Bye, bye, Brazil! Eu vou pros States

Os dias do Salvador da Pátria, da Esperança Renovada, do Agente de Direitos à Excepcionalidade, enfim, os dias de nosso santo juiz Sérgio Moro não têm sido o que esperava depois de se ter tornado este líder festejado a torto e a direito pela direita brasileira.

Acontece que as testemunhas convocadas para apresentarem provas contra Lula, mesmo que somente testemunhais, não estão colaborando como deviam! Todas o estão inocentando. E assim não dá para trabalhar. Trabalhar contra nossas convicções sempre foi algo penoso, e penoso para o juiz Sérgio Moro somente o peru!

Ainda por cima, os novos delatores do Odebrecht estão querendo mais do que deviam: denunciar tudo e todos, numa lavação de roupa suja que abrange os até agora protegidos. Então será mesmo necessário investigar ilustres membros do PSDB? Assim não dá! Como agir contra o próprio partido?

E como se não bastasse, vai esta Câmara que já lhe prestou serviços ao votar pelo impeachment de Dilma, garantindo noutra ponta o que a Lava Jato garante do outro lado – a quebra das empresas brasileiras para que não concorram com as empresas norte-americanas – vem agora votar regras para punir abusos de autoridades! Ora, a autoridade augusta de um juiz não se pode por em discussão! Usos do poder não são abusos de poder, e quando são usos fora da lei não faltará um Tribunal de Recursos que em vez de revisar simplesmente concede poderes excepcionais. Ponto. Que está pensando esta Câmara? Que pensa este Legislativo?

Como disse Moniz Bandeira, em entrevista ao Jornal do Brasil, a PGR e o juiz bebem na matriz e trabalham para a matriz: 

Ainda assim com todos estes percalços de somenos importância, o santo juiz tem direito à diversão. Ria a bandeiras despregadas enquanto conversava com Aécio Neves na festa Inovare da IstoÉ, também conhecida por QuantoÉ.   Provavelmente Aécio lhe contava alguma história do Joãozinho (ou do Lula, a que ele chama na intimidade de Nine). Isto mesmo: o convescote de risos era da dupla Moro/Aécio. E Aécio foi, várias vezes, referido nas delações arrancadas por Moro com as prisões preventivas indeterminadas. Acontece que  Aécio sabe: o santo juiz não determina investigação contra companheiros partidários, e toda vez que é obrigado a ouvir o que não quer, responder “Isso não vem ao caso” de modo a salvá-lo.

Entretanto, novamente um percalço na vida do santo juiz: os fotógrafos são muito indiscretos e não só o pilharam a comemorar junto com denunciados na operação que conduz, como espalharam a fotografia nas redes sociais, onde ela virilizou…

Por tudo isso, a gente compreende as razões que o levaram a fazer saber, do alto de sua arrogância e de sua lealdade para com a matriz, ao distinto e boquiaberto público que pretende entrar em licença sabática para estudar onde descobriu tanta coisa, aprendeu tanto e para onde está carreando recursos na forma de multas das empresas brasileiras que devem reembolsar lucros cessantes dos acionistas da Petrobrás, porque o capitalismo não é de risco quando servidores fieis ajudam os donos do dinheiro da sua matriz.

Pois volta para os EEUU! Lá esperará a melhora do ambiente para retornar e terminar a missão: prender Lula.

Enquanto isso, algum outro juiz federal deverá despachar na sua Vara! E ficará encarregado do arquivamento das novas denúncias cujas investigações que não acontecerão.  

Nosso Salvador voltará em 2018, cheio de informações, pronto e disposto a completar sua obra de destruição da economia brasileira, da autoestima brasileira, do emprego dos brasileiros, das empresas brasileiras, da Constituição Federal.

E então nos dirá “EU FICO” e teremos todos um novo Fico para festejar.

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.