No dia 25 de outubro de 2018, às 12 horas, o golpista Temer é internado no Hospital do Exército em Brasília. Uma coincidência providencial. Caso o Parlamento não inocentasse Temer, denunciado no Supremo Tribunal Federal – o que é de direito da justiça – ele estaria salvo e livre de prisão na segurança máxima da nação, em primeiro lugar por que estaria doente (de aparência ou não, isso não vem ao caso) e em segundo lugar, porque ninguém entraria no Hospital do Exército, cercado por militares e seguranças impedindo o acesso da imprensa.
As razões do internamento: crise renal, obstrução urinária, estreitamento do canal da bexiga, impossibilidade de urinar. Havia entulhos em excesso no canal da urina do Temer. Também, com tanta sujeira, tanto lixo, tanto entulho, tanto excremento, tanto baixo material no Palácio, no Parlamento e no Senado do Planalto, não há tubo de esgoto que aguente, quer dizer, canal de bexiga que resista.
Já ao anoitecer e de noite naquele dia, ao assistir o espetáculo nojento no palco do Parlamento da Nação, ouvindo as razões e os motivos de deputados que diziam “sim” ao relatório de absolvição do Temer, eu fui tomado por um sentimento de profunda e dolorosa tristeza. Primeiro motivo, pela falsidade e hipocrisia dos deputados que proclamavam “sim”, pois venderam caro e à vista o seu voto. Segundo motivo, pelo fato de eu não ter força juntamente com os 97% dos brasileiros e das brasileiras para impedir uma absolvição espúria, ilegal e ilegítima de um criminoso condenável por quem de direito – Supremo Tribunal Federal – escala do poder de, supostamente, praticar e exercer a justiça verdadeira.
Antes da votação do relatório prostituído, Temer pagou caro e de maneira deslavada pelos votos do “sim” aos parlamentares – usou 32 bilhões de reais do dinheiro de todos e pagou à vista e antecipadamente à sessão de sua absolvição. Legalizou seu ato espúrio na forma de emendas orçamentárias, dinheiro que os deputados usam nas campanhas para a reeleição. Além da distribuição do dinheiro comum para poucos, instalou um leilão de cargos, com privilégios ao agronegócio, propôs lei para proteger a prática do trabalho escravo – para amordaçar a escravatura –, liberou e incentivou a invasão e o desmatamento de áreas de reserva, perdoou dívidas bilionárias, enfim, legalizou o balcão de negócios do Planalto para sua própria absolvição, já condenado pelo poder da Justiça.
Chegavam causar nojo e náuseas alguns pronunciamentos dos deputados do “sim”: “quem vota “não” ao relatório, vota contra o Brasil”. Este deputado, que bradou em tom de ameaça, esqueceu de dizer que votar pela absolvição do Temer é votar a favor do Brasil corrupto e perpetuar uma sociedade injusta, desigual e uma política anti-ética.
Após a sessão de absolvição e após a desobstrução do canal urinário – crise urinológica – Temer proclama, com os dedos polegares eretos para cima, signo positivo, e diz que está “inteiro” e que a “verdade venceu”. Assim, agora ao vencedor, o canal urinário desobstruído. Sorri, de mentirinha, mesmo sabendo que goza de 97% de impopularidade dos brasileiros.
Enquanto assistíamos o espetáculo grotesco e catastrófico no palco do Parlamento, na arena do Supremo Tribunal Federal ocorria a gladiatura verbal de juízes. “Vossa excelência muda a jurisprudência de acordo com o réu. Isso não é Estado de Direito, é estado de compadrio. Juiz não pode ter correligionário”. Assim falou o Ministro do Supremo Luiz Roberto Barroso ao juiz Gilmar Mendes. Um enunciado verdadeiro, justo e necessário. Porém, enquanto isso, o juiz Gilmar Mendes, em poucos dias, trocou 46 ligações com seu amigo senador Aécio Neves, então denunciado e condenado por corrupção. E tem mais falas alucinantes do Gilmar Mendes: “Eu, por exemplo, me submeto a um trabalho exaustivo, mas com prazer. Não acho que faço trabalho escravo”. Defendendo a portaria escravista do Temer. Quem pudera, ele ganhando salários e benefícios acima de 40 mil reais por mês, enquanto os trabalhadores rurais escravos ganham 500 reais por mês, trabalhando de sol a sol, sem carteira de trabalho e sem direito a nada. Aí vale a lei: “não pode escravizar trabalhadores, porém se for para o agronegócio gerar mais lucro, escravize”. E o prefeito de São Paulo João Doria – PSDB – proclamou uma descoberta genial: “O pobre tem fome, não tem hábito alimentar”. E para saciar a fome das crianças pobres das escolas das periferias, ele foi genial: inventou a “ração humana para os pobres”. Isso mesmo, ração humana, aqueles grãozinhos “farinata” secos, feitos de alimentos com data vencida ou a vencer. É isso.
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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