Foi escrito por David Harvey e editado pela Boitempo um livro recente de profundos e supremos sentidos científicos da história atual dos homens. O livro é um mundo – presente compartido – recheado de verdades latentes que podem ser desvendadas e degustadas somente pela leitura lenta e vagarosa, em profundidade na penetração, por todos interessados em desmascarar os embustes impostos pelo ultra neoliberalismo impiedoso de hoje, pelos governos autocráticos. A leitura exige, requer, ousadia e audácia. Sinceridade. Leitura de um curioso. De um rebelde. Para aqueles e aquelas que já leram ou estão o livro, parabéns.
Antes de revelar o título, faço um pedido respeitoso e sincero aos afinados em plena e suprema harmonia com a ideologia “trumpkiana” e “bolsonarista”: por gentileza, e para o bem da humanidade, libertem-se dos preconceitos e das ignorâncias e leiam imbuídos e embevecidos da tolerância mútua.E acima de tudo, por força da consciência crítica.
Agora, sim, vou revelar o título do livro: “17 Contradições e o fim do capitalismo”. Mais um pedido: por gentileza, não me perguntem por que apenas 17 (ou tantas) contradições neste mundo de tragédias. E também, não me perguntem se realmente é o fim do capitalismo, e se for o fim, o que virá e como chegará o mundo após o capitalismo. Ainda por gentileza, libertários, leiam e reeeleiam o livro antes de anatematizá-lo, particularmente, os mais fiéis aos princípios de privatização e neoliberalização para maximização dos lucros por conta do estado capitalista autocrático.
Para aperitivo e degustação, vejam alguns enunciados, muito breves e sem interpretações e sem comentários.
“Crises são essenciais para a reprodução do capitalismo” Esta é a abertura do livro. “…Um livro potencialmente perigoso, mas fertilmente provocativo”. Assim termina o livro. E no meio está a riqueza.
Crises são momentos de transformação em que o capital tipicamente se reinventa e se transforma em outra coisa. E essa outra coisa pode ser melhor ou pior para as pessoas, mesmo que estabilize a reprodução do capital. Mas crises também são momentos de perigo quando a reprodução do capital é ameaçada por contradições subjacentes.[…]
É no desenrolar das crises que as instabilidades capitalistas são confrontadas, remodeladas e reformuladas para criar uma nova versão daquilo em que consiste o capitalismo. Muita coisa é derrubada e destruída para dar lugar ao novo. […]
As crises abalam profundamente nossas concepções de mundo e do lugar que ocupamos nele. E nós, como participantes e habitantes inquietos desse mundo que vem surgindo, temos de nos adaptar por coerção ou consentimento a um novo estado de coisas, ao mesmo tempo que, por meio de nossas ações e do modo como pensamos e nos comportamos, damos nossa pequena contribuição às complicações desse mundo. […]
Atualmente, as esperanças estão concentradas no capitalismo “baseado no conhecimento” (em primeiro plano, a engenharia biomédica, a engenharia genética e a inteligência artificial). […]
… Uma classe capitalista plutocrática cada vez mais consolidada permanece inconteste em sua capacidade de dominar o mundo sem restrições. Essa nova classe dominante é apoiada por um Estado de segurança e vigilância que não é em absoluto contrário ao uso do poder de polícia para dominar qualquer forma de dissidência em nome do antiterrorismo. […]
Mas é fundamental apontar alternativas por mais estranhas que pareçam, e, se necessário, apoderar-se delas, se as condições assim determinarem. Desse modo, podemos abrir uma janela para todo um campo de possibilidades inexploradas e não consideradas. Precisamos de um fórum aberto, uma assembleia global, por assim dizer – para refletir em que ponto se encontra o capitalismo, para onde se encaminha e o que deveria fazer a esse respeito. Espero que este livro sucinto possa contribuir para o debate.
“É o livro mais perigoso que já escrevi”, confessa levemente apreensivo David Harvey.
E é. Porém, precisa ser lido sem medo. Uma leitura saudável na busca contínua e perpétua pela novidade da subornação da economia à dignidade humana de todos e não ao lucro incontido de alguns poucos sem dignidade humana.
Então, vamos ler o livro, quem já leu, vamos reler?
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
O capitalismo se renova e se reinventa. Aqueles que perguntam o que poderia haver no lugar, os defensores do do caminho único possível esquecem que este sistema levou séculos para chegar a ser o que é e exigem que outras possibilidades já estejam prontas antes de começarem a ter existência. São empedernidos ignorantes que pousam de sábios tipo Miriam Leitoa.