BOLSONARO NÃO QUER SER UMA RAINHA DA INGLATERRA NO BRASIL

Por gentileza, não falem e não digam que estou inventando e contando histórias falsas, inverídicas, mentirosas e maldosas. Pasmem todos e todas. O presidente Bolsonaro acabou de falar e dizer que “não quer ser transformado em uma rainha da Inglaterra, que reina, mas não governa”.

Indignado e puto da cara com senadores e deputados, que não querem aprovar os seus descalabros – decretos e projetos –  ele falou no dia 22 de junho último: “Pô, querem me deixar como uma rainha da Inglaterra? Este é o caminho certo?”

O Bolsonaro está certíssimo. A rainha da Inglaterra Elizabeth II é elegante, educada, respeitosa, nobre, democrática, delega poderes para o primeiro ministro governar a Inglaterra. Aí, o  Bolsonaro teria que ser assim para ser transformado numa rainha da Inglaterra. Impossível. Com certeza científica absoluta, não consegue ser uma rainha. Nem no Brasil.

Por conta de suas más, pífias, conflituosas relações com deputados e senadores, o presidente se sente cada vez mais traído pelos seus amores matrimoniais com deputados e senadores – “o legislativo, cada vez mais, passa ter superpoderes”, lamenta. Aos infiéis no amor, lembra que a união do Executivo, Legislativo e Judiciário deve ser harmoniosa, amorosa, um verdadeiro pacto, vindo do coração. “Com todo respeito, nem precisava ter um pacto. Isso precisava ser do coração, do teu sentimento, da tua alma”. Este é o jeito amoroso estratégico para conquistar o voto dos deputados e senadores na votação dos decretos e projetos no Congresso. Quando precisa, ele se declara e finge de amoroso. Não é a qualidade, não são os valores sociais que precisam ser aprovados, simplesmente porque não existem nos projetos.

Na verdade, Bolsonaro reconheceu que seu governo tem problemas graves de articulação política na Câmara dos Deputados e no Senado. “Eu levo pancada o tempo todo”. Segundo a sua própria pedagogia, o adversário político é um inimigo, logo, bala nele! Quer dizer, prisão! Aí, precisa da fidelidade matrimonial dos três Poderes. Que na verdade, é o poder das elites do capital.

A falta de conversas dialógicas do Bolsonaro e de sua equipe – a arte e o poder dos argumentos – com os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado é notória. E mais, neste cenário está colocando em jogo perigoso os interesses das elites do poder econômico, as elites nacionais e as estrangeiras. O nervosismo raivoso, nos bastidores do palco nesta conjuntura, está acirrando as crises já em estado de insegurança e descontrole.  A troca frequente e permanente de ministros, diretores, secretários e assessores, durante os seis meses de governo, com frituras em público, está revelando a fraqueza e a incompetência de um governo autocrático.

Para aprovação das suas obras geniais, Bolsonaro conta com a força bruta dos deputados armamentistas – “bancada da bala” e “bancada do boi”. O direito da posse e o direito do porte – e do uso – de armas é a grande força de redenção do Brasil. É possível que Bolsonaro tenha aprendido a velha e trágica lei do poder e da necessidade das armas, durante as poucas lições de história que teve na vida. Aquela lei que os imperadores romanos inventaram e praticaram quando invadiam civilizações e povos, ou quando tiveram seus reinos invadidos pelos “bárbaros”, a exemplo dos seus antecessores gregos. “Si vis pacem, para bellum”– isto é, “se queres a paz, prepare-se para a guerra”, em tradução literal.

Estranho, muito estranho: para acabar e liquidar de vez os criminosos e os bandidos é preciso estar e andar armado. Seria a mesma coisa que dizer: se você quer o amor do outro/a, encha-se de ódio. Ou, se você quer carinho e diálogo, empodere-se de violência e impostura.

Bem, para aqueles e aquelas que ainda não entenderam o espírito, o sentido destas histórias, vejam que as exibições de virilidade física, de atitudes corporais de habilidades de ataques e de defesas, são estratégias para conquistar aplausos das multidões. Em síntese: é a popularização de um governo autocrático. Mostrar o peito vestindo uma camisa da seleção brasileira de futebol, vestir camisetas, bermudas, chinelos, bonés… de pobre, e, pasmem, vestir camisa da Marcha para Jesus com os dedos engatilhando um fuzil, e  falar uma linguagem grotesca, chula… é querer que as multidões pensem e falem: “ele é igual a nós, é da gente, tem o nosso apoio…” É a maneira pedagógica de inculcar a ideologia dominante. É o processo de alienação das massas populares pelas forças das elites do poder – uma garantia da renovação do ultraneoliberalismo, frente às crises sucessivas por força das contradições do capitalismo.

Restam, então, a dúvida e a pergunta: para governar o Brasil com inteligência e competência, com democracia, prosperidade e benefícios sociais públicos para todos, o presidente precisa fazer flexões de pescoço e flexões de braço? Ou, será que ele faz flexões de pescoço porque já não consegue fazer flexões de braço, exatamente porque não sabe e não consegue governar o Brasil?

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José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.