As promoções das farmácias: desconto de 50%, 70% e por aí vai

Faço uso de remédios de uso contínuo. Alguns deles eu poderia obter nas farmácias populares, mas tenho vergonha na cara: considero que os remédios subsidiados pelo governo destinam-se àqueles que não podem pagar, embora saiba que são precisamente os mais ricos que mais usam das facilidades proporcionadas pelas políticas públicas de assistência de um governo que eles combatem! Conheço pessoas com carrões importados na garagem que correm ao posto de saúde ou às farmácias populares para não terem que pagar seus próprios remédios.

Com o uso contínuo dos mesmos remédios, tenho comprado dentro das promoções das farmácias: em lugar de comprar uma caixa por um valor como R$ 50,00, compro três caixas por aproximadamente R$ 80,00! É promoção. Fico pensando naqueles que tem dinheiro contado e que só podem comprar uma caixa por vez! Pagarão caro pelo que é barato para a farmácia, porque em sã consciência ninguém acredita que uma farmácia que está vendendo com altos descontos está tendo prejuízo.

Há poucos dias, amigo meu, que está sempre me dando assistência nos problemas com o computador, me contou uma história! Ele estava com problema, e comprou numa farmácia uma cartela de comprimidos. O preço era R$ 28,00, mas com o desconto ele pagou um pouco mais do que R$ 23,00. Em sua loja de material de computação, recebe outro amigo que é vendedor da indústria farmacêutica que produz precisamente o remédio que acabara de comprar. O amigo lhe pergunta quanto pagou, e ele deu a informação. Perguntado quanto ele imaginava que a farmácia havia pago pela cartela de comprimidos, arriscou: uns R$ 15,00. O vendedor achou graça! A farmácia pagou por cada cartela deste remédio apenas R$ 1,80 porque se trata de uma rede e compra em grande quantidade, por isso teve um desconto, pois o preço normal do laboratório é de R$ 2,20. Ou seja, para um custo de R$ 1,80, um preço de venda com desconto de R$ 23,00!!!!!! É mais do que multiplicar por dez… Talvez esta seja a razão da existência de tantas farmácias neste país: uma em cada esquina! Nada é mais lucrativo do que este comércio da doença!

Moral da história: as farmácias não vendem, roubam. Porque roubam muito nos preços, podem oferecer descontos de 50%, 70%, 80% e às vezes até 90%!!!! Uma enganação enorme. Isto é o mercado, dirão os economistas bem postos… Isto não é comércio nem mercado, chama-se de abuso econômico. Mas para estes abusos não há lei a ser aplicada, nem policia fazendária, nem multa, nada, nadinha de nada!    

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.