AS IMAGENS PARA A MULTIDÃO

Vivemos uma civilização no mundo da imagem. As câmeras e os holofotes brilhantes captam imagens e retratam um mundo exterior real – paisagens, pessoas, multidões, tragédias e crimes ao vivo, ruas, cidades, esportes, enfim, a vida humana em jogo pela produção, reprodução material da espécie humana. Imagens da vida de uma sociedade autenticamente “fluida”. Vivemos e constituímos – querendo ou não – o mundo visto e mostrado por meio de câmeras e holofotes brilhantes nas telas em terceira dimensão. Um entretenimento irresistível – TV e celulares. Um mundo real encenado. Até as cenas uma vez sigilosas e restritas à presença dos próprios atores e personagens dos Tribunais de Justiça, hoje são filmadas e projetadas ao vivo para o público assistente. Claro, sempre e só quando ao gosto e interesses da elite.

A encenação do julgamento de condenação do Lula, filmada ao vivo no palco do Tribunal Regional de Porto Alegre foi uma festa de imagens de manipulação de fatos ficcionais, festa para a qual a verdade dos fatos reais não foi convidada. E não teve lugar para a verdade. A manipulação dos fatos reais tem se constituído na expressão artística mais elevada dos magistrados – vestidos de togas, ternos e gravatas impecáveis, o signo do poder judiciário. Cada um da suprema trindade de magistrados falou até 60 minutos cada, numa narrativa verborrágica, e o que mais se ouvia: “só estou dizendo a verdade”. “O Lula foi o garantidor do esquema de corrupção”. “O Lula foi o fiador”. Assim, a imagem da sessão de condenação deveria parecer justa para a opinião pública, sessão para a qual a verdade não foi convidada.  Quer dizer, não teve lugar.

No dia seguinte da encenação condenatória, temos o espetáculo televisivo e midiático – as imagens do Lula condenado, criminoso, inelegível. Assim, presidente do Brasil? Nem pensar. Um horror. Agora é preciso liquidar o prestígio político do Lula. Aí vêm as imagens. Uma cabeça enorme de Lula. Só a cabeça, de frente levantada para traz, o papo e pescoço enrugados, barba branca toda arrepiada, de fios enrolados, o nariz enorme, de narinas abertas vistas de baixo, parecendo bocas de saída de tubos de esgoto, rosto enrugado, olhos bem abertos de homem assustado, a mão esquerda no queixo com dedos bem abertos e sem o dedo minguinho, em primeiro plano da cena.  Enfim, um rosto velho, acabado. Construção de uma imagem de quem não teria as mínimas condições de ser presidente do Brasil.

Na mesma perspectiva ideológica imagética, num jornal de grande prestígio, aparece uma mulher velha, loira, de cabelos despenteados, boca aberta, olhos assustados e escancarados, chorando pela condenação do Lula. Ao lado dela, outra mulher de rosto moreno, cabelos lindos bem penteados, rosto jovem, riso ridente, muito alegre, festejando a condenação. Assim será nas campanhas das eleições de 2018. Imagens na televisão para o público espectador assistente. Uma inculcação subliminar da ideologia dominante.

                                                         Cascavel, 31/01/2018                                                                 

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.