Até o Ricardo Noblat? Aí já é demais

Como dizem alguns, um chute nas partes baixas do Excelentíssimo Senhor Presidente Usurpador quebraria todos os dentes de Noblat, que se notabiliza por ser um colunista defensor do impeachment, e mais do que defensor de Michel Temer. Não se trata de um discurso proferido por uma servidão voluntária. É doutrinário. É paixão mesmo.

Nunca o leio. Mas hoje fui levado a ler sua crônica em função do título: “Mais um tropeço de Temer”. Bom, sempre que se diz “mais um” se diz que houve outros muitos… Claro que para Noblat, estes outros muitos são poucos! Para mim, só há tropeços desde sua entrada para a presidência, a partir de uma traição à presidente Dilma, com a qual foi eleito vice-presidente. Em tempos muito antigos, as chapas eram independentes… Vota-se para Presidente, e votava-se para vice! Mas não foi o caso de Temer… talvez se fossem chapas independentes, ele ainda assim poderia ter sido eleito, mas a julgar pelos fiascos das candidaturas à presidência do PMDB, mais provável é que sequer chegasse ao Palácio Jaburu em 2014.

Qual o tropeço de Temer apontado por Noblat? Pois comenta este colunista de O Globo o seguinte enunciado proferido por Sua Excelência em encontro com empresários:

– De vez em quando há certa instabilidade institucional. Como não temos instituições muito sólidas, qualquer fatozinho abala as instituições. Então, o investidor fica assustado.

Pois para Noblat, nossas instituições são muito bem enraizadas. E seu argumento é que passamos por dois impeachments de presidentes sem que a casa caísse. Obviamente, ele esquece que mesmo aqueles que votaram a favor do impeachment da Dilma reconhecem que não havia crime de responsabilidade, de modo que nossas instituições são coisa muito maleável segundo os interesses momentâneos de um ou outro grupo.

E pior: desta vez Michel Temer tem razão. Seu apoio aos interesses privados de seu ministro-chefe do Gabinete Civil causaram espanto, já que elle veio para acabar com estes compadrios, com a corrupção, estabelecendo a moralidade na condução da coisa pública (e privada, obviamente) e prometendo mundos e fundos de desenvolvimento econômico. Não adianta ele dizer que sugeriu enviar a AGU a questão em função de posições distintas entre a delegacia regional baiana e a direção nacional do IPHAN. Se toda a vez que um órgão nacional contraditar parecer de suas regionais – que lhe são subordinadas – e isso for para a AGU, então a administração de qualquer setor num país continental será inviável. A sugestão de remessa a AGU, feita por Temer, não é sugestão, é ordem! E interferência indevida em processos com tramitação institucional prevista.  Mais uma vez elle tem razão: não temos instituições muito sólidas.

Como Noblat termina seu texto dizendo que temos duas alternativas para chegar até 2018 (na verdade até janeiro de2 019): continuar com Temer ou eleger um presidente no Congresso, estou achando que os ratos estão abandonando o navio… mesmo ratos tão habituados a estar de joelhos com a boca perto do poder esperando suas graças e algum benefício para seus patrões e para si! 

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.