por João Wanderley Geraldi | ago 29, 2017 | Blog
Acompanho com interesse e alegria, como grande parte da esquerda brasileira, o percurso de Lula pelo Brasil, nesta caravana iniciada pelo Nordeste. Como todos os outros, espanto-me com o carinho que lhe dedica a população nordestina, nas grandes e nas pequenas cidades.
Também ri do triste papel da justiça baiana, ao proibir a entrega do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano: a inveja percorre as cortes, como sempre. Triste papel. Aliás, se esta mesma justiça fosse acionada, tentaria retirar-lhe os títulos que recebeu no exterior. Ora, se houve durante os governos petistas uma política educacional, foi precisamente na área do ensino superior, incluindo o ENEM como forma mais democrática de acesso às universidades (infelizmente, nos demais níveis aprofundou a política neoliberal).
Lula e seus assessores escolheram um roteiro de defesa contra os desmandos de Sérgio Moro, um roteiro não jurídico. O anúncio de sua candidatura à presidência quando saiu a já esperada e sabida sentença de Moro fez parte desta tática. Certamente há outras do ponto de vista jurídico, mas seus advogados continuam apostando que a lei impera quando o que impera é o objetivo final e absoluto do golpe de 2016.
A elite brasileira e o Departamento de Estado norte-americano, com seus organismos de perseguição a lideranças que não rezem pelo catecismo dos interesses daquela nação, aliado aos sistemas de cooptação de brasileiros através de cursos oferecidos inclusive a juízes – Moro é aluno frequente – não realizariam um golpe de estado, retirando uma presidenta eleita sem que houvesse crime de responsabilidade, para virem a morrer na praia! De jeito nenhum!
O golpe seria inútil se o caminho do retorno de Lula e do PT ao governo permanecesse aberto. Não se trata, na verdade, simplesmente de uma pessoa. Trata-se de um projeto de nação com desenvolvimento e com desenvoltura para participar, junto com outros países, na formulação de políticas alternativas. Os EEUU detestam os BRICS! Uma união de países do porte da Rússia, China, Índia, África do Sul e Brasil, criando inclusive um banco de investimento próprio, é tomado nos EEUU como uma afronta. E principalmente é tomado como ofensa ao sistema financeiro internacional. Países como estes poderiam começar a regulamentar o fluxo de capitais, à medida que se tornariam independentes das políticas das grandes corporações financeiras, política que responde a um só nome: lucro exorbitante mesmo custando vidas humanas e mesmo reduzindo a civilização a um arremedo de si mesma.
É isto o que está em jogo. Políticas de inclusão, como aquelas praticadas nos governos petistas, são até aceitáveis. Mas uma política que vá além na distribuição de rendas, que vá além das fronteiras delimitadas do país, isto é inaceitável para os organismos que hoje somente servem ao capital especulativo.
Qualquer criança brasileira já sabe o teor da decisão do TRF de Porto Alegre: os desembargadores manterão e talvez até aumentem a pena aplicada a Lula por ser “o proprietário de fato” do tríplex de Guarujá, mesmo este bem fazendo parte do patrimônio e das garantias oferecidas pela OAS, de propriedade do delator Léo Pinheiro, aos seus muitos credores. Não importa, porque a verdade, num golpe, não importa.
Havia dois caminhos possíveis para eliminar a política que a pessoa de Lula representa: um atentado físico que o levasse à sepultura (porque não havia nem há qualquer possibilidade de um suicídio) ou sua condenação como criminoso, condenação esta acompanhada de um martelar constante da mídia para fazer o povo crer na palhaçada em que se tornou certa justiça brasileira, de juízes soberbamente bem pagos (eles sempre têm férias para vender, porque além dos dois meses de recesso, têm mais dois meses de férias para porem à venda). A chamada República de Curitiba, na verdade a longa vara de Sérgio Moro, bem treinada nos cursos e compartilhamentos de informações nos EEUU, está aí para prestar este serviço. E o prestará com exatidão. É sua parte no jogo do golpe.
Os desembargadores do TRF da 4ª. Região não vão negar fogo: porão Lula na cadeia. E ele será proibido de participar das eleições de 2018. E o pior é que a tática de defesa não inclui qualquer plano B capaz de manter viva a chama de uma proposta de nação. Aliás, a presidenta do PT diz isso alto e bom som: Nosso plano A é Lula, nosso plano B é Lula e não há outro plano. Se não há, a caravana de Lula pelo Nordeste deve ser entendida como a despedida de um grande líder popular de seu povo. É o que estamos assistindo de fato.
Terei um gosto imenso de reconhecer, e espero ardentemente reconhecer, que minha análise de hoje não se confirme no futuro de 2018.
por João Wanderley Geraldi | ago 27, 2017 | Blog
Haiku
Fim das aulas. Seis
horas: na mesma algazarra
pardais e guris.
Com trapos, o rosto
enxuga da chuva a lua:
o lenço de nuvens.
Como um prisioneiro
a lua me espia pelas
grades do banheiro
Pôr-do-sol.
Em resposta o edifício
acende as luzes
(Luiz Bachelar, Satori. Manaus : Ed. Travessia, 1999)
por João Wanderley Geraldi | ago 26, 2017 | Blog
Tematizando a guerra, o escrito nigeriano Uzodinma Iweala nos faz vê-la pelo olhar de um menino-soldado, Agu, incorporado a um grupo de rebeldes depois que estes destruíram sua aldeia e mataram seu pai. Sua mãe e irmã haviam fugido antes, levada pela ONU como refugiadas. Ele, apesar de criança, sendo o filho homem mais velho, segue a tradição e fica com seu pai esperando a guerra.
A guerra que o leva a se fazer soldado, a ser massacrado por um Comandante pedófilo, e a aprender a massacrar e matar enquanto sonha em encontrar sua mãe e sua irmã, sem abandonar jamais o desejo de ser um dia engenheiro ou médico!
A narrativa de Uzodinma é comovente. E a leitura flui criando ao mesmo tempo raiva e revolta contra a guerra, contra qualquer guerra. Obviamente o texto é de ficção, mas sabemos todos que meninos-soldados foram incorporados e se tornaram soldados que cantavam os soldados adultos:
Soldado, Soldado
Matar Matar Matar
É assim que você vive.
É assim que você morre.
Caminhando pelas estradas, escondendo-se na mata, invadindo aldeias, matando quando lhe mandam matar, aceitando as exigências do Comandante com medo de ser morto, Agu reflete sobre o mundo e sobre si mesmo e sobre a guerra.
“Não sou um menino mau. Não sou um menino mau. Sou um soldado e o soldado que mata não é mau. Digo isso para mim mesmo porque os soldados têm que matar, matar, matar. Então se mato, só estou fazendo o que é certo. Fico cantando uma música para mim mesmo porque ouço muitas vozes na minha cabeça dizendo que sou um menino mau. Elas vêm de todos os lados, zumbindo no meu ouvido que nem mosquitos, e cada vez que ouço essas vozes, sinto meu coração ficar apertado e meu estômago embrulhado.”
A técnica do autor para fazer compreender a passagem do tempo aparece com uma forma estilística muito forte, e sempre como reflexão de Agu:
“O tempo passa. O tempo não passa. O dia vira noite. A noite vira dia. Como posso saber o que está acontecendo.{…] Como posso saber o que está acontecendo comigo?”
“É noite. É dia. Está claro. Está escuro. Está muito quente. Está muito frio. Está chovendo. Está fazendo muito sol. Está muito seco. Está muito úmido. Mas estamos lutando o tempo todo. As balas comem tudo, folhas, árvores, chão, pessoas – comem tudo – fazendo as pessoas sangrarem por todos os lados e o sangue tomar conta do mato.”
Espalhadas pela narrativa da caminhada e das lutas, das invasões e da fome, encontram-se aqui e ali outras narrativas, de mitos fundadores das culturas que compõem a Nigéria de então. Quase sempre remetem à fundação das cidades, à vingança dos espíritos. Ao mesmo tempo, a presença constante e intermitente da Bíblia! Agu é filho de professor, frequentava a escola e lia a Bíblia. Sua mãe era benquista pelo Pastor.
Quando os soldados se rebelam contra o Comandante e o matam, seguem pela estrada em busca de não se sabe o quê. Na caminhada, morre o melhor amigo de Agu, Strika, outro menino incorporado ao exército dos rebeldes e que se recusava a falar qualquer palavra, de modo que os outros achavam que fosse mudo. Somente na hora da morte fala com Agu, pedindo-lhe que não o deixe sozinho. E então Agu fica sabendo que Strika fala… O episódio é extremamente comovente.
Recolhido por uma missão católica na estrada que passou a percorrer sozinho, tendo já abandonado a arma que era obrigado a carregar, Agu volta a comer! E os missionários insistem para que peça perdão e para que conte o que lhe aconteceu. E o narrador não perdoa:
“Às vezes falo pra ela, não vou contar tudo porque vi muitas coisas horríveis demais para contar. Vi mais coisas horríveis do que dez mil homens e fiz mais coisas horríveis do que vint mil homens. Então, se eu contar todas essas coisas horríveis, ficarei muito triste e você também vai ficar muito triste porque existem muitas coisas horríveis nessa vida. E quero ser feliz. Só quero ser feliz.
Digo isso a ela, e ela só olhar para mim e vejo que está com o olho cheio d’água. Então digo a ela, se eu contar todas as coisas que fiz, você vai pensar que sou uma espécie de fera ou diabo. Amy nunca diz nada quando falo isso, mas a água em seus olhos brilha. E digo a ela, tudo bem. Sou todas essas coisas. Sou todas essas coisas, mas uma vez já tive uma mãe, e ela me amava.”
por João Wanderley Geraldi | ago 24, 2017 | Blog
Disse-me um dia um marqueteiro que o capital político de uma eleição começa seu processo de evaporação mais ou menos a partir de 8º. mês de gestão. Não tenho a menor ideia se tal afirmação corresponde aos fatos políticos, já que estes têm dinâmicas distintas. No caso, tratava-se da eleição de um reitor e de seu grupo de apoio. E efetivamente começou então a evaporar-se o capital amealhado durante o processo eleitoral: começamos a perder apoios entre alguns segmentos da universidade.
Mas certamente isso não se aplica aos fatos políticos mais amplos, e também sabemos pela história recente que um capital perdido pode ser recuperado: Lula depois de se ver livre do novato neoliberal Malocci, um misto de um político petista chamado Palocci e o ex-ministro Malan do governo FHC. Livre dos entraves que o Malocci impunha, Lula se recuperou apesar do mensalão que se seguiu.
Agora, já temos 8 meses de governo do prefeito João Dória, a criatura de Alckmin e a novidade neoliberal do país. Apresentou-se como empresário, não político, disposto a dar um “coque de gestão” na maior cidade do país.
Pois o novo homem do PSDB assumiu com projetos que nos deixaram boquiabertos! Queria uma cidade linda, bela. E a providência foi comprar tapumes, e esconder os moradores de rua! Pintou os tapumes de cinza, uma cor certamente muito alto astral. Escondidos os moradores de rua, esta gente feia e sem banho, a cidade ficou bonita segundo este choque de gestão.
Mas as coisas foram além: era preciso ter uma cidade “limpa! E então começou a pintar todos os grafites que enfeitavam a cidade. Eram obras de arte de rua, algumas assinadas por artistas reconhecidos internacionalmente. Passou tinta cinza por cima: limpando… Tudo ficou cinza! Será que alguma teoria psicanalítica pode explicar esta preferência pelo cinza, quando seu partido é todo azul???
Seguiu-se a genial ideia de derrubar os prédios, isto é, as residências das pessoas que moram, para seu azar ou para sua alegria, na região que recebeu o nome de Cracolândia. Para acabar com o vício, nada de tratamento. A saída é passar máquinas por tudo, uma política de terra arrasada, obviamente aberto o espaço, um terreno disponível para os grandes empreendimentos imobiliários… Não se sabe para onde foram enviados os que perderam suas casas; não se sabe para onde iriam os outros que não perderam suas casas porque uma liminar suspendeu as obras. Temos lá mais uma obra inacabada do choque de gestão.
Agora temos um novo “choque”: as crianças das creches, das escolas de educação infantil, das escolas municipais de ensino fundamental estavam repetindo o lanche!!! Em nome do combate à obesidade, eis que o Sr. Prefeito determina que toda criança que fez seu lanche receba uma marca em tinta para que não repita a refeição! Até agora eu sabia – mas deixei de saber a partir deste grande choque – que uma criança somente come se estiver com fome! Pois não é que comer para matar a fome corre-se o risco de obesidade? É o que todos devem compreender! Crianças que chegam à escola com fome e que querem repetir não mais poderão: estarão devidamente marcadas. Marcadas com tinta… tudo porque o Senhor Prefeito está em luta acirrada contra a obesidade infantil…
Como estou aturdido, não sei o que pensar. Estaria o Sr. João Doria completamente louco? Estaria seguindo o caminho de outro líder de seu partido, o Sr. José Serra, caminhando direto para fora da casinha? Ou estas políticas públicas que constituem o tal choque de gestão? Bem que coxinhas e arredores podiam explicar isso para gente ignara como eu, que não compreendo o óbvio e o ululante.
por José Kuiava | ago 23, 2017 | Blog
“Quem não ama o bem?” Leônidas Andreiev é perspicaz ao iniciar seu conto “ A conversão do Diabo” com esta pergunta. Inoportunamente, poderíamos fazer a pergunta do seu contrário, do seu oposto, assim falaríamos o mundo dialético dialeticamente. A pergunta seria: quem não rejeita, não odeia o mal? Se todos, absolutamente todos os seres humanos, já em idade de juízo, tivéssemos que responder estas perguntas, o que diríamos? Com certeza, diríamos que amamos o bem, quer dizer, glorificamos os bons, os honestos, os justos, os leais, os que dizem e proclamam a verdade, os amorosos, os solidários, os que cumprem as leis, os que pagam os impostos, os trabalhadores, enfim, todos os dedicados ao bem. Diríamos, também, que odiamos, rejeitamos e condenamos o mal, ou seja, os seres humanos ruins, os criminosos, os perversos, os corruptos, os ladrões, os sonegadores de impostos, os subordinadores, os mentirosos, os assaltantes, os assassinos, os impostores, os injustos, os falsos, os exploradores das forças de trabalhado dos outros. E estas respostas seriam verdadeiras na teoria e na prática, na vida real existencial? Ou seriam respostas de aparência?
Bem, e por falar de aparência, a lavagem a jato de carros, máquinas, pisos, paredes, prédios é uma lavagem por fora, externa, rápida e apressada, quer dizer, uma lavagem de aparência. Deixar limpo e bonito na superfície. Nas lavagens a jato são usadas máquinas e equipamentos de alta tecnologia, que ejetam água e ar em alta pressão, via de regra, com água ensaboada. Tudo precisa ser rigorosamente fechado – portas, janelas, vidros, capôs, telhados – para não penetrar água no interior dos carros, das máquinas e equipamentos, nos prédios. Em suma, o interior não é lavado quando se lava a jato. O interior dos carros fica sujo, embarrado, empoeirado, malcheiroso. Quem vê o carro lavado a jato fica encantado pela limpeza e beleza externas, de aparência.
E a Operação Lava Jato, o que é? Quem deu esse nome e por que? Em quais circunstâncias e situações históricas reais foi instituída? Em que conjuntura política foi instituída a Operação Lava Jato? Quais as intenções e as finalidades enunciadas (falsas?) e quais as finalidades ocultas (verdadeiras?) intencionavelmente sigilosas?
Se a analogia da denominação fosse interpretada em seu sentido literal – redes de postos de combustíveis e lava a jato eram usadas para lavagens de dinheiro em bilhões de reais provenientes ilícita e ilegalmente da Petrobras – a Lava Jato danificaria, destruiria por completo as cédulas de dinheiro de papel, que não estavam sujas realmente, mas tomadas de maneira suja. Porém, “lavar dinheiro” – fazer “lavagem de dinheiro” – é uma analogia que significa “legalizar” dinheiro roubado das contas do Estado, por intermédio e ação de empresários, políticos, operadores financeiros, funcionários públicos, com aquiescência do Poder Judiciário. Nos quinhentos anos de história do Brasil, a Operação Lava Jato é a primeira e única em sua intensidade e seu tamanho. Alguns especialistas e entendidos em assuntos de corrupção andam dizendo e anunciando que a “Operação Lava Jato” é a maior ação de investigação, condenação e prisão de corruptos que o Brasil já teve. Não que o Brasil não tivesse corrupção, roubo, “lavagem de dinheiro”, “caixa dois”, ao longo dos seus tortuosos caminhos políticos. Fato interessante, a “Lei Anticorrupção” foi aprovada recentemente – 2013 – e instituída e deflagrada em março de 2015, por mérito do governo dos trabalhadores.
Mas, o nó da questão não está nesta imagem da aparência do poder soberano – poder de toga – do Juiz Sérgio Moro. A questão está na esfera ideológica onde, nesta escala, a Operação Lava Jato esconde, oculta a sua essência, o seu modo de agir como campo de batalha e de luta pela hegemonia da classe dominante, ao gosto e sabor das organizações empresariais das elites do capital, das organizações políticas neoliberais e da grande mídia, esta, a imprensa, de poder supremo na manipulação dos fatos para a formação da opinião pública. Neste campo de batalha das denúncias, das “delações premiadas”, das provas materiais e testemunhais, das defesas, das notícias à opinião pública, dos julgamentos e condenações, as elites precisam se manter coesas enquanto bloco histórico do poder. Elas, as elites, precisam da hegemonia – poder e direção – consentida pela aliança da sociedade política e da sociedade civil nas instâncias do poder do planalto – Executivo, rigorosamente imbuído de autocompetência e vestido de terno e gravata; Legislativo, de uniforme da democracia plena na compra e venda dos votos; Judiciário, de toga e poder soberano, condenando os políticos das classes trabalhadoras, inocentando e absolvendo os corruptos, os corruptores e os ladrões de terno e gravata. É verdade, a Operação Lava Jato é um fato histórico autêntico de investigação e conjetura de seletividade dos crimes de políticos e empresários, em que o critério de condenação ou absolvição é a vinculação de classes sociais dos acusados e investigados. A prova está na expressão dos juízes: “isso não vem ao caso”, quando o acusado é do PSDB, PMDB, DEM … e a condenação dos acusados do PT, mesmo sem provas reais e verdadeiras.
Agora, falando numa linguagem clara, exata, visível e consistente, é preciso dizer, salvo engano, que a Operação Lava Jato foi concebida e nasceu como “Lei Anticorrupção” e logo, após a derrota dos neoliberais nas urnas, sob o comando, a investigação e o julgamento do supremo poder de toga de Sérgio Moro, se metamorfoseou em operação para destituir o PT do poder da nação – classe dos trabalhadores – primeiro com o golpe do impeachment destituindo a Dilma da Presidência, sob a falácia da democracia constitucional, agora, de forma cada vez mais nojenta, a Operação Lava Jato quer impedir o Lula a voltar à Presidência em 2018. Enquanto isso, Temer conseguiu a união quase total dos brasileiros: mais de 95% querem sua condenação.
O resto, a história contará
por João Wanderley Geraldi | ago 22, 2017 | Blog
Os acontecimentos de Jacarezinho, com seus vários dias de uma verdadeira guerra, com as pessoas estocando alimentos para evitarem ter que sair de casa por não saberem como será o dia de amanhã, na operação que a comunidade já batizou de “Operação Vingança”, é reveladora do esgarçamento a que chegou a sociedade brasileira.
Antes de tudo é preciso dizer que a própria existência de uma favela já resulta da estrutura social brasileira que não conseguiu ao longo do século XX e começos deste século ultrapassar as consequências do regime escravocrata. Políticas de inclusão social foram apenas iniciadas nos governos populares (imediatamente chamados de “populistas” pela elite e pelos seus letrados cujas penas estão sempre dispostas a fabricar conceitos para manter o regime de privilégios). Deste “populismo” resultou a CLT, que o governo atual engavetou para sempre com sua Reforma Trabalhista, isto é, com a desistência do Estado de ser mediador entre o capital e o trabalho, função máxima para qual existe na sociedade capitalista. Deste mesmo chamado “populismo” emergiram as políticas de distribuição de renda com aumentos sucessivos da renda do trabalhador, os programas que combateram a fome (mas este governo em pouco tempo já recolou o Brasil no mapa da fome!), os programas educacionais que incluíram desde cotas até aumento inacreditável de vagas nos cursos superiores. Tudo acabará no decorrer deste ano e do próximo: afinal, qualquer programa que inclua o povo neste país será imediatamente chamado de “populista”.
Donde, a existência da favela é já uma denúncia. E agora esta guerra em que se vinga a morte do policial Bruno Guimarães Buhler – e não estou dizendo que isso não foi um crime – vem fazendo vítimas que são moradores infelizes num lugar que não deveria existir.
Mas que isso tem a ver com o fascismo? Pois não é que recebo a seguinte mensagem, assinada por Fernando Horta:
Querem unir este país e deixar os fascistas do lado de fora?
Juntem-se todos, juízes garantistas, promotores, deputados, professores, artistas, ONGs de direitos humanos, jornalistas, classe média branca progressista, senadores, e vão para o Jacarezinho ficar do lado da população contra os absurdos do Cardeal crivella e seus verde oliva amestrados.
O Rio vira e o Brasil também.
O problema é que este individualismo tosco ensinou a cada um aguentar as humilhações sozinhos, como se fossem os “fardos bíblicos”. Precisamos resgatar o sentido de coletividade.
Edit 1: Para quem vivem me cobrando para “dizer o que fazer”. Este é o momento, quando a conjuntura oferece um momento de inflexão em que romper com a estrutura é eticamente justificável e coletivamente justo. Aí deve-se aplicar a força. Uma vez rompida a estrutura ela mesma se encarrega de propagar as ondas de choque a outros pontos e outros sujeitos, promovendo um efeito em cascata. Desde o golpe, perdemos, que eu tenha contado, uns quatro momentos deste. Eis mais um.
Ao propor o emprego da força, num choque que se propagaria para outros pontos e ao se perguntar – e implicar – que é impossível uma união de todos sem incluir os fascistas, esta mensagem seguida de inúmeros comentários, este que se assina como Fernando Horta está pregando o fascismo como uma solução, uma solução armada, para equilibrar o país!
O integralismo de Plínio Salgado e seus seguidores de camisas marrons, naquela versão tupiniquim (que me desculpe o povo tupiniquim pelo sentido que esta expressão adquiriu na língua), era “pacífico” perto das propostas de força que aparecem nas mensagens em circulação! Como se a “Operação Vingança” já não fosse um emprego da força!!! E um emprego de força que somente aumenta o esgarçamento da estrutura social, sem jamais a reequilibrar! Como pode um pensamento como este, nazifascista, ter uma memória tão curta? Tão tacanha?
E a reclamação de que eles estariam fora da “união de todos” é realmente de causar gargalhadas… como se eles não proviessem precisamente das classes sociais privilegiadas e por isso mesmo sempre no bojo daqueles que definiram e definem os rumos deste país, produzindo as favelas que não deveriam existir!
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