! Melhor termos aqui muito desemprego, desde que ajudemos os países ricos a sustentarem a economia mundial. Onde já se viu este paiseco de merda, segundo gente como Pedro Parente, querer ter indústria própria?
Mas fez mais o suposto e eficiente economista – ele pertence àquela equipe de ouro montada por Henrique Meirelles, este que quer ser presidente do país. Claro, uma equipe de ouro para os interesses das multinacionais e uma equipe de merda para o povo brasileiro. E que mais fez o Sr. Pedro Parente?
Pois reduziu a atividade de refino de petróleo no país! As nossas refinarias estão operando no mais baixo índice de sua história, ocupando apenas 77% de sua capacidade instalada! Não, não se trata de reduzir os investimentos para refinar o petróleo dentro do país, que isso ele fez com muito gosto, mas se trata de não deixar as refinarias trabalharem.
Como a produção de petróleo cru cresce, seríamos autossuficientes na produção de gasolina, caso continuasse a política de investimentos e caso o Sr. Parente (parente das petroleiras que nos exploram) permitisse que nossas refinarias operassem a 98% de sua capacidade instalada (mas isso é muito ruim para economia nacional, porque daria emprego a brasileiros e eles não merecem isso). E não me venham dizer que a Petrobrás não tinha mais capacidade de investimentos por causa dos desvios propinatórios!!! Afinal, o lucro da Petrobrás nos primeiros nove meses do ano passado foi de 5 bilhões!!!
Que fez o Sr. Parente: exportou o petróleo que nos abasteceria. E começamos a comprar gasolina do exterior… cada vez mais e sujeitos a todos os desequilíbrios do câmbio, razão apresentada para os aumentos, pela mesma diretoria da Petrobrás, sob a batuta deste inimigo da nação. Quem quiser dados veja em https://www.esmaelmorais.com.br/2018/05/aumento-dos-combustiveis-provoca-desemprego-nos-postos-de-gasolina/ e sobre a exportação de petróleo, veja em https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2018/02/01/petroleo-lidera-pauta-de-exportacoes-de-commodities-do-brasil-em-janeiro.htm?cmpid=copiaecola.
Batamos panelas e usemos camisas amarelas da seleção!!! Afinal, paneleiros e não paneleiros, chegamos ao que queriam… e já não adianta usarem faixas pedindo perdão à Dilma!!! Agora, temos todos que carregar os resultados do programa econômico apresentado por Aécio Neves na campanha de 2014… Não era o que queriam???
por José Kuiava | Maio 22, 2018 | Blog
O Felipe, menino de oito anos, aluno do 4º ano do ensino fundamental, leu os 12 Volumes de “Diário de um Banana” – Jeff Kinney – em dois meses, no total de 2.240 páginas. Uma leitura visual de texto impresso em papel – livro – portanto, não foi uma leitura de escuta auditiva, nem uma leitura virtual de tela eletrônica.
Neste tempo, o Felipe frequentou o colégio, está escrevendo o diário “A Saga do Felipe”, título que ele mesmo inventou, brinca com amiguinhos e amiguinhas no condomínio onde mora, desenha e pinta inúmeros quadros, e se diverte com jogos online no celular.
Todas e todos coleguinhas da sala do Felipe estão lendo visualmente o “Diário de um Banana”, conversam, comentam e inventam muitas histórias, interagem e compartilham muito as interpretações segundo a imaginação de cada uma e cada um. É claro, motivados, estimulados, animados pela professora.
Todas e todos tem e usam celulares. Aí fica a pergunta: a leitura visual de textos escritos – livros, gibis, revistas – está em plena, cabal e irreversível extinção? A “pedagogia da imaginação”, proposta por I. Calvino, está viva, hoje, no mundo criativo das crianças, ou estaria sendo devorada pela fantasia e ilusão do mundo do WhatsApp?
O império sedutor das maquinarias eletrônicas estaria aniquilando a imaginação, a criatividade e a vivência da estética na literatura, nas artes – pintura, música, dança – e nas brincadeiras corporais – parquinhos, playgrounds, esportes, jogos – das crianças durante 24 horas por dia, durante semanas, meses, anos inteiros?
Aí, sim, precisamos examinar o mundo da imaginação e o mundo da imagem, o mundo escrito e o mundo não-escrito, o império do “príncipe eletrônico” e a leitura visual dos livros impressos, enfim examinar o Texto em Sala de Aula e a escrita de histórias de vida e do mundo da imaginação das crianças, dos adolescentes e dos jovens em salas de aula.
Aí, sim, ler Bakhtin é vida, é ato responsivo de todos e de todas. Com Bakhtin, Calvino, Eco, e todos e todas que escreveram e continuam escrevendo o mundo-real e ficcional na estética da literatura local, nacional e universal sem fronteiras de línguas, de linguagens, de ideologias, de religiões, de pensamento, de filosofia… então para que persistir com teorias estruturalistas, formalistas, abstracionistas nas salas universitárias?
Há estudos científicos psicológicos, psiquiátricos, psicanalíticos, biológicos à exaustão, e todos apontando e alertando sobre os efeitos atrofiadores dos cérebros humanos pelo excesso e uso descontrolado sem limites da maquinaria eletrônica pelas nossas crianças, nossos adolescentes, jovens, adultos, velhos…É urgente examinar os benefícios e os malefícios do império da maquinaria eletrônica.
O celular aproxima os distantes e distancia os próximos. É a sociedade dividida ao meio: o lado bom e o seu oposto lado dos malefícios. Aliás, é necessário ver as contradições em tudo. Estas fronteiras só são possíveis de examinar pelo método dialético.
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